28 - Entre doses de tequila

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A semana passou corrida, mas não impediu Jonas de observar a cordialidade e atenção de Raphael para com todos os funcionários, o que o deixava cada vez mais encantado.

Será que havia restrições quanto a relacionamentos entre colegas de trabalho? Não lera nada sobre isso em nenhum documento da empresa. Como perguntar, sem parecer óbvio ou passar por constrangimentos?

O treinamento seguia bem, as ideias de todos eram sempre ouvidas, e ele resolveu sugerir um happy hour com a equipe, dizendo que isso os ajudaria a formar laços mais estreitos, o que logo foi aprovado por unanimidade.

Mas a realidade era que, assim, poderia aproveitar a descontração do ambiente para sanar suas dúvidas e, quem sabe, conquistar um coração.

Contou os dias da semana seguinte, até a chegada da sexta-feira. No barzinho escolhido, um lugar com mesa de sinuca e jogos de tabuleiro, apesar de interessado em descobrir mais sobre as regras da empresa e Rapha, como já o chamava em pensamento, Jonas notou que Filippo não estava no ambiente. Se pensasse bem, não o via há uns dois dias, pelo menos.

E entrou em um dilema: lutar pelos seus interesses, ou descobrir o que acontecia no mundo que afetava Sara? Podia não ser nada, talvez o rapaz estivesse apenas gripado, mas ele não se sentiria bem sem saber da verdade, principalmente se ela ajudasse a amiga a correr atrás do tempo perdido e recuperar um amor.

— E aí, Freitas? – interagiu com o colega, que já estava em sua terceira dose de tequila e analisava as mulheres do local.

— Opa! Você também é tequileiro? Bora tomar uma! Ou várias! – Riu.

— Claro! – Pediu a sua, virando-a de vez após lamber um pouco de sal e finalizando o ato ao chupar uma fatia de limão.

— Isso aí! – Elevou seu copo ao ar.

A conversa começou aleatória e rasa, com brindes, sal, tequila e limão, mas logo Jonas conseguiu introduzir a dúvida que lhe tomava a mente: "onde estaria Filippo?"

— Ah, meu amigo – respondeu enquanto embraçava Jo-Jo –, obrigado por se preocupar... Ele está com problemas na família... A mãe dele sofre há algum tempo de um problema no coração e piorou. Está internada no Hospital Central... Devo passar lá no domingo, se quiser ir também... Alô, meu anjo! – mudou radicalmente de assunto e tom, ao ver uma garota bonita passar, e foi atrás dela, sem se despedir.

Vendo a feição de desalento de Jonas, mas sem conhecer o conteúdo da conversa, Raphael se aproximou:

— Achei que você soubesse que ele gostava de garotas... Ele faz todo o tipo machinho. E nem disfarça, como você pôde notar.

— Ah, eu sei, meu gaydar às vezes demora pra funcionar, mas não erra... Nosso assunto era o Filippo...

— Que também é hétero...

— Sim, ele é ex da minha melhor amiga. Eu estava investigando o seu sumiço.

— Ah! Mundo pequeno!

— Sim!

— É...

"Não deixe o assunto morrer, não deixe o assunto morrer", pensou Jonas, e falou sem filtro:

— Mas você não tem nada de hétero, não é mesmo? Posso notar...

— Digamos que eu goste de pessoas.

— Alguma em especial? – Era inacreditável, mas Jonas, depois de meses, estava flertando! A tequila o deixara preparado para o momento: estava calmo, mas com o pensamento ativo.

— Talvez... Estou analisando ainda... – Passou a mão pela nuca. – Vendo se vale o risco...

— Que risco?

— Você sabe, se relacionar com pessoas do mesmo ambiente de trabalho pode ser complicado.

— Mas não é proibido?

— Se fosse, como você agiria?

— Depende... Nesta hipótese eu já estaria completamente envolvido pela pessoa, ou apenas interessado?

— Interessado. Pensando em sair só os dois para se conhecerem melhor.

— Então eu respeitaria as regras da empresa. Há um mundo repleto de gente pra se interessar...

— A gente combina.

Jonas arregalou os olhos.

— Pensamos parecido – continuou Raphael, sorrindo. – Interesse não é suficiente pra arriscar perder o emprego.

Jonas continuou calado, absorvendo aquela verdade, quando Raphael pegou de leve em seu braço e quase sussurrou:

— Ainda bem que na Real Tech não é proibido. – E saiu para conversar com outro grupo.

— O quê?! – berrou Angélica, na sala da casa de Sara, no dia seguinte. – O seu gerente gato te manda essa e você não faz nada?

— Mas o que você queria que eu fizesse, gêmea? Agarrasse o cara ali, na frente de todo mundo?

— Eu teria agarrado.

— Mas é claro que teria... E a segunda-feira na empresa seria constrangedora, já pensou nisso?

— Hum... Gêmeos queridos, vamos parar com essa discussão que não vai nos levar a nada e começar a estudar?

— Nâo, diva, ainda falta te contar uma coisa. Sei que você diz não querer ouvir notícias sobre o Filippo...

Aquele lá?

— ...mas acho importante que você saiba desta: ele anda sumido do trabalho há alguns dias porque a mãe foi internada no Hospital Central. Ela sofre de alguma doença cardíaca e o seu caso piorou.

— Hum... Sabe o nome dela?

— Não, por quê?

— Pra gente mandar colocar em oração, irradiação, essas coisas.

— Ah, coloca o nome dele, então!

— É... Pode ser... Mais tarde eu faço. Vamos estudar, então?

— Sarita, você está bem?

Não, ela não estava, mas não queria admitir para os amigos o quanto ficara abalada com a informação. Ultimamente escondia a verdade sobre os seus sentimentos para evitar sofrer mais.

Mas Jonas e Angélica estavam de olho na situação. Tratavam-na como se de nada soubessem, pra evitar conflitos e maiores dores, mas entre eles, em casa, discutiam a melhor maneira de ajudar a amiga.

Sobre o caso atual, Sara já se decidira: no dia seguinte, iria ao hospital dar seu apoio a Filippo. Sentia falta dele, e assim seria capaz de demonstrar.

Jogo de confiançaWhere stories live. Discover now