Quando a Cidade se Apaixona p...

By perftho

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Aurora acabou o ensino secundário este ano mas não sabe que rumo dar à sua vida. Em tal situação, os pais man... More

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By perftho

– Miguel

Um mês – faz hoje um mês desde que o meu avô morreu. Ando uma confusão, tudo me parece ainda tão estranho, como se não fosse real: apesar da sua ausência nunca deixei de me sentir em casa mas, ao mesmo tempo, está tudo diferente. Tenho dias em que me sinto bem, com vontade de viver – quando consigo ignorar o vazio dentro do peito – e, na verdade, até me sinto mal pela aparente felicidade de que não se passou nada; noutros dias, tudo é um inferno e apetece-me também deixar de viver. É aí que ela entra. Algum dia teria conseguido reerguer-me sem o seu apoio? Estaria eu sequer erguido, em primeiro lugar, antes de isto tudo? Sei que não o sabe mas agradeço todos os dias a Deus por ela ter entrado na minha vida. Antes, o lugar a que eu podia chamar casa era perto dos meus avós, agora é ao pé dela.

Mais uma vez e apesar de já se terem passado uns dias, ainda estava mergulhado naquele sentimento com que fico depois de fazermos amor – depois de tanto tempo, ainda não conseguia deixar de pensar nela a cada segundo do meu dia. Decido mandar-lhe uma mensagem, quero estar com ela.

Para: Aurora

Bom dia Aurora, pronta para mais um passeio?

Agarrei no telemóvel depois de ter enviado a mensagem com o coração a palpitar – ainda ficava tão nervoso ao falar com ela, mas era tudo tão natural. Sentei-me à secretária a olhar para uns papeis cheios de informações sobre trabalhos da faculdade enquanto esperava a sua resposta.

(...)

Ela não me responde. Já passaram duas horas ma ela não me diz nada. Porquê? Ela responde-me sempre no segundo a seguir. Estará ocupada? Talvez a ajudar a Sra. Maria, talvez a escrever, talvez até esteja a fazer uma sesta. Não, ela responde-me sempre. Senti o coração a bater mais depressa – talvez se tenha passado alguma coisa.

Sem mais cabeça para os meus afazeres escolares, saí de casa e fui à sua procura. Corri para sua casa e tive a sorte de encontrar a Sra. Maria nas suas tarefas habituais.

"Sra. Maria, bom dia. Por acaso sabe da Aurora?" Fui direto ao assunto.

"Oh Miguel, como estás? Eu estive no cultivo, cheguei há pouco. Ela não está em casa, pensei que estivesse contigo. Passa-se alguma coisa?"

"Não, não." Disse sem querer preocupar a senhora. "Ela deve ter ido só dar uma corrida." Não, ela corre sempre de manhã, não ao meio da tarde."Muito obrigado, até logo!"

Não esperei resposta. Ela podia mesmo ter ido simplesmente correr porque, sei lá, apeteceu-lhe mudar a rotina, mas não sei, não estava com um bom pressentimento em relação a isto. Fui até à rua das áreas agrícolas – ela também gostava de ir para lá escrever. Mas nada, ela não estava lá. Segui até à fonte onde nos vimos pela primeira vez, nada. Caminhei mais adiante, até ao sítio do nosso primeiro beijo, nada. Estava a começar a ficar ansioso, inquieto – ela não estava em lado nenhum. Sentei-me por alguns momentos, precisava de pensar para onde é que ela poderia ter ido. Todos os sítios que ela conhece aqui foram os que eu lhe mostrei.Onde é que nos fomos? Fomos à vila, fomos correr, tivemos nas terras, na igreja, a loja do avô... na passagem de ano, o miradouro!

Segui para lá, já não estava muito longe. Tinha a respiração ofegante e estava cansado de caminhar por entre aqueles caminhos acidentados, mas mesmo assim comecei a correr. Os meus músculos das pernas ardiam e parecia que os meus pulmões me fossem saltar do peito, mas não parei, não enquanto não chegasse ao miradouro.

E lá estava ela.

O tom rosa do seu cabelo saltou-me à vista de imediato; ela estava sentada numa pedra, de costas para mim, encarando a linda paisagem. Não fiz barulho ao aproximar-me, mas, apesar de ela não me conseguir ver, sentiu a minha presença.

"Sabia que me ias encontrar." Falou sem se mexer, mas consegui perceber que a sua voz estava trémula e a respiração pesada.

"Procurei-te em todo o lado." Tomei o lugar ao seu lado, dirigindo o meu olhar também para a paisagem. Não a encarei diretamente porque percebi o que se estava a passar.

Ela estava a chorar.

Não queria invadir o seu espaço, sabia que ela era uma mulher muito forte e independente que provavelmente não gostava que a vissem nos seus prontos fracos; mas ao mesmo tempo, queria que ela utilizasse o meu ombro para chorar e me partilhasse a sua dor, seja ela qual for. Devia começar a falar? Ou devia esperar que ela estivesse preparada para me falar? Antes que pudesse decidir, ela encostou-se ao meu ombro e pegou na minha mão, brincando com os meus dedos. Virei o pescoço e juntei os meus lábios à sua testa, dando-lhe um beijo casto nesta e passei a minha mão livre pelos seus cabelos, acariciando-lhos como ela tanto gosta. Ao aninhar-se contra mim, soltou um grande suspiro e começou a chorar com mais intensidade – ela estava pronta para desabafar tudo.

"Não consigo fazer nada, Miguel, não sirvo para nada."

Depois de proferir estas palavras caiu num choro contínuo mas sereno, não como uma criança que chora por uma ferida mas como a de um adulto a quem lhe dói o coração. Deixei-a desabar, largar tudo o que lhe ia na alma, apesar de toda a preocupação que sentia por a ver assim.

"Deita tudo cá para fora, Aurora, sabes que estou aqui para ti, sempre."

Ela soltou um longo suspiro antes de começar a falar.

"Estava a escrever, a tentar fazer alguma coisa melhor com aquele rabisco que te li. Estava a correr bem, eu até tinha pensado numas ideias que achei que iam encaixar muito bem." Fazia pausas para controlar a respiração acelerada. "Mas depois encalhei num detalhe estúpido, não estava a conseguir escrever o que queria, comecei a enervar-me e às tantas já estava a pensar no meu futuro, as palavras da minha mãe a ecoarem-me na cabeça, precisas de ir para a faculdade, precisas de te formar para fazeres alguma coisa da tua vida, estás a desperdiçar tempo que não volta mais, tens que arranjar alguma coisa que consigas fazer..." As suas lágrimas voltaram com mais alguma abundância e o seu tom de voz elevou-se. "Pois eu não consigo fazer nada! Era isso que toda a gente queria que eu admitisse, é que não consigo fazer nada!" Ela levantou-se e gritou para o precipício, como se alguém a conseguisse ouvir dali. "Eu, Aurora, não consigo fazer nada, sou inútil e não sirvo para nada que não seja beber e fornicar, tens toda a razão mãe!" Ela voltou a sentar-se junto a mim e chorou mais um pouco no meu ombro.

Ah, como eu conhecia aquele sentimento! E tão bem que o conhecia. Aquela ansiedade e pressão que nos põem em cima dos ombros – ou que nós mesmos criamos em nós próprios, como era o meu caso – que nos consegue foder completamente a cabeça. Mesmo assim não podia deixar de estar surpreendido com estas reações por parte da Aurora, ela que sempre se mostrou tão forte e confiante em si mesma, tão indiferente às opiniões alheias, ela que me levantou quando eu estive nesta posição, afinal também se sentia como eu? Como é que ela conseguiu usar uma máscara que me impediu de perceber disto antes?

"Quando esta aldeia começou a despertar cada vez mais o meu interesse na literatura eu pensei que essa fosse a minha luz ao fundo do túnel, que havia finalmente alguma coisa na qual eu fosse boa e que pudesse usar isso para construir o meu futuro. Mas não, porque eu nem consigo pensar numa puta de uma forma de pôr as minhas ideias num papel." O seu tom de voz tinha voltado ao normal, tal como a sua respiração. As suas lágrimas eram agora escassas, descendo lentamente pelo seu rosto calmamente. "Sinto tão frustrada comigo mesmo. É que é muito fácil atribuir as culpas a alguém, mas eu sei que no fundo a culpa é minha e isso é que me está a deixar de rastos. Eu nunca quis saber, nunca me interessei por nada, nem procurei interessar-me, mas a verdade é que eu quero fazer alguma coisa, eu quero ter um futuro, quero ser alguém! E agora que as responsabilidades me estão a bater de frente estou a aperceber-me de como eles tinham razão, sou uma merda."

Ela calou-se, dando lugar aos sons maravilhosos da natureza que trouxeram uma certa calma àquele momento duro. Sabia que agora era o meu momento de falar, de lhe dar algum reconforto e acalmar a sua mágoa, como ela me fez tantas vezes. Conseguia ver-me tão bem nela, era como se estivesse a olhar para um espelho e por isso, sabia exatamente o que tinha que fazer.

"Aurora." Limpei-lhe o rosto com os meus polegares e fi-la encarar-me. "Sabes quem é que me estás a fazer lembrar? Um rapazinho desajeitado que pensava que não conseguia fazer nada bem, conheces?" Ela soltou um riso tímido, entendendo perfeitamente o que eu queria dizer. "E sabes quem é que o calmava sempre? Uma menina muito forte e segura de si, que sempre disse ao rapaz para acreditar em si próprio."

"Eu sei que estou a ser parva." Ela aninhou-se no meu colo, encostando a cabeça ao meu peito como se fosse adormecer ali, eu continuei a acariciar a sua nuca.

"Não estás nada a ser parva. Tens direito a ter os teus momentos, só tenho pena de não ter percebido que tinhas dentro de ti a mesma mágoa que eu carregava, porque é que já não partilhaste isto comigo? Acredita que te compreendo como ninguém."

"Eu não gosto muito de falar sobre estas coisas." Ela fez uma pausa. "Ou pelo menos nunca tive ninguém com quem gostasse de falar disto, estou a sentir-me bem ao falar contigo, é bom não ter que esconder as coisas."

"Tu sabes que comigo podes ser tu própria, não tens que fingir. Tu estiveste comigo nos meus piores momentos e eu vou estar aqui nos teus, sempre." Acariciei o seu rosto e tive vontade de cobri-la de beijos, nunca a tinha visto triste, mas estava a odiar. "Eu admiro-te tanto, tu és a rapariga mais segura de si que eu conheço e que já me ensinou tanto sobre o nosso valor próprio; sei que agora estás um pouco esquecida, mas eu vou relembrar-te das coisas que me tens metido na cabeça este tempo todo: tu és capaz de tudo, Aurora, tudo. Eu sei que estás a sentir uma pressão enorme nos ombros de todos à tua volta e agora que começas a aperceber-te disso não queres desiludir ninguém, mas principalmente, não queres desiludir-te a ti própria. Eu sei tão bem, eu já estive no teu lugar. Mas, Aurora, contigo é diferente. Tu tens uma coragem, uma vontade, uma confiança e uma energia que eu nunca tive e por isso é que te aguentaste este tempo todo sem te ires a baixo e nunca mais o vais voltar a fazer porque tu és tão forte, Aurora, e vais provar a toda a gente que estavam errados mas, acima de tu, vais deixar-te orgulhosa de tudo o que vais conseguir. Tu tens tanto valor e eu sei que tu não te vais esquecer disso, pois não?" Sorri-lhe e ela sorriu-me também. "E, se porventura tiveres mais algum dia como este em que não te lembras do quanto vales, eu vou estar aqui para te relembrar."

"Eu sei que vais, Miguel. Estás sempre aqui para mim." Ela juntou-se mais ao meu corpo, como se eu fosse a sua zona de conforto e eu senti o seu batimento cardíaco acalmar, retomando o seu ritmo normal.

"Em relação à escrita, todos temos dias maus. Havia dias em que nem conseguia pensar no que queria fazer de tão nervoso que estava! Mas o que interessa é não desistires daquilo que gostas de fazer e eu sei que tu gostas realmente de escrever, os teus olhos brilham sempre que me lês algo que escreveste."

Ela ergueu a sua cabeça do meu ombro e encarou-me. Foi a vez dela de me acariciar o rosto com a ponta dos dedos.

"Tenho a certeza que é o mesmo brilho que tenho agora, ao olhar para ti."

"Não." Inspecionei os seus lindos olhos castanhos. "Este brilho é muito mais bonito."


OLÁ MEU AMORES!!!!! 

Não, eu não me esqueci de vocês!! E sei que a minha demora não tem perdão mas a minha vida está muito mudada desde que comecei a escrever este livro e por isso já não vos consigo prometer atualizações breves mas se gostarem mesmo da história, espero que fiquem por aí até ao final, porque vai haver um final!!! 

Bem, já sabem que eu não podia deixar de vos atualizar sobre a minha vida e desta vez tenho muito boas notícias! Tenho uma pessoa nova na minha vida, chama-se Afonso, é da minha faculdade mas é um ano mais velho que eu. Começamos a falar ha pouco tempo mas sentimos logo uma empatia enorme entre os dois e posso dizer que estamos a apaixonarmo-nos um pelo outro. Tenho sentido algo indescritível, se bem se lembram eu nunca tive nenhum namorado nem nenhum grande amor e por isso estou a experienciar pela primeira vez o que é gostar realmente de alguém e estou mesmo muito feliz. Mas indo às coisas importantes, não, ainda não perdi a virgindade mas se as coisas continuarem como estão, prometo que não vou perder muito tempo e depois volto pra contar tudo *piscadela* ahahaha mas já tivemos algumas aventuras e posso dizer que pô-la na boca no carro foi das que mais gostei *dupla piscadela*, pronto, agora já chega de poucas vergonhas ahahah

Não se esqueçam de dizer o que acharam do capítulo, gostava muito de saber a vossa opinião depois deste tempo todo afastada do wattpad. Muito obrigada por todo o apoio e mensagens que ainda continuoo a receber!! Acreditem que são mesmo muito importante para mim :)

Muitos beijinhos e até uma próxima, gosto muito de vocês todas! ❤

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