“Tenho saudades vossas.” Confesso com ar triste ao meu irmão. Ele olha para mim e sorri-me.

“Nós também. Podes vir ter connosco sempre que quiseres.” Responde-me. “April, está tudo bem? Sinto-te distante, como estão as coisas com o James?”

“Está tudo bem, eu estou bem.” Digo.

“Eu sei que não estás. Podes falar comigo sempre que quiseres.” Encoraja-me a que desabafe com ele, Niall conhece-me, sabe que eu não estou bem. É demasiada coisa em que pensar, James, a nossa mãe, Harry, o trabalho. Sinto-me mentalmente exausta.

Estaciono o carro no parque de estacionamento da clínica psiquiátrica. Niall e eu entreolhamo-nos, rezando mentalmente para que o estado de saúde da nossa mãe seja estável, que ela esteja bem. Eu preciso que ela me reconheça, que não me confunda com Sarah, isso dói, dói demais. Oh Sarah… Como eu sinto a falta dela, como eu sinto falta da minha outra ‘metade’, da minha irmã gémea. Eu podia ter só três anos, três anos de pura inocência, mas as memórias continuam bem presentes na minha memória. Pergunto-me onde estará o meu pai nesta altura… Há anos que não o vejo, sei perfeitamente que ele sempre gostou mais de Sarah, apesar de nos amar às duas. Tal como para a minha mãe, a perda da sua filha foi demasiado traumático para ele. E eu? Eu sou apenas a pessoa que vai sofrendo sempre com as consequências destes actos. Um pai que não está presente na minha vida, uma mãe que está constantemente deprimida, constantemente fora de si. E ambos pelo mesmo motivo: a morte de Sarah. Tento não pensar no assunto, mas ponho-me a pensar: E se tivesse sido eu a morrer em vez de Sarah? Talvez se isso tivesse acontecido, eles ainda estariam casados, teriam ultrapassado a minha morte e cuidariam da Sarah com amor, aquele amor que eu nunca tive. Eu sei que a minha mãe me ama, apenas de uma forma diferente, apenas de uma forma que somente eu e ela entendemos.

“Em que pensas?” Niall interrompe o meu raciocínio.

“Sarah…” Limito-me a responder.

“Eu não sei pelo que estás a passar, eu não faço ideia do que é perder uma irmã, mas tens que ser forte April.”

“Acredita eu não tenho feito outra coisa se não ser forte. A verdade é que tu realmente não sabes o que é isto, esta sensação de dor. Não faço ideia de onde esteja o meu pai, a mãe… … bem a mãe está como está, tudo por causa da morte da minha irmã. Tudo por causa de Sarah.” Desabafo. “Mas valia ter sido eu a morrer.” Digo baixinho, na esperança de Niall não ouvir.

“Não digas isso! April, tu nunca digas isso!” Repreende-me pela barbaridade que acabou de sair da minha boca.

“É melhor irmos andando.” Afirmo enquanto saio do carro, Niall bufa.

***

“Olá, mãe.” Tomo coragem e digo para a figura sentada de costas para mim, observando a paisagem do outro lado da janela do seu quarto.

A minha progenitora não se vira de encontro a nós, continua com o olhar fixo na janela, o que me faz caminhar até mais junto dela.

“Mãe, como estás?” Tento chamar novamente a sua atenção, colocando a minha mão sobre o seu ombro.

Ela roda o seu corpo para nós, querendo perceber quem a chama. As rugas na sua cara fazem-me perceber que a nossa mãe está cansada, esgotada com tudo o que se está a passar.

“Niall…” Diz com uma voz fraca, enquanto olha para o meu irmão. Desvia o seu olhar para mim e examina-me, ficando-me a observar durante algum tempo. “April…” Sorri-me.

As palavras pronunciadas por ela geram um alívio enorme no meu corpo, ela reconheceu-me. Um sorriso bobo e estúpido está na minha cara, estou num estado de alegria enorme. Será que ela está melhor? Será que tudo está a ficar melhor?

X Justice X || h.s.Where stories live. Discover now