Jogo de confiança

By amarceleferraz

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Sara e Filippo se conhecem de forma inusitada. Em seu primeiro encontro, descobrem uma conexão que vai além d... More

01 - Vila Nova
02 - Ônibus não é boate
03 - Real Tech
04 - Carpe Diem
05 - Roger that
06 - Fibra Moral
07 - Alô, alô
08 - Omitir não é mentir
09 - Agarrando oportunidades
10 - Três conflitos
11 - Um Dilema
12 - Conexão 4G
13 - Desculpa pra beber
14 - Reunião incomum
16 - Novas sensações
17 - Tudo a seu tempo
18 - Tempestade e calmaria
19 - Transcendental
20 - Ele está de volta
21 - Quebra de confiança
22 - Penélope ardilosa
23 - Tentando esquecer
24 - A vida não para
25 - Onde o calo aperta
26 - À Moda antiga
27 - O Resgate
28 - Entre doses de tequila
29 - Que Pena, amor
30 - Intervenção
31 - Jogo de confiança
32 - Eclipse
33 - Recompensas

15 - Tudo do que precisava

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By amarceleferraz

Filippo até tentou uma nova aproximação ao fim do expediente, mas Freitas, que não queria assunto, sumiu do ambiente no segundo em que o relógio bateu 13 horas.

Se Filippo estava imaginando que ele era um fraco por se preocupar... Oras! Em que mais poderia pensar ao ver o amigo ser abduzido da sala de repouso para a de reuniões, por alguém que ele jamais vira? E depois essa de projeto novo. Projeto novo... Ah, tá... Tô aguardando ser chamado até agora – pensou. Se ele acha que vai sair na minha frente numa empresa que eu o ajudei a entrar...

Freitas estava altamente amargurado.

Na cachoeira, um lugar que parecia uma pintura em tons negros e cinzas, com sua piscina natural de pedras lisas, onde não se via o fundo, o nosso trio ternura, que já se cansara de tanto mergulhar, aproveitava agora os quitutes da cesta de piquenique e o vinho, que não poderia ser desperdiçado. Sara bebeu um gole, só pra brindar, lembrando que alguém dentre os três precisaria estar sóbrio pra dirigir de volta ao centro da cidade.

- Ah, mas é só uma garrafinha de vinho, e somos três, amiga, nem vai dar onda – insistiu a morena tatuada.

- Não, obrigada, prefiro ficar de bico seco a não ter mais bico pra contar história alguma.

- Te amo, Sara Lee, mas às vezes você é quase mãe da gente, devia ousar mais. Como é mesmo aquela frase que vovó dizia, gêmea? Aquela de ousar e errar...

- Não era a vovó... Era a Tia Cláudia...

- E quem você acha que ensinou a ela?

- Tá, tá... A frase era "quem não ousa não erra, mas quem não erra não aprende. É ousando que se aprende".

- Isso! Aprenda, Sarita! É ousando que se aprende! Tome aqui mais um gole!

Para evitar discutir, pois acreditava que ousar não tinha nada a ver com dirigir alcoolizado, Sara mordiscou um croissant recheado com queijo e um tempero que desconhecia e perguntou se a Neusa se incomodaria de dar a receita, porque aquilo ali estava dos deuses.

- Isso porque você não provou a torta de cebola!

E assim passaram mais uma hora, com Sara contando os minutos para voltar pra casa e resgatar seu celular. Nunca mais sairia sem ele se pudesse evitar.

Filippo estranhava o silêncio da garota, conferindo de vez em quando o próprio smartphone, mas sem se alarmar. Ela poderia ter ido às compras, por exemplo, ou estar atolada com pesquisas estudantis. Não, ele não daria vez a paranoias, porque não era do seu feitio. Fique tranquilo, você só está ansioso porque Sara é realmente incrível, concluiu ao chegar em casa.

Deitou-se em sua cama e ficou olhando para o teto, que fora recentemente emassado por causa de um vazamento, e era possível notar onde, pois o trabalho do pedreiro não tinha sido dos melhores. Definitivamente ele iria comprar tinta e resolver aquele visual tenebroso. Sempre fora um cara de ação, só andava um tanto sem tempo.

Virou-se de lado, e se deparou com a janela de alumínio barato, única coisa que se destacava nas paredes brancas e sem vida do ambiente, descascando em algumas partes... Talvez saísse mais em conta comprar cal... Contar moedinhas era o que fazia de melhor, mas isso ainda ia mudar, ele tinha certeza de que num futuro não muito distante sairia daquela vida paupérrima – bastava se formar, se esforçar, colocar todas as suas ideias em prática e... bem... talvez pedir um empréstimo? A parte do capital inicial ainda não estava clara em sua mente, mas ele chegaria lá, era inteligente, paciente e bastante focado, tudo daria certo, e dona Marilda seria beneficiada com uma vida tranquila, talvez num sítio em Nova Electra... Esqueça a parte de contar moedas, sonhar alto era, sim, uma de suas melhores capacidades, incentivada e – por que não? – ensinada por sua mãe.

E pegou um lápis para rabiscar mais ideias em seu caderno de sonhos e metas.

Já em casa, Sara, que desta vez tomaria banho de chuveiro, com direito a xampu e óleo corporal, correu a ler a resposta de Filippo no "jogo da verdade". Sorriu e respondeu "desejo" – hum, parece que alguém sabia ousar, hein, Jonas?

A resposta de Filippo foi quase imediata:

"Te conto mais tarde ao pé do ouvido."

Sara se arrepiou, arrependeu-se, motivou-se, sentiu certo medo... Não de Filippo ou da provocação, mas de estar se apaixonando tão rapidamente por alguém. Não fora assim com Roger, o único romance comparável em sua vida. Tá, ela também sabia que cada história é única, que o outro é um elemento imprevisível num relacionamento – ai, minha deusa, estava pensando em relacionamento? Para, respira... Ok, o outro é um elemento imprevisível numa escala de fatores onde é permitido se apaixonar. Isso, nada de se antecipar com rótulos. Se com Roger tudo fora devagar e deu no que deu, imagine o que poderia acontecer consigo se mergulhasse de cabeça numa relação. Não.

Às quatro e meia saiu de casa, pronta para encontrar um Filippo que, como todos nós sabemos, já a esperava na praça central, perto das mesinhas de concreto onde os senhores da cidade jogavam xadrez e gamão, segurando uma bolsa daquelas reutilizáveis, o que a deixou curiosa. Sentou-se no banco do carona do carro da mãe dela, um econômico prata, e foi guiando a garota até o tal local especial que imaginara para o segundo encontro. Então você me pergunta: Não tinham GPS? Waze? Um mapa? Mas a resposta de Filippo era das mais simples: não sabia o endereço, e não lembrava do nome do local.

Depois de muitas direitas, esquerdas e uma rotatória, os dois, que conversavam sobre preferências musicais – ele ficara abalado ao descobrir que ela gostava de K-pop e disse que a ajudaria a rever seus conceitos sobre os ritmos e letras que ela chamava de "mundo das trevas" – subiram um morro de caminho íngreme e circular, o que deixava Sara enjoada – imagine dirigir assim.

- Já estamos chegando? – ela perguntou ao fim da subida. – Preciso fechar meus olhos por algum tempo.

- Podemos estacionar aqui, se quiser, e continuar a pé depois que você melhorar.

Sem pensar duas vezes, Sara estacionou ao lado de uma pequena capela de pedra, e saltou do carro, encostando a cabeça em sua lataria. Filippo deu a volta e colocou uma lata de água tônica em sua mão, perguntando:

- Será que isso ajuda?

- Ih, não, querido... – os dois registraram o uso da palavra, ela com susto, ele com satisfação – ...essa coisa de que água tônica cura enjoo é puro mito, ainda mais quando se fala de cinetose.

- Cinetose...?

- Esse tipo de enjoo que se dá quando em movimento; carro, ônibus, barco viking do parque de diversões... Anda, vamos, eu continuarei de olhos fechados e você me leva pela mão para onde temos que ir.

- Tem certeza disso?

- Claro, vamos! – E esticou a mão esquerda.

Ao entrelaçar seus dedos aos dela, Filippo se sentiu mais seguro do que em qualquer momento anterior com Sara. Sugerir caminhar às cegas com ele era um incrível sinal de confiança.

Sara não pôde ver o caminho, contudo, podia senti-lo. A experiência para ela era extraordinária, como ir àquele restaurante no Rio de Janeiro, em que se comia vendado. Lá, cada gosto, cada som, cada momento se tornava ainda mais especial. Ali, com Filippo, não poderia ser diferente. Enquanto avançavam, tentava adivinhar o que não via. O cheiro a lembrava mangas, então desenhou em sua mente altas mangueiras ladeando um caminho de paralelepípedos, notados pelas constantes vezes em que precisaram parar para desencaixar os saltos de seus sapatos de algumas das pedras – por que Filippo a recomendara sobre o uso de calças para o passeio, mas não falara nada sobre sapatos? Homens pecam em cada detalhe...

- Chegamos, e sugiro que você abra os seus olhos, ou perderá o pôr do sol mais bonito de Nova Antares.

- Impossível, o mais bonito é em... uau!

Estavam diante de uma clareira, e ali não havia mais paralelepípedos, mas terra seca. O ambiente parecia ter sido feito mesmo para visitação, pois contava com um banquinho de madeira e canteiros de flores, ora verdes, ora de cor bordô, que Filippo disse se chamarem "crista de galo". Também explicou que o local fora moda da cidade há uns 30 anos, mas que hoje andava esquecido. Só o conhecia por conta da indicação de uma cliente mais idosa.

E Sara agora se arrependia por ter pensado que homens não sabiam nada sobre detalhes, já que sapatos valiam pouquíssimo frente àquele visual tão sublime e delicado; passou por uma estreita área, ladeada por guarda-corpos feitos com troncos de árvores, ficou descalça, e correu até a borda do que descobriu ser o Mirante da Estrela.

- Tá escrito aqui, lindeza! Perto dessa luneta! – gritou.

Ela o chamara de "lindeza", mas ele não sabia que era apenas uma expressão que usava com quem tinha certa intimidade, então se sentiu mais confiante. Foi até ela, largou a sacola no chão, e lhe deu novamente a mão.

Sara sorriu para ele:

- A impressão que dá é que daqui se vê toda a cidade... O visual é lindo! E neste pôr do sol, laranja e rosa, nossa... Obrigada por escolher este lugar!

E lhe beijou. Um beijo longo e ritmado.

Ai, que saudades desta boca, desta pele, deste cabelo, desta cintura, deste desassossego, desta disritmia... Filippo não queria mais nada na vida. Neste momento, todos aqueles planos pra reformar o quarto, se formar, conseguir um empréstimo, criar um aplicativo, vender o aplicativo por um valor alto, abrir a própria empresa e viajar o mundo caíam por terra, eram apagados de sua mente, porque Sara, Sara era tudo do que precisava.

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