16 - Novas sensações

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Sara estava nas nuvens. Aquele lugar, aquele beijo, aquele carinha... Nossa! Tudo mexia com ela, sentia-se à flor da pele. Ele colocou as mãos em seu pescoço e ela sentiu um arrepio que não correspondia ao gelo que elas estavam. Parou de beijá-lo por puro medo de gostar demais e disse:

- A gente vai ficar aqui até as estrelas aparecerem? Quero usar a luneta!

- Podemos ficar até você cansar de mim.

E ela, mesmo convicta de que não cansaria de Filippo tão cedo, apenas riu.

- Eu adoro essa sua risada, sabia?

- É engraçada, né? Eu sei.

- Não. É encantadora. Você fica ainda mais linda de nariz enrugadinho.

Ela sorriu com os olhos desta vez. E quando fazia isso, conquistava qualquer um a metros de distância; Filippo, que se encontrava a centímetros, estava condenado a amá-la. Mas se isto era uma sentença, queria cumpri-la até a próxima vida.

Então quer dizer que ele gostava daquilo que pra ela era um defeito? A única pessoa no mundo que já havia elogiado esse seu jeito de rir era o seu falecido avô, mas ela suspeitava de que era só para deixá-la feliz, durante a infância. Filippo, por sua vez, não tinha motivos para enaltecer sua risada, a não ser que fosse realmente verdade. Mais um ponto pra ele, numa lista invisível de razões para se apaixonar, que só aumentava.

Incomodada com esta percepção, ela mudou de assunto:

- E na sacola, o que você trouxe?

- Ah, espero que você goste... – E tirou de dentro dela uma toalha quadrada de renda branca, tão alva que poderia ter acabado de ser comprada, forrando, com ela, o chão. Sobre a toalha, queijo em cubos, chocolate amargo e suco de uva integral com refrigerante de limão, misturado na hora em uma taça, que ela iria adorar, segundo ele:

- Sei que normalmente alguém traria vinho para um encontro como este, mas eu pensei que dirigir alcoolizado, principalmente nessa estrada, não seria uma boa ideia. Além disso, estar de cara limpa com você e viver intensamente todas essas sensações tem sido tão único, tão diferente, que eu gostaria de colecioná-las na memória.

Mais um ponto, mais dois pontos, será que ele tinha saído de um conto de fadas? Será que ela resistiria a tanto charme e exposição sincera de sentimentos?

Conversaram sobre amenidades, que incluíam o piquenique fake na cachoeira com os gêmeos ("droga, então não fiz algo original?") e algumas histórias bobas de infância ("então eu escondi chocolate na roupa e deixei tudo cair à medida em que andava, na frente do dono da caixa de bombom..."), enquanto um alimentava o outro e a noite descia, majestosa. Sara chegou a tentar usar a luneta, mas descobriu que o melhor era fazer como Filippo, deitar-se de costas sobre a toalha (agora já sem os comes e bebes) e encarar o céu, sem medo de descobrir sua magnitude. Uma cidade com nome de estrela precisava ter algo de mágico, em algum lugar, e Sara descobriu ser ali, naquele silêncio confortável, com alguém que mal conhecia, se formos nos ater somente a datas, mas com quem já se sentia tão tranquila.

De mãos dadas, ele brincava com seus dedos, e sugeriu se utilizarem do jogo da verdade pela primeira vez ao vivo e sem direito à edição ou revisão textual.

- Mas você ainda não disse ao meu ouvido o que deseja... – arriscou ela, mordendo o lábio inferior, mas sem encará-lo.

- Ah, ah... – Bem que um suco de coragem agora cairia bem a Filippo, que precisou pensar a fundo antes de responder. Ele não tinha medo da reação de Sara, afinal a proposta "desejo" tinha partido dela logo após descobrir que tinha sido o tema de seus sonhos da noite, mas não era desenvolto longe de telas e teclados. Levantou-se. – Espera.

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