Quando a Cidade se Apaixona pelo Campo

31.

Dedico este capítulo à @carolinah2003 ♡♡♡

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– Aurora

Tinha-se passado uma semana. O Miguel tinha pedido tempo e espaço e, por mais que sentisse a sua falta, tinha-lhos dado: apenas tinha-lhe mandado mensagens regularmente, para ter a certeza que estava bem e não tinha voltado ao seu estado negativo. Hoje estava decidida em ligar-lhe. Gostava que fosse ele que me procurasse mas conhecendo-o e sabendo pelo que esta a passar, compreendo que seja difícil e por isso vou dar-lhe um empurrãozinho.

"Aurora." Disse assim que atendeu a chamada, tinha o tom de voz habitual.

"Miguel. Como estás?"

"Bem, dentro do possível. Foi uma semana de muitas mudanças emocionais, ainda estou a tentar habituar-me à ausência do meu avô." Ele fez uma pausa. "Mas estou bem."

"E a tua avó? Como está?"

"Pior que eu, acho que ainda está em negação. Pensa que ainda o vai ver outra vez mas eu tenho-lhe feito companhia, para não pensar muito nisso."

"Isso quer dizer que não tens saído muito de casa?"

"Nem por isso, tento ficar com ela sempre que posso."

"E a faculdade?" Perguntei com evidente preocupação, ele não podia estar congelar assim a sua vida.

"Depois eu compenso."

"Miguel... estás a por a tua vida em pausa, não faças isso."

"É difícil, Aurora. Dizes-me que eu sou forte mas eu não consigo ser assim tão forte. Eu quero seguir em frente mas, merda..." Fez uma pausa, hesitante, e continuou quase sem voz. "Não consigo."

Foda-se, tinha voltado ao início. Não podia deixar.

"Não digas isso, Miguel, escuta-me. Eu sei que dói, que é difícil mas nós já conquistamos tanto, tu já conquistaste tanto. Onde é que está o rapaz que foi forte o suficiente para pegar em todos os seus pedacinhos e reconstruir a sua confiança?"

"Isso não fui eu, Aurora, foste tu. Tu é que, de alguma maneira, conseguiste trazer ao de cima a melhor parte de mim."

"Não, eu apenas te mostrei que tu consegues fazer tudo o que tu acreditas que consegues fazer, a partir daí o mérito é todo teu."

"Não sei..."

"Se não queres acreditar, eu acredito. Eu acredito em ti desde o primeiro dia, já te vi no teu pior e ainda acho que és o melhor. Tens que voltar a viver, Miguel, era isso que o teu avô quereria."

Ele fez uma pausa em que só se ouvia a sua respiração pesada. Depois respondeu.

"Sim, Aurora, eu vou voltar a viver. Amanhã volto à faculdade."

"Era mesmo isso que eu queria ouvir."

"Tens toda a razão, ficar para sempre mergulhado nesta escuridão não o vai trazer de volta, só me vai tirar a minha vida também e não posso deixar que isso aconteça. Não agora que tinha uma vontade de viver como nunca antes tive."

Senti-me a corar, pois sabia que se estava a referir a mim.

"É retribuída. Senti muito a tua falta."

"E eu a tua, esta semana pareceu uma eternidade."

"Então vá, vais arranjar-te e vamos dar uma volta."