_Belzitaaa!! Você não vai adivinhar o que eu andei ouvindo por ai! - Olivia vem correndo até mim gritando enlouquecidamente.
_ Nada bom, aposto. - digo abrindo o armário, pegando tudo que era necessário para a próxima aula.
_ Parece que seu nome anda rolando pela boca dos meninos mais gostosos dessa universidade - diz se abanando.
_ Como disse, nada que preste ou necessite de minha atenção. - digo pegando minhas coisas e batendo a porta do armário.
_ Oi!? Você ta bem? - diz indignada colocando a mão na minha testa mas eu a empurro.
_ Me poupe Olivia! Você sabe que o que eu menos quero é a atenção desses idiotas.
_ Deus! Perdoe por que ela não sabe o que diz - reviro meus olhos com seu drama.
_ Bela, minha querida e carrancuda amada amiga, você sabe o que qualquer outra menina desse lugar daria para ser você nesse momento?
_ Elas não tem com o que se preocupar por que não quero nada com ninguém. Agora se me der licença, nos vemos mais tarde. Tchauzinho.
_ Belz! Serio? Urg! Você me irrita garota! - grita atras de mim enquanto saio andando sem dar um minuto de atenção a mais se quer a ela.
Chegando na aula sigo até meu cavalete, preparo todas as minhas coisas e vou até minha bolsa pegar o avental e as tintas, essa era minha classe preferida, um dos únicos momentos que me permitia relaxar e fazer algo que realmente gosto, assim que puxo os materiais da bolsa um papel cai, me abaixo, pegando-o e abrindo, assim que leio sinto o mundo cair ao meu redor.
Estamos de olho em você!
Amasso rapidamente o papel enfiando-o no bolso, discretamente olho ao redor em busca de algo, alguém, qualquer pista de quem havia colocado aquilo.
Meus olhos vagueiam freneticamente entre as janelas, a porta e meu material, tudo em mim grita "fuja!, "Corra!, "Se esconda!", mas... isso não aconteceria mais. A criança assustada que conheceram anos atras já não era mais a mesma, tanta coisa havia acontecido...
Eu havia tomado a decisão de ficar e assumir quaisquer consequências e seria isso que faria, eu estava tão cansada de fugir, de nunca possuir nada, não ter ninguém...
Você cresceu Ariela, se tornou uma mulher forte, determinada, corajosa, você consegue - digo a mim mesma mentalmente - tudo que aconteceu... todos esse anos... todas as perdas... te prepararam para isso, esse momento, chega de sempre ter medo, de se esconder, chegou a hora de lutar, não importa o resultado... lutar até o fim.
Fecho meus olhos e respiro fundo, acalmando todo o meu corpo, deixando toda essa nova perspectiva se arraigar em meu ser. Mais calma abro os olhos, pensando seriamente se devo ir para casa ou continuar mas logo que a ideia de ir vem ela se vai, não deixaria que eles me tirassem mais nada, finalmente algo em mim havia mudado, algo havia mexido dentro de mim, me dando essa força que faltava para finalmente saltar nesse enorme abismo e me permitir viver, realmente permitir viver.
Volto ao meu estande e continuo a pintura que estávamos trabalhando no ultimo mês, com as mãos ainda tremulas apenas fico ali parada, observado, admirando o retrato de mamãe em meio uma variedade de rosas, a ideia surgiu de uma conversa entre mamãe e eu enquanto assistimos um filme... "Nunca olhe as coisas de perto minha bela, as vezes para se entender tudo é preciso se afastar, nem tudo é o que parece ser", e com esse conselho criei uma das primeiras coisas que tornariam o vazio apartamento em um lar.
O expectador ao olhar a pintura, inicialmente vera apenas uma enorme variedade de belas rosas, algumas claras, outras escuras, coloridas, de cores vivas, sutis ou apenas brancas mas a medida que se afasta percebe um belo rosto sendo formado por todas aquelas belas cores e flores misturadas entre si.
Enquanto trabalho meu coração se aperta e se aquece, meus pensamentos sempre vagueiam por mamãe, pensando o que ela faria em tão situação, como seria nossas vidas juntas, em como queria que ela estivesse presente para que pudesse contar tudo que estava acontecendo comigo, que pudesse me ajudar, me dar seus conselhos ou apenas me embalar em seu colo enquanto passava suas mãos pelos meus cabelos. Uma lagrima escorre por meu rosto mas a limpo rapidamente, me obrigando a lembrar que apesar de tudo mamãe finalmente estava livre, feliz em algum lugar, longe de todo mal e dor, mesmo que para isso ela tivesse que ser tirada de mim.
Quando a aula termina o professor nos lembra que teríamos apenas mais duas aulas para terminar os quadros, me afasto um pouco mais e sorrio com o resultado. Nunca achei que poderia ter algum talento na pintura, desenho ou qualquer coisa mas desde que fiquei sozinha no mundo as coisas começaram a se tornar intensas de mais e as vezes eu precisava apenas liberar toda aquela dor, ódio, medo... Geralmente era com exercícios, corridas, lutas, mas nem sempre ajudava, as vezes era tanto guardado dentro de mim que parecia que a qualquer momento iria explodir.
Então a alguns anos tentei encontrar um hobby, algo que me ajudasse, no inicio tentei escrever, me forçando a liberar tudo em palavras, mas não pareceu ajudar em nada, então apenas queimei tudo e segui em frente. Um tempo depois estava novamente fugindo de uma cidade para a outra e no meio disso encontrei uma pequena menininha na rodoviária esperando com sua mãe o onibus em que viajariam, confesso que mal olhei a menina, estava com tanto medo de ser encontrada novamente que apenas me mantinha atenta, os olhos vigilantes em todas as direções e foi nessa hora que senti pequenas mãozinhas em mim e quando olhei para baixo enormes olhos castanhos sorriam e me empurravam uma mãozinha cheia de lápis de cor com folhas amassadas embaixo do braço. Sem se quer esperar que eu aceitasse ela colocou o papel na cadeira ao lado, jogou os lapis em meu colo e começou a desenhar. Naquele momento me permiti ser a criança que sabia que era, me ajoelhei no chão, peguei uma de suas folhas e comecei a desenhar com a garotinha e foi naquele momento que descobri como libertar um pouco da dor dentro de mim.
Os desenhos eram desconexos, não possuíam formas, somente cores, sombras, linhas, formas, honestamente não sabia o que estava fazendo, apenas me deixava sentir...
O desenho se tornou a única coisa realmente minha em minha vida, algo que eu escolhia quando, onde e como, que fazia por mim e só para mim, a maioria era queimada logo após concluída como se com aquilo eu pudesse tirar um pouco daquela escuridão de dentro da minha alma, mas alguns poucos ficaram, eram pequenos momentos felizes, pequenos pedaços de luz de mamãe. Eu tinha, na verdade ainda tenho tanto medo de esquece-la, de não saber mais como é sua voz, seu cheiro, seu rosto... as vezes me pego afundando nas memórias em busca da sensação de seu abraço, de seu toque em minha pele, dos seus carinhos...
_Terra chamando Bela! Testando 1, 2, 3...
_Oi? - saio das minhas lembranças franzindo a testa em confusão assim que avisto Olívia me minha frente.
_ Você estava novamente em transe - diz com a testa franzida - É muito estranho isso.. é como se você entrasse em seu mundinho particular e mandasse todos a merda.
_ É praticamente isso.
_Uau! Esta ficando lindo Bela! Você realmente adora esconder coisas de mim não é mesmo? - diz jogando seus braços sobre meu ombro.
_ Não seja exagerada, é só uma pintura, nada de mais. Agora se afaste ou vai se sujar de tinta. - aponto meu avental sujo e ela pula para longe.
_ Ok! Esta pronta?
_ Tenho só que acabar de guardar tudo e colocar o tripé no lugar para que a pintura continue secando, nos marcamos alguma coisa?
_ Pensei que poderíamos sair daqui e ir comer na lanchonete, o que acha? Estou cansada de comida congelada.
_ Pode ser, mas não posso demorar muito, tenho que estudar para a prova de Psicofisiologia.
_ Merda! Me esqueci disso. Tem certeza que é amanha? E não na próxima semana?
_ Absoluta!
_ Merda! Merda! Merda! Ok! Vamos lá! Não vou deixar essa noticia me tirar a fome. Me recuso a comer mais uma daquelas bandeiras de comida em minha geladeira.
_ Ana já disse que você pode pegar comida lá na lanchonete, ela até fez um plano mensal para você, por que não aproveita?
_ Ai! - ela geme sofrendo - Eu queria, mas se eu fizer isso não vai sobrar nenhum dinheiro para compras, eu preciso disso para me desestressar.
_ Serio que você prefere seus cacarecos inúteis a comida?
_Inuteis não! Aquela luminária linda do fantasma do Mario era um item essencial para a vida. Você sabe que não resisto a coisas fofas.
_ Certo! Você quem sabe. Só preciso deixar isso tudo no meu armário e podemos ir.
Durante todo o caminho Olivia não parava de pular, animada com alguma festa que aconteceria em alguns dias em uma fraternidade que eu nem fazia ideia da existência. Não fiz questão de ouvir toda a ladainha agitada de Olivia, apenas concordei com a cabeça vez ou outra até que ela sossegasse e mudasse o rumo da conversa para algo realmente útil. Assim que chegamos aos armários, digito a combinação e destravo, assim que abro um papel cai e sinto todo o meu sangue gelar. Antes que Olivia se quer perceba me abaixo e pego o papel, enfiando rapidamente em meu bolso, me levanto e praticamente jogo a sacola dentro do armário e o tranco.
Olivia continua sua falação e sem pensar duas vezes engato meu braço ao seu e a empurro pelos corredores em direção a porta dos fundos.
_ Ei! Por que estamos indo pra esse lado? A porta é para o outro esqueceu - diz rindo.
_ Preciso esticar um pouco as pernas.
_ Mas nos ja vamos andar um tanto até a lanchonete - resmunga reclamando.
_Deixe de ser preguiçosa Olivia, são só uns metros a mais. Pensa que assim você pode comer mais batatas - digo piscando divertidamente para ela.
_ Certo! Gosto dessa sua linha de pensamento.
_ Claro que gosta!
Assim que chegamos a lanchonete sou praticamente agarrada por Ana, a mulher me verifica dos pés a cabeça, como se eu fosse uma criança que acabou de voltar de brincar no parquinho.
_ Fiquei tão preocupada ontem, você deveria ter esperado para que te deixássemos em casa. Você não pode ficar doente, esta em época de prova. - diz com a mão na cintura como se fosse uma mãe dando bronca me fazendo rir.
_ Eu estou bem - digo rindo - É preciso mais que uma chuvinha para me derrubar.
_ Certo! Bom mesmo ou as coisas vão ficar feias para você mocinha.
_Ela não é só uns oito anos mais velha que a gente? - Olivia pergunta confusa.
_ Sim, mas ela age como se tivesse uns quarenta a mais as vezes - digo rindo e ela me mostra a língua enquanto se vira escondendo o riso. - Já volto com o pedido de vocês.
_ Mas nos nem pedidos! - Olivia grita atras dela.
_ Vocês sempre pedem o mesmo querida.
_Serio? - Olivia me olha assustada e eu apenas aceno em confirmação.
_ Esta vendo Belz, precisamos viver mais. Não queremos ficar igual a Ana. - diz um pouco alto de mais.
_ Eu ouvi isso! - Ana grita enquanto Pedro quase se sufoca tentando não rir - Isso não tem graça!- aponta para ele.
_ Perdão amor.
_Perdão a minha...
_ Temos criança no recinto lindinha! - Pedro diz tampando a boca dela.
_ Esta vendo, não queremos isso - Olivia diz rindo apontando o casal.
_ Acho que você esta enganada, nos deveríamos querer exatamente isso. Um companheiro, amigo, confidente, bem humorado, que te trate bem, esteja sempre ali por você não importa o momento. Alguém que você confie de olhos fechados, que possa dividir seus maiores medos e anseios. Mas a maioria parece preferir aqueles idiotas que você tanto quer me empurrar e se aconchegar. Um cara que não esta nem ai para o que você fala, o que gosta, o que faz, quer apenas te iludir, te levar para cama e te chutar no outro dia.
_ Ei! Nem todos são assim. É como eu falo eles estão apenas curtindo as erradas até encontrarem a certa. - diz apontando seu rosto com um enorme sorriso.
_ E você realmente acredita nisso? Acredita que alguém vá mudar por alguém? Isso é ingênuo de mais.
_Isso não é ingenuidade... isso é confiar no amor. E você não acha que é nova de mais para ser tão amarga?
_Não é ser amarga é ser realista. Não queria te desiludir, eu realmente espero que você encontre alguém incrível na sua vida, alguém que some e te faça imensamente feliz. Eu juro! Eu torço por você Olivia, só quero seu bem... me perdoe se não sou a melhor amiga do mundo ou se nem sempre digo o que você quer ouvir...
_Eu sei... eu sei... - ela revira os olhos - Eu te vejo Belz, eu sei que embaixo de toda essas roupas enormes e estradas existe uma boa garota e que mesmo rabugenta e mal humorada na maioria dos dias você gosta de mim do seu jeito.
_ Mais ou menos isso! - digo com um leve sorriso.
_ Isso esta ficando estranho... - franze a testa- aconteceu alguma coisa e você não me contou? Você não esta morrendo, ne?
_ Cala a boca! - digo rindo jogando um saquinho de açúcar nela. Olivia começa a rir e pega um saquinho para revidar o golpe mas do nada seu corpo congela.
_Belz! Eu acho que morri e vim parar no céu! - diz com os olhos focados em algo atras de mim.
_ Sinto dizer mas continua viva e na Terra. Deixa de ser doida.
_ Que gato! Homem do céu me chama de arranhador e vem se esfregar em mim.
_ Mas que merda você ta falando? - viro o rosto tentando descobrir o por que de tudo aquilo quando meus olhos caem em Miguel entrando na Lanchonete.
_ Acho que encontrei meu futuro marido.
_ Serio? Então já queimou os planos do casamento com o da semana passada? - pergunto rindo.
_ Vai a merda sua sem coração. Fazer o que se eu me apaixono fácil.
_ E esquece também - começo a rir e ela me joga um pacote de sal no meio da testa.
_ Ai meu Deus! Ele esta vindo aqui... Socorro! O que eu faço? O que eu faço? - Olivia começa a se mexer nervosamente na mesa.
_ Jesus Olivia! Se acalme, é só um homem não Jesus em pessoa. Só respira! - começo a inspirar e expirar vagarosamente pedindo que ela imite meus movimentos.
Eu sabia que Miguel não iria até nossa mesa, ele mesmo havia dito ontem que seria melhor que outras pessoas não nos vissem juntos. Honestamente eu ainda não estava cem por cento certa se iria encontra-lo ou não., ontem ja havia sido estranho o suficiente.
Infelizmente não podia contar isso a Olívia então apenas continuei tentando acalma-lá enquanto nossa comida não chegava.
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Hey gente!
Tudo bem?
Espero que tenham gostado do capítulo.
Sei que pode não fazer diferença para vocês mas a cada votinho que vocês me dão enquanto leem me mostra que alguém realmente está lendo e isso me dá uma felicidade tão grande que só quero escrever mais e mais. Por que a felicidade de vocês e a minha felicidade também.
Então se curtiu esse capítulo não deixa de dar seu votinho e compartilhar a história com seus amigos, colegas, cachorros, periquito, papagaio, whats, Instagram e tudo mais, ajude essa pobre autora a espalhar essa história por aí.
Muito obrigado pela ajuda de vocês e por terem me dado um pouco do tempo de vocês lendo meu livro.
Muito obrigado.
Oh! Não me abandonem hein.
Nos vemos nos próximos capítulos.
S2
Beijoooooos