32 - Eclipse

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— E aí, já podemos marcar o casório? – perguntou Freitas, quando, depois de longos beijos, o casal resolveu voltar ao convívio dos outros, de mãos dadas.

— Não seja obtuso – Angélica o repreendeu, com uma sinceridade desnecessária. Algo a incomodava naquele Freitas, mas ela não tinha concluído o que era.

— Epa! – Jonas exclamou. – Sinto que estou sobrando mais uma vez! E hoje sou castiçal!

— Ah, tá bem. – Angélica cruzou os braços.

— Ih, nem vem, amiga. – Riu Sara. – Você sabe que seu radar funciona muito bem.

— Acho que estou perdido no assunto... – Filippo entrou na conversa.

— Somos dois, meu irmão – disse Freitas. – Que porra é essa de radar?

— Implicância dos dois comigo, você não ia querer saber.

Antes que Freitas pudesse responder à Angélica, Jo-Jo, sensato, interrompeu:

— Bem, pela carinha marota do casal, eu acho que essa é nossa deixa pra sair de cena. Conversamos depois, tá bem, Sara Lee?

— Usem camisinha! – Piscou Freitas.

— Mas que desnecessário! – Angel mais uma vez o repreendeu.

— Usar camisinha? – Freitas se fez de desentendido.

— Ai, socorro! – Jonas pediu ajuda. – Vamos embora logo! – E empurrou de leve os dois em direção à porta.

— Obrigada pela trilha sonora, Freitas! – Sara agradeceu.

— Que trilha?

— Lá da cozinha dava pra ouvir as músicas que vocês estavam tocando aqui na sala, parceiro. Valeu.

— Não por isso, irmão!

E os três saíram da casa, deixando Sara e Filippo livres para uma noite em que ninguém pretendia dormir.

***

— Ei! – Jonas teve uma ideia. – Está cedo, somos jovens, solteiros, e estamos lindos e animados...

— Já sei, bora sair pra beber?

— Exato, gêmea!

— Eita... Então vocês gêmeos leem mesmo a mente um do outro?

— Claro que não – respondeu, aborrecida. – Jo-Jo só apresentou uma ideia óbvia de forma longa.

— Pelos doze deuses olímpicos! Respira, irmã, e desliga o botão da implicância!

Mas a mensagem demorou a ser recebida. Angélica só se esqueceu do quanto estava incomodada com Freitas depois de algumas caipifrutas, quando os dois resolveram convencer Jonas a convidar Raphael para se unir a eles.

— Anda, gêmeo, estamos em grupo, o que pode acontecer de desagradável? Se não rolar clima, seremos apenas quatro amigos curtindo a noite.

— Ou três... – Freitas se levantou e acenou pra uma garota que saía da pista de dança.

— Por enquanto é o que somos mesmo – zombou Angélica, puxando-o de volta para a cadeira –, a menina está acompanhada daquela outra, acho que você não tem chances.

— Vai que... – Sonhou ele.

— Vocês homens são nojentos!

— Ei! – Jonas exclamou, ofendido.

— Para, você não conta.

— Porque sou gay?

— Não, porque é meu irmão. – Ela pôs as duas mãos na cintura. – Acorda, belezura! Quando eu ia te deixar de fora de qualquer coisa por sua orientação sexual?

— Ah, bem, desculpe.

— Só se você chamar o magia pra cá.

Magia seria o Rapha? – Freitas esperou a confirmação de Angélica e continuou, olhando pro amigo: – Quer que eu chame, pra ter menos pressão?

— Não. Ficaria muito chato... Ele já me deu uma indireta, eu é que não respondi.

— Então a hora é essa! Se joga, meu, parceiro!

Jonas passou a mão no cabelo platinado. Pensou, virou-se para a irmã, que já olhava para ele com as feições animadas, cotovelos sobre a mesa, do jeito que sua mãe odiaria, e fez que "sim" com a cabeça, o que provocou largos sorrisos e um brinde. Depois de um tempo digitando, mostrou a mensagem que enviaria, pedindo aprovação:

"Oi! Estou aqui na Eclipse e pensei em você, quer vir?"

— Esse tempo todo pra tanta simplicidade? – reclamou a irmã.

— Tinha que parecer casual... Mas também mostrar algum interesse...

— Tipo o Freitas, com a boate toda? – ela questionou, apontando pra mais uma tentativa frustrada dele de conseguir a atenção de uma garota.

— Blá, isso é só porque não fui conversar com ninguém... Manda logo essa mensagem, cara!

Ele o fez, e a resposta de Raphael foi quase imediata:

"Depende... O quanto você já bebeu?"

"Nada, fui sorteado o motorista da vez."

E recebeu um sorriso em retorno.

— Acho que ele vem!

— Ótimo, meu camarada! – Bateu em seu ombro. – Então vou ali... Não precisam me esperar, que do jeito que ela está me olhando, hoje tem. – E se dirigiu a uma garota de cabelos verdes no bar.

— Embuste... Boy lixo – resmungou Angélica.

— Agora é tarde pra perceber o que seu radar estava sinalizando, bisca.

— Afe. – Ela fechou a cara, só voltando a irradiar um sorriso quando o magia, opa, não! Quando Raphael chegou.

Depois das apresentações e de alguns minutos de conversa, pra não parecer indelicada nem atrapalhar a paquera do irmão, Angel anunciou:

— Meninos, se comportem, porque sei que eu não vou! – Piscou para os dois e se jogou na pista de dança.

Sorrindo, Rapha foi direto:

— Fiquei surpreso com a sua mensagem. Depois de tantos dias, pensei que não tivesse interesse.

— Acho que demorei pra avaliar o risco. – Jo-Jo estava ardendo de contentamento.

— Gosto da sua sensatez... – Rapha ajeitou os óculos na ponte do nariz.

— Só dela?

— Tem outras coisinhas que me agradam, mas a gente vai se conhecendo aos poucos, fora do ambiente de trabalho, quero dizer, e naturalmente você vai saber. – E colocou a mão sobre a sua, fazendo um leve carinho.

Aquele momento era quase um sonho para Jonas. Esperar por alguém especial, sozinho, cuidando apenas das suas meninas, tinha valido a pena. Raphael disse "a gente vai se conhecendo", sinal de que não queria apenas uma noite. A vida era bela. Bela como um eclipse.

Jogo de confiançaWhere stories live. Discover now