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Dedico este capítulo à Carina_Alexandra ღღღ obrigada por todo o apoio!

         – Aurora

        "Porta-te bem querida e não dês muito trabalho aos avós!" A minha mãe deu-me um último abraço de despedida. "Adoramos-te muito!"

        "Sim mãe, também vos adoro."

        Entrei no autocarro onde previamente já tinha colocado a minha bagagem, escolhi um dos últimos lugares vagos junto à janela e coloquei de imediato os fones nos ouvidos. Já com o autocarro em movimento, troquei os últimos acenos de despedidas com os meus pais que ficaram à espera para me ver partir. Seguia agora o longo caminho de três horas até à santa terrinha para passar uns tempos com os meus avós.

        Que entusiasmante.

        Não que não goste de visitar os meus avós mas estar sem wifi e longe dos meus amigos não é a ideia que mais me agrade para passar o natal. Nem sei como é que me deixei persuadir a todo este plano.

        Numa das minhas playlists, selecionei "Radioactive" dos Imagine Dragons. Ajeitei o cachecol, aconchegando-me mais e tentei arranjar uma posição mais confortável sem ter que incomodar a senhora idosa que estava ao meu lado. Olhei para a janela e observei os arranha-céus típicos da cidade de Lisboa, não os ia ver por algum tempo.

        [...]

        Tinha chegado à estação de Viseu, nas periferias da cidade. Agora ainda tinha pela frente um longo caminho até à santa terrinha. Avistei de imediato a minha avó Maria quando saí do autocarro, que me veio logo abraçar com o seu sorriso alegre sempre nos lábios.

        "Aurora, que saudades tuas que eu tinha!" Disse sem largar do nosso abraço apertado.

        "Também tinha muitas saudades tuas, avó." Disse com sinceridade, adoro os meus avós maternos e tenho pena de estar tão longe deles e só os ver nas épocas festivas mas passar tempo numa aldeia é simplesmente um martírio.

        "Olha para ti, como cresceste desde a última vez que eu te vi. Estás tão grande!" Segurou as minhas mãos nas suas enquanto me olhava com aquele olhar ternurento de avó. "E ainda não largaste esse cabelo rosa!"

        Passei a mão pelo meu cabelo curto pintado com um tom rosa pastel, fazendo-o esvoaçar. A minha avó nunca se importou que pintasse o cabelo mas como na aldeia a população ainda é toda muito apegada às tradições ela fica um pouco receosa que me achem uma "criação do diabo".

        "Faz aperte da minha identidade, yo." Brinquei com ela, ela riu-se. "Mas tu é que estás cada vez mais jovem, nem uma ruga!"

        "Agora com esses cremes todos que há por aí a vida fica muito facilitada." Deu uma pequena risada. "Mas bem, temos muito tempo para pôr a conversa em dia em casa, abalemos, que ainda temos caminho pela frente e tu deves estar cansada da viagem."

        Durante a viajem de carro, a paisagem transformou-se, para mostrar outra mais verde e natural. Os sinais de urbanização iam diminuindo à medida que nos afastávamos do centro da cidade: os prédios e apartamentos eram substituídos por altos arvoredos, os grandes centros de comércio ficaram reduzidos a uma mercearia por cada 30 km, um café por cada 10 km e algumas tascas com idosos a jogar à sueca, e onde os terrenos agrícolas conquistavam 40% da ocupação do solo. A evidência do típico Portugal rústico deixava-me melancólica, este tipo de ambiente não é de todo o meu estilo.

Quando a Cidade se Apaixona pelo CampoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora