As Crônicas de Kat - A Histór...

By giuliasntana

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Conheça Katerina, uma vampira criada à força na Europa do século XIX por uma mãe bruxa desesperada em sua bus... More

Introdução
Ellie - I
Ellie - II
Ellie - III
Ellie - IV
Haunted
Ellie - V
Danse Macabre - I
Danse Macabre - II
Danse Macabre - III
Danse Macabre - IV
Danse Macabre - V
Prontos para dançar?
Danse Macabre - VI
Nosferatu - I
Nosferatu - II
Nosferatu - III
Nosferatu - IV
Nosferatu - V
Nosferatu - VI
Nosferatu - VII
Mi Totentanz
Sophie's Choice - I
Sophie's Choice - II
Sophie's Choice - III
Sophie's Choice - IV
Sophie's Choice - V
Sophie's Choice - VI
Sophie's Choice - VII
Sophie's Choice - VIII
Bem-vindas ao século XX - I
Bem-vindas ao século XX - II
Bem-vindas ao século XX - III
Bem-vindas ao século XX - IV
Bem-vindas ao século XX - V
Bem-vindas ao século XX - VI
Bem-vindas ao século XX - VII
Bem-vindas ao século XX - VIII
Bem-vindas ao século XX - IX
Bem-vindas ao século XX - X
Esqueletos no Armário - I
Esqueletos no Armário - II
Esqueletos no Armário - III
Esqueletos no Armário - IV
Esqueletos no Armário - V
Esqueletos no Armário - VI
My Wild Heart Bleeds With Yours - I
My Wild Heart Bleeds With Yours - II
My Wild Heart Bleeds With Yours - III
My Wild Heart Bleeds With Yours - IV
My Wild Heart Bleeds With Yours - V
My Wild Heart Bleeds With Yours - VI
My Wild Heart Bleeds With Yours - VII
My Wild Heart Bleeds With Yours - VIII
Lágrimas de Gelo - I
Lágrimas de Gelo - II
Lágrimas de Gelo - III
Lágrimas de Gelo - IV
Lágrimas de Gelo - V
Lágrimas de Gelo - VI
Lágrimas de Gelo - VII
For whom the hell tolls - I
For whom the hell tolls - II
You shouldn't be here tonight
Réquiem - I
Réquiem - II
Réquiem - III
Réquiem - IV
Entre todos os demônios do Inferno - I
Entre todos os demônios do Inferno - II
Entre todos os demônios do Inferno - III
Stregoica - I
Stregoica - II
Stregoica - III
Stregoica - IV
Stregoica - V
Wild Ones - I
Wild Ones - II
Wild Ones - IV
Wild Ones - V
Wild Ones - VI
Wild Ones - VII
Wild Ones - VIII
I Coríntios 15:25-26 - I
I Coríntios 15:25-26 - II
I Coríntios 15:25-26 - III
I Coríntios 15:25-26 - IV
I Coríntios 15:25-26 - V
I Coríntios 15:25-26 - VI
I Coríntios 15:25-26 - VII
A Hora das Bruxas - I
A Hora das Bruxas - II
A Hora das Bruxas - III
A Hora das Bruxas - IV
E não sobrou nenhum - I
E não sobrou nenhum - II
E não sobrou nenhum - III
E não sobrou nenhum - IV
E não sobrou nenhum - V
E não sobrou nenhum - VI
Lullaby - I
Lullaby - II
Lullaby - III
Lullaby - IV
Lullaby - V
Lullaby - VI
Lullaby - VII
Lullaby - VIII
Lullaby - XIX
Lullaby - X
Afterworlds - I
Afterworlds - II
Afterworlds - III
Afterworlds - IV
Written in My Own Heart's Blood - I
Written in My Own Heart's Blood - II
Written in My Own Heart's Blood - III
Written in My Own Heart's Blood - IV
Written in My Own Heart's Blood - V
Written in My Own Heart's Blood - VI
Katerina

Wild Ones - III

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By giuliasntana

Szeged, Hungria

Katerina

Eu me consideraria acostumada a ser acordada por minha própria dor. Quando você viaja a pé por anos e dorme em clareiras de florestas de chão duro ou em cima de árvores, você se acostuma a ser despertada por todas as partes do seu corpo em agonia. Em comparação à sensação que eu tenho ao ser acordada no meio da viagem até Graz, essas dores antigas parecem carícias.

Ellie é uma boa motorista e teve uma boa noite de sono ontem, então decidiu dirigir direto de Bucareste a Graz, sem medo de se cansar. Eu, por minha vez, estava exausta. A pequena excursão seria uma oportunidade de passar 48 horas sem os treinamentos exaustivos. E Persephone ainda me deu uma bolsa de sangue inteira, dizendo que eu precisaria estar bem alimentada. Por isso tudo, com menos de duas horas de viagem de carro eu peguei em um sono profundo e dormi como um anjo... Até ser acordada ao ter uma barra de ferro atravessada na barriga.

A dor me desnorteia por um instante. Nem entendo como posso estar acordada. Não consigo ver nada através da névoa que se forma em meus olhos. Esqueço onde estou ou o que deveria estar fazendo. Quando o instinto de sobrevivência finalmente prevalece e grita dentro de mim para que eu saia dali, percebo as três coisas principais ao meu redor: Primeiro, estamos fora da estrada agora, entre duas árvores em um campo. Segundo, a barra de ferro enfiada em minhas entranhas entrou precisamente no meu lado do carro, então é impossível que tenha sido um acidente. Terceiro, Ellie está chamando por meu nome, com toda espécie de desespero na voz.

Tento responder, mas o ferimento me impede de falar qualquer coisa. O ruído rouco que sai de mim é suficiente para que Ellie perceba que eu estou viva e suspire de alívio. Ao invés de abrir as janelas escuras e deixar a luz do fim de tarde entrar para poder me ver, ela usa a luz do celular. Afasta as mechas de cabelo suado do meu rosto com cuidado e sussurra:

- Um homem no meio da estrada estava carregando uma barra de construção de ferro enquanto atravessava a rua. Pensei que ele fosse chegar ao outro lado, mas ele se virou e enfiou a barra de construção pela janela do carro. Ainda consegui dirigir uns dois quilômetros para cá, mas ele está vindo. Precisamos sair daqui, Kat.

Abro os olhos, pretendendo gritar que ela está louca, mas a tentativa faz com que a dor piore em centenas de vezes. Tudo que consigo dizer, entre engasgos, é o nome de Ellie esperando que ela entenda a súplica, demonstrando que não é hora para uma fuga.

- Kat. - Ela chama com uma tentativa de firmeza quando eu gemo - Kat. Me escute. Eu vou puxar a barra para fora. Não encostou no seu coração e nem está perto de desmembrar você. Te levo até o humano mais próximo e até onde eu me importo, você pode destruir uma cidade inteira para se recuperar, mas não podemos ficar aqui. Ele está vindo.

Começo a chorar. Eu pensaria em quão estranho isso é se não fosse por toda dor - o motivo pelo qual eu choro. A dor que eu sinto é tão profundamente física que deixou minhas reações biológicas descoordenadas. Eu não chorava desde que estava viva. Quando consigo abrir os olhos e afastar as lágrimas, Ellie está olhando para mim com toda a preocupação do mundo no olhar. Sou eu quem não tenho alma e eu não tenho a metade da coragem que ela tem. Engulo em seco e faço um sinal com a cabeça. Precisamos fazer o que ela disse. Eu provavelmente vou desmaiar de um jeito ou de outro. De qualquer forma, é tarde demais quando Ellie vai em direção à porta. Antes que ela alcance a maçaneta o vidro do para-brisa é estilhaçado e a barra de ferro de construção é arrancada violentamente de dentro de mim. Eu desmaio ao som do grito de Ellie.

Acordo com gotas de sangue humano gotejando sobre minha boca. A primeira coisa que eu reconheço é o cheiro. Se a terra suja de sangue é minha lembrança mais primitiva, o cheiro das tochas é uma recordação de infância. O chão aquecido pelo círculo cerimonial e pelas tochas é como um abraço de mãe, como me deitar nos braços acolhedores de um amante. Um movimento me traz de volta a realidade, a dor me mostra que ainda estou machucada. Abro os olhos e descubro que um corpo com um corte no pescoço está sendo segurado sobre a minha cabeça. Os olhos em pânico na vítima me fascinam e eu estendo os braços para alcança-la. De repente, todas as pessoas em volta do círculo começam a gritar como uma torcida em fúria e meus instintos primitivos de ataque se aguçam. É como se fosse 1844 outra vez.

Eles o chamam de Cercului Semilună - o Círculo Crescente. Ele só acontece em duas ocasiões: quando um novo líder do clã precisa ser eleito e quando um novo membro quer entrar no clã. Eles se reúnem na primeira lua crescente do mês, fazem um círculo com tochas e ferem o vampiro em um lugar que ele escolha. Depois de sangrar por alguns minutos, o vampiro é solto no meio do círculo, junto a uma presa e tem que correr atrás dela para se regenerar, junto ao coro de gritos dos vampiros do clã. Caso o vampiro desmaie antes de conseguir o sangue da vítima, ele fica à mercê do clã, geralmente para ter o corpo destroçado e os ossos jogados aos lobos. Quem consegue vencer o círculo, ganha uma cidade inteira para destruir em um banquete. Ou ganhava. Não sei bem como ficam as coisas no século XXI.

Isso não é um Círculo Crescente regular. Para começar, não é lua crescente - a lua é um fiapo minguante no céu. Depois, eu não estou tentando entrar no clã, ou me tornar líder, nem escolhi onde seria machucada. E eu duvido muito que eles costumem enfiar barras de ferro nas entranhas de outros participantes do Círculo. Mas para ser justa, eu fugi dos meus deveres com o clã quando fui ameaçada por ter sido transformada sem sangue e anos depois levei Deyah, a segunda no comando, embora em um truque que resultou na morte dela pouco tempo depois. Claro que eles não deixariam isso barato ou me receberiam de volta como um filho pródigo que retorna para casa. Eu deveria estar feliz por não ser um bando de ossos atirados aos lobos neste momento.

Eu nem tenho tempo de pensar em porque eles não me mataram. A garota que era segurada acima de mim é solta e começa a correr pelo círculo, sendo jogada de volta para dentro sempre que tenta escapar. Me levantar não é fácil, eu ainda estou sangrando e com um buraco na barriga. O machucado não me mataria, mas a perda de sangue provavelmente. Me forço a reunir todas as forças que tenho, que são poucas, e consigo ficar de pé após algumas tentativas. Digo a mim mesma para lembrar de agradecer a Persephone, sem o treinamento físico que ela inventou eu não conseguiria levantar. Eu poderia planejar meu ataque, estabelecer o que precisava fazer em alguns passos, mas quando é você, uma vítima sangrando e um círculo de pessoas soltando gritos guturais, você se lembra da besta que é por dentro.

Salto em direção à presa. Até mesmo a incidência do vento contra minha barriga faz com que a dor me cegue. Resolvo usar os outros sentidos, antes que minha cabeça me falhe. O cheio de sangue vem da minha esquerda e o movimentos dos gritos indica que a garota acabou de tentar fugir a alguns passos de mim. Sigo os gritos. Claro que ela não está mais lá, mas sua corrida deixou um rastro de cheio de sangue que faz minhas veias pulsarem de desejo. Não é tão bom quanto poderia ser, já que o sangue escapa mais rápido pelo ferimento e eu me sinto mais fraca. Mas não posso permitir que o ferimento me domine, não devo estar tão longe. Sigo o rastro da presa por minutos, tentando andar o mais rápido que posso.

De repente, os gritos se silenciam e a expectativa do Círculo cresce. Imagino que devo estar perto da presa, mas se estivesse estaria sentindo o cheiro ou o calor dela. Aguço os ouvidos. Consigo ouvir dois corações batendo diferente do resto do círculo, mais rápido. A ilusão sobre o começo da minha vida como vampira é quebrada. Ellie está a alguns passos de mim, respirando e esperando. Eles não a mataram. Não poderiam mesmo que quisessem, mas me surpreendo por ela estar ali. Pensando no que poderia acontecer com ela se eu fosse morta esta noite, me concentro mais uma vez em encontrar a presa. Assim descubro porque todos pararam de gritar. A presa parou de correr e se sentou no meio do Círculo, chorando. Minha cabeça está leve e mal sinto meus pés, mas sei que posso fazer isso. Um último salto.

A ataco no ferimento. Não tenho tempo de mordê-la, então simplesmente sugo do corte no pescoço. É melhor do que a primeira vez que bebi depois de quase dois anos em Cianne. O sangue dela acaba com a dor e faz meu corpo vibrar enquanto regenera. Quando termino e seu corpo cai ao meu lado, eu quero mais. Não bebia sangue direto da fonte há meses e há tempo demais tinha uma presa adulta só para mim. Lanço um olhar feroz a um dos cantos do círculo exigindo que abram espaço para que eu passe.

- Deixem ela ir. Ela voltará pela outra. - Uma voz brada no canto oposto.

Mal o círculo se abre, eu começo a correr. A cidade mais próxima é longe demais, mas uma fazenda se interpõe no caminho e existe gente o suficiente lá dentro para que eu fique satisfeita. Deus, eu tinha esquecido da sensação de ser responsável por uma destruição completa. Só tenho conhecimento dos gritos e do sabor do sangue pelo que parece tempo demais. Cerca de quinze pessoas e eu me sinto uma pequena praga, destruindo todas em questão de segundos.

Quando me dou por mim, estou sentada no chão com as duas pernas esticadas em minha frente. Sou uma bagunça sangrenta com vestes destruídas e inutilizáveis e demora um pouco para que eu volte a meu estado normal e me dê conta de tudo. Meu nome é Katerina Petry. Fui transformada em vampira em 1844 em um ritual de sacrifício. Lidero um Exército de treze vampiras na guerra para recuperar nossas almas do poder do Inferno. E neste exato momento, o clã que jurou acabar comigo está em posse da única coisa terrena que poderia me destruir.

Bucareste, Romênia

Louise

Uma reunião em nossa casa foi marcada no exato segundo em que as pedras escureceram po completo. Quando todas as que restaram em Bucareste chegam e nos damos conta de que a ferida é Kat, Ellie ou talvez as duas, todas nós, ao mesmo tempo culpamos Persephone. É claro que enviar Kat e Ellie sozinha para Graz em busca de um grimório era perigoso. Nós nunca sequer saímos de casa em um grupo menor de cinco, imagina atravessar dois países?

- Eu precisava do resto de vocês e, que droga, elas estavam de carro e protegidas de feitiços de localização. Isso foi tão planejado que eu não consegui prever. - Persephone responde, depois de ser confrontada por Charlottie.

- É a Romênia! Claro que Kat estava em perigo! - Anika devolve. - E Ellie pode ser quase indestrutível, mas ela é uma só. E já que elas estão protegidas de feitiços de localização, teremos uma ótima sorte as encontrando agora.

Uma nova rodada de palavras gritadas e de acusação segue a isso. Nós ficamos completamente perdidas sem Kat, esse é o problema. Ela não deveria ter saído de Bucareste. Naomi também é uma Petry, ela tinha tanto direito de sangue de pegar as coisas na cabana quanto Kat. Sem falar que eu ainda não acredito que ela fez um feitiço tão poderoso para nos unir. Se o que quer que tenha acontecido em Kat causou aquele tipo de dor em nós, nem posso imaginar o que acontecerá se uma de nós morrer. De repente, Sophie ergue a mão no meio do caos e com um movimento, bate todas as portas do andar de baixo. Todas nós nos calamos.

- Ótimo. - Ela anuncia, sorrindo. Pela lógica, Sophie é a terceira em comando. E é melhor ela do que outra pessoa. - Uma coisa de cada vez agora. Nos diga absolutamente tudo que você sabe sobre o que aconteceu, Persephone.

Persephone suspira.

- Elas foram atacadas no sul da Hungria, mas por alguém que vinha seguindo elas desde que saíram de Bucareste. Foi alguém que Kat conhece, alguém que esteve na vida dela há muito tempo e que levará as duas para um lugar que é seguro para eles, de volta para a Romênia. É tudo que eu sei dizer.

- Vou deduzir que foi alguém do clã romeno. Talvez o clã inteiro. A última vez que Ellie avisou onde elas estavam elas tinham acabado de passar pela fronteira da Hungria. Isso foi duas horas antes das pedras escurecerem.

- Espera. Ellie está com o celular? - Olívia pergunta, com a voz tímida, sem vontade de interromper.

- Estava. Ela não atendeu quando eu liguei, então imagino que tenha o perdido.

- O celular dela estava conectado à internet?

O rosto de Sophie se ilumina.

- Sempre está. Se ela tinha área onde estava, provavelmente está sim. Você acha que consegue rastrear?

- Sim. Vou pegar o notebook. - Ela diz, antes de correr em direção às escadas.

Sophie volta a olhar para nós e nos avalia em silêncio.

- Se Olívia conseguir rastrear o celular, nós precisamos de um grupo para ir até lá e começar a rastreá-las até o "lugar seguro" que eles irão leva-las.

Concordamos, esperando ordens dela. É melhor isso do que começar a brigar outra vez.

- Pelo menos, as pedras voltaram ao normal. - Amelie comenta a alguns passos de mim. - Quem quer que seja parou de sangrar.

- Isso pode não ser um bom sinal. - Digo - Pode significar que ela está morta.

Fazenda Előérzet, Hungria

Katerina

Preciso lembrar a mim mesma várias vezes que Ellie é indestrutível para me convencer de que preciso de um banho e de roupas novas antes de enfrentar o clã. A família que acabei de matar tinha uma criança de uns 12 anos, então, consigo arranjar um adorável vestido branco sem silhueta. Após um banho quente, prendo o cabelo em um rabo de cavalo alto. Me olho no espelho. Não existe aparência que possa me fazer me sentir pronta para enfrentar o clã, mas eles não precisam perceber meu despreparo.

Eu voltei à Romênia por livre e espontânea vontade, duas vezes, após ter prometido que nunca mais voltaria. Isso foi quase como pedir para que me perseguissem. A pior parte é que eu estou livre. Eu poderia simplesmente fugir para o local seguro mais próximo e deixar que Ellie escapasse do seu próprio jeito e voltasse para mim. Mas eles sabiam que eu voltaria. Eles não são idiotas. Vou voltar, assumir minha traição e colocar minha cabeça embaixo da guilhotina se for preciso. Só não vou abandonar Ellie.

Procuro por algo que possa me ajudar, mas é claro que provavelmente nada no mundo me ajudaria a vencer o implacável clã romeno. Soltando o cabo do gás de cozinha, coloco fogo na casa de fazenda, assim que deixo ela, sem olhar para trás. É algo que já fiz diversas vezes, mas que ainda não tinha feito neste milênio. Parece estranho, depois dos meses de desintoxicação, ter matado quinze pessoas de uma vez só. É bom, mas não tão bom quanto seria se eu não ficasse pensando sobre como acabo de fazer exatamente o que o Inferno achava que eu faria eventualmente.

Sigo o caminho de volta que fiz me orientando por meu próprio cheiro. São quase três quilômetros e eu sigo devagar, pensando no que fazer. Todos os pensamentos me levam para a mesma conclusão: O melhor que posso fazer é enfrentar a morte de cabeça erguida. Quando alcanço o círculo, ainda com as tochas acessas de forma dramática, a primeira coisa que vejo são os lobos, que parecem agitados como se tivessem acabado de comer. Aperto o passo, pensando no improvável, mas assim que invado o círculo vejo Ellie de pé, com os braços cruzados, entre dois brutamontes. Ela tem uma mancha enorme de sangue na camiseta e está bem suja de terra, mas parece intacta.

- Kat! - Ela solta, quase como um clamor e todo mundo percebe que eu cheguei.

O silêncio toma conta do grupo de vampiros e apenas as mordidas e rosnados dos lobos podem ser ouvidos. Eu sempre achei perturbador usarem lobos para se desfazer dos corpos dos mortos. Mas considerando que qualquer membro do clã romeno morre violentamente, um funeral tão violento faz bastante sentido. Observo os vampiros que permanecem em círculo ao meu redor. Com uma olhada rápida, consigo contar doze homens e dez mulheres, de diversas etnias e tamanhos. Alguns rostos são conhecidos, mas a maioria deles não é. O clã romeno é bem diversificado, mas consegue permanecer uniforme em noites como a de hoje. Me pergunto quanto tempo eles passaram planejando este ataque e por quanto tempo nos seguiram antes de colocar ele em prática. Estamos fora da Romênia, em um território desconhecido da Hungria. É improvável que tudo seja feito aqui. Como ninguém faz nada por um bom período de tempo, resolvo tomar a dianteira:

- Então, onde está o líder do clã? Imagino que tenhamos o que conversar.

Uma risadinha toma conta do grupo e um espaço é um homem de quase dois metros de altura toma a dianteira. Suspiro, reconhecendo seu rosto. Serkan é um dos homens mais violentos que já conheci. Ele era conhecido por desmembrar vítimas e se alimentar dos membros arrancados, na frente da vítima viva. Depois apenas deixá-las sangrar até a morte. Perto dele, os assassinatos que cometi em Paris parecem brincadeira de criança.

- O que aconteceu a Micah? - Pergunto quando ele para na minha frente.

- Conflitos de opinião. - Serkan responde com a voz rouca e um sorriso psicótico no rosto - Sete séculos como vampiro e ele não aprendeu que não se questiona o Inferno.

- Isso é discutível. Mas definitivamente não se deve mexer com adoradores cegos do Inferno. Eles podem ser terrivelmente teimosos em suas crenças absurdas.

Risadas irônicas e rosnados são ouvidos. Eles veem minhas palavras como o esperneio de uma criança, a frágil tentativa de defesa de uma presa qualquer. Prefiro nem me permitir afetar por isso.

- Você ficará satisfeita em saber - Serkan prossegue - Que ele hesitou em matar você quando ficou sabendo que voltara à Romênia. Acreditava que estava destinado a grandeza e que você poderia ser a chave para isso. Ele achava que o prestígio no Inferno tinha ficado ultrapassado e que fazer o Inferno tremer era mais importante que o legado de sangue que tinha criado.

- Tão triste que justo quando Micah entendeu tudo, ele tenha sido morto. Espero que eu me lembre dele quando estiver negociando os acordos.

- Você realmente acredita que esse seu plano vai levar a algum lugar?

- Não dediquei mais de cem anos a nada, Serkan.

- Você costumava ser um membro tão importante do clã, Katerina. Uma vampira tão violenta, tão talentosa. Você nasceu para ter prestígio no Inferno e era admirada por todos. Uma garotinha, nascida para ser vampira e realmente uma vampira em todos os sentidos mais plenos. Por que abrir mão disso?

Suspiro. Poderia responder a ele com todos os detalhes sobre toda a minha existência e como ela foi injusta desde que minha mãe planejou me conceber. Mas eles não precisam ouvir isso ou saber disso. Porque mesmo que apresentasse os argumentos mais convincentes, o máximo que despertaria neles era fúria. O clã romeno é um grupo extremamente ligado a seus carcereiros - exatamente os vampiros que o Inferno queria.

- Seu plano é me entediar até a morte? Não sinto nostalgia dos tempos de clã, Serkan. Meu Exército me ensinou o que a palavra realmente significa.

Me forço a não tirar os olhos de Serkan para olhar para Ellie, que noto se mover onde está. Quero enviar segurança para ela, mas me recuso a perder meu momento de firmeza. Serkan cruza os braços.

- Eu estou... Ganhando tempo, na verdade.

- Para quê? O clã romeno não é exatamente conhecido por evitar a tortura, só por prolongá-la.

Mais risadinhas e rosnados seguem isso.

- Você está certa. Nós não esperávamos que você sobrevivesse ao Círculo, mas mesmo sobrevivendo já estaria morta agora... Se não tivesse vindo acompanhada por ela. - Ele aponta para Ellie com o dedão e eu finalmente me atrevo a olhar para ela.

O lábio inferior de Ellie treme por um milésimo de segundo, mas o resto de sua linguagem corporal demonstra a segurança que eu duvido que ela tenha. Nunca foi minha intenção ser morta de forma violenta na frente dela, mas eu fico satisfeita por ter sido ela a vir comigo. Se alguém pode fugir, esse alguém é ela.

- Ellie? - Pergunto, com curiosidade.

- Ela matou quatro de nós e feriu todo o resto em um ataque de fúria quando você correu do Círculo. Sem piscar. Sou até puritano demais para falar sobre as coisas que saíram da boca dela, as ameaças. O que ela prometeu fazer às nossas almas caso encostássemos os dedos de você. Eu poderia agir como se fossem promessas vazias, como quando você as faz, mas eu não subestimo o Réquiem. Você não enfurece alguém que pode te matar sem mover um dedo. E a sua morte pode fazer com que ela cause uma destruição sem precedentes.

Envio um sorriso orgulhoso a Ellie e um princípio de sorriso cruza o rosto dela, mesmo ela parecendo abalada demais para sentir satisfação pelo que fez.

- Algum tipo de inteligência continua em sua cabeça, veja só. E você ainda subestima meu poder de fazer coisas incríveis.

- Mesmo? Você pega os créditos da existência do Réquiem para você?

Dou de ombros.

- Fui eu quem a batizei.

Serkan balança a cabeça.

- Você é exatamente como Micah e terá o mesmo fim, em breve.

- Você acaba de dizer que não vai enfurecer Ellie, então não podem me matar. Acabe com as ameaças vazias enquanto a noite ainda está alta e vocês podem retornar para onde vieram nas sombras.

As risadas e rosnados que se seguem são ainda mais altos e é como se o clima do Círculo se reinstalasse.

- Ah, Katerina. - Serkan diz com a voz soando ainda mais rouca - Nós vamos matar você. Só precisamos descobrir como matar Ellie antes.

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