Harry POV
Os meus dedos batem compassados na mesa da sala de convívio, o meu pé vai batendo no chão a um ritmo nervoso, fazendo-me lembrar a batida de uma música acelerada. Molho os lábios com a minha língua húmida. Rodo a cabeça, o meu pescoço imite estalidos, tento manter-me calmo... Liam está a demorar demasiado tempo, mas na verdade, as horas e os minutos neste sítio parecem ridiculamente maiores do que o normal.
A sua figura alta e bem constituída passa pela porta, as mãos algemadas à sua frente, como sempre. Hoje, envergava uma t-shirt toda branca, um pouco gasta e suja, e umas calças laranja vivo, a típica roupa de recluso. Ele senta-se à minha frente, sério, poucas palavras, frio...
Sento-me melhor na minha cadeira, olho-o confiante, como se de alguma forma tivesse conquistado o mundo. Eu tinha que me impor, inclino-me, ficando mais perto de Liam.
"Tens 20 mil euros na tua conta, os restantes 80 mil serão pagos em pequenas quantias mensais quando fizeres a tua parte." Por fora transbordo confiança, por dentro sinto-me apavorado por ele não aceitar a proposta.
"Não Styles, de maneira nenhuma. Estás longe da metade da quantia, muito longe." Ele abana a sua cabeça em negação, o meu coração palpita com mais rapidez. Calma Harry, ainda podes dar-lhe a volta, isto tudo não passa de um jogo psicológico.
"Diz-me uma coisa Liam, tu queres o dinheiro para ajudar a tua família, não é? Acredita, para quem não tem nada, 20 mil euros são uma grande ajuda. Não estarás a pedir demais? Eu garanto-te que irei pagar todo o dinheiro, tens que confiar em mim.... Então, o que me dizes? Temos acordo?" Olho para ele, parece pensativo, talvez estivesse a fazer contas à vida, a pensar no que aqueles 20 mil euros podiam fazer.
"E o restante? Tu falas te em quantias mensais, estamos a falar de quanto?"
"Depois verás, nada inferior a mil euros. No entanto, a quantia ainda não é certa. Liam, é melhor que nada, é pegar ou largar." Ele assente-me, e eu pergunto-me o que aquele gesto com a sua cabeça significará. Decerto que concordou comigo, que o acordo o satisfez, mas de Liam nunca sei bem o que esperar. Desde que o tentei matar, não de propósito obviamente, ele deixou de ser aquele companheiro que eu tinha, aquele que estava lá para tudo. Algo compreensível.
"Muito bem." Ele diz, uma euforia pouco saudável preenche-me. "Tens algum plano?"
"Esperava que me pudesses ajudar com isso." Meio que lhe sorrio.
Tomo atenção ao guarda no fundo da sala, perto da porta. Ele olha atentamente para todos aqui presentes, ele jamais pode sonhar o tema de conversa que estou a ter com Liam. Ele retira o bastão do seu cinto, memórias dolorosas daquele objeto a embater no meu corpo são reavivadas, não, não faz parte dos meus planos voltar a sentir aquela dor agoniante.
"Ouve, isto vai ser complicado, esta prisão é uma das mais vigiladas do país. Esta merda está coberta de câmaras de vigilância por toda a parte. Regra número um de um fugitivo: arranjar uma maneira de apagar todas as câmaras de vigilância." O meu cúmplice alerta-me, penso que ele sabe muito mais do assunto do que eu. Provavelmente porque está cá há mais tempo e também não devo ser o primeiro recluso a pensar fugir.
"Ok, compreendo. Mas como pretendes que eu faça isso?" Pergunto-lhe arqueando a sobrancelha.
"Estás a ver aquele guarda atrás de mim? Aquele junto à porta." Ele faz um gesto com a cabeça, sem nunca olhar para o sujeito, fazendo-me olhar para o guarda que há pouco fitava. "Repara no cinto dele."
Os meus olhos percorrem a sua cintura à procura de uma resposta, vejo a sua identificação, um cartão azul com a sua foto e o seu nome, preso por uma espécie de mola ao cinto. Os meus olhos captam também a sua arma, mas é então que os meus olhos se arregalam, é então que eu as vejo.
"As chaves." Eu sussurro. "Ele tem um molho de chaves no cinto." Liam sorri-me, não um sorriso amigável, pareceu-me cínico, arrogante talvez.
"Ele e todos os outros guardas deste sítio, Styles. E sabes que mais? Naquele molho de chaves, está uma chave mestra, aquela chave dá para abrir todas as portas daqui. Ou seja, tu consegues abrir a porta da sala de vigilância, é lá que estão as câmaras. No entanto, tu não podes ser visto a ir até aquela sala, é aí que entram as condutas do ar condicionado." Ele dá uma gargalhada curta. "Espero que não sofras de claustrofobia. E como obter a chave? É isso que tu deves estar a pensar, não é?" Liam lê os meus pensamentos. O plano começa a montar-se na minha mente.
"É aí que eu entro. Finjo vir visitar-te, armo uma confusão qualquer com um destes maluquinhos, aposto que não será muito difícil tirá-los do sério. Um guarda irá separar-nos e eu no meio do rebuliço todo tento tirar-lhe a chave. Tu, como bom salvador da pátria, vens ajudar-me e eu vou dar-te a chave discretamente. É bom que não faças merda, porque se eu for apanhado, estou fudido."
"Mas calma, como é que eu desligo aquelas câmaras?" Questiono.
"Caralho Harry, não sou informático nem nada. Sei lá, pega nalguma coisa e parte aquela merda toda. Ah e espero que estejas pronto para andar à porrada, porque aposto que pelo menos deve estar um guarda de serviço naquela sala." Ele avisa-me, fico preocupado, hesitante. Acho muito pouco provável eu conseguir deixar um guarda inconsciente quando ele tem um bastão, um teaser, uma arma e formação para andar à porrada.
"Liam, eu não sei se..." Digo-lhe indiretamente que provavelmente não vou ser capaz.
"Ouve, queres sair daqui não queres?" Liam interrompe-me. "Acredita, esta é a única saída. É tudo ou nada, ou arriscas, ou podes esquecer."
"Depois das câmaras estarem desligadas, eu vou acionar o alarme de incêndio. Eles vão juntar os reclusos e os guardas todos na cantina. Lá eles fazem uma formatura rápida, e levam-nos para o pátio. Harry tens que ser rápido, eles não vão demorar muito até darem pela tua falta."
"Eu, eu vou ser. Assim que sair vou esconder-me nalgum lado, quando as coisas acalmarem um pouco, roubo a merda de um carro qualquer e fujo para o Canadá, tenho algum dinheiro guardado."
"Boa, isso é bom. Harry tu tens que sair do país o mais rápido que conseguires. Um conselho, quando deixares o guarda inconsciente, leva a arma dele, vai-te dar jeito." Ele pisca-me o olho. Fico apreensivo, não, eu não quero andar com uma arma! Caralho eu nem sequer sei como mexer naquilo...
"Liam, não, não me parece." Digo incrédulo.
"Não precisas de dispará-la, é só para chantagear alguém meu..."
Um momento de silêncio. As nossas vozes deixam-se de ouvir, são substituídas pelo murmurinho presente na sala, murmurinhos esses vindos de pessoas mentalmente doentes a falarem sozinhas. Credo, eu sem dúvida não pertenço aqui. Não estou a dizer que sou psicologicamente são, bem eu tentei estrangular o Liam e não sei porquê, aliás, eu não me lembro de o fazer. Quanto á tentativa de suicídio, eu estava desesperado, se passassem o que eu passei não iriam achar o meu ato completamente descabido.
Eu e o rapaz à minha frente permanecemos ainda calados. Acho que ambos tentamos aceitar, ou prever o que vai acontecer. Ambos sabemos o quanto improvável é de isto resultar... Quem sabe, se eu for apanhado pode ser que antecipem a pena de morte, algo com que eu iria ficar completamente grato, porque passar mais um segundo aqui dentro é algo com que eu não consigo lidar.
"Bem, mas que pano tão elaborado, sim senhora." Uma voz masculina faz-se ouvir a nosso lado, voz essa ainda não identificada.
O meu coração para, o de Liam também. Posso ver a sua face a ganhar um tom branco, demasiado branco, os seus olhos arregalados ainda a tentar processar o que acabou de ouvir. Oh merda, nós estamos tão fudidos...
***
April POV
Coloco a caneta entre os meus dentes enquanto fixo atentadamente o placar exposto no meu escritório. Os meus olhos percorrem toda a informação sobre o caso Styles, esforço-me para encontrar uma pista, algo que não esteja a ver. Um padrão, qualquer coisa para investigar. Eu prometi, prometi que o ia tirar da prisão, eu tenho que conseguir...
Oiço bater à porta, bufo, espero que seja Naomi, não estou com paciência para aturar qualquer outra pessoa.
"Entre..." Digo, Louis aprece do outro lado da porta.
"Posso?" Ele sorri. "Trouxe café." Mostra-me os copos de papel que traz nas mãos, sorrio, era mesmo isto que eu estava a precisar, café. E talvez também de Louis.
"Claro." Ele entra fechando a porta atrás de si, caminha até mim e estende-me o copo de café. "O que estás aqui a fazer?" Pergunto-lhe, retirando a caneta da boca e bebendo um pouco do meu café.
"Oh, que reação tão calorosa." Ele ri gozando comigo. "Vim fazer uma entrevista aqui perto e decidi passar por cá antes de voltar para a redação." Explica-se.
"Fizeste muito bem." Olho para ele.
Ambos nos encontramos de pé, no meio do meu escritório a olhar para aquele painel repleto de colagens e recortes.
"Ainda obcecada com isto?" Louis questiona apontando para o quadro.
"Não é obsessão, apenas alguma coisa não bate certo..." Suspiro desanimando.
"Já consideraste na hipótese de Harry Styles ser mesmo culpado? April, eu acho que estás a dar demasiada importância a isto, ainda para mais já nem és a sua advogada... A sério, tu devias afastar-te, ainda arranjas mais problemas." Ele avisa-me, aconselhando-me, provavelmente certo.
"Bolas, Louis, ele não é culpado!" Meio que grito, chateada com o assunto. Há algo dentro de mim que sabe que ele não fez anda daquilo, ou então apenas quero acreditar nessa hipótese. "Só estou a tentar perceber se há algo que ligue estas miúdas, as vítimas. Tem que existir algum padrão por amor de Deus. Porquê? Porquê elas? Será que elas foram escolhidas aleatoriamente ou foi por algum motivo?" Olho para Louis, desesperando por ajuda.
"Bem, eu não sei. Só sei que estás num beco sem saída. O papel que encontrei, não serve de nada, o teste da caligrafia foi inconclusivo e a foto que encontrámos no armazém, já está explicado como foi lá parar.... Sabes o que devias fazer? Ir falar com a família das miúdas..." Ele diz-me, acho a ideia um pouco absurda.
"Achas que a pessoa que colocou o bilhete na casa do Styles, é a mesma pessoa que me enviou aquele bilhete com a ameaça? Não sei se será boa ideia, não quero incomodá-los e falar-lhes sobre um assunto tão delicado. Eles provavelmente querem fazer o seu luto em paz..."
"Talvez... Eu sei April, mas pensa, podes descobrir tantas respostas. Por exemplo, o porquê de Nola querer tanto dinheiro que a tenha levado a prostituir-se." Leva-me à razão, mostrando-me uma nova perspetiva.
"Talvez tenhas razão..."
"Mas vai com calma, April tu estás exausta, isto não pode dominar a tua vida..." A sua mão afaga o meu ombro, o seu braço rodeia as minhas costas. "O James? Como vão as coisas com ele?" Louis tem-se tornado realmente importante, ele é praticamente o meu único amigo, em poucos meses tornou-se um verdadeiro confidente e conselheiro. Ele sabe praticamente tudo dobre mim.... Tirando o facto de eu amar um recluso secretamente...
"Tudo na mesma, ele ainda não voltou para casa e não atende as minhas chamadas..."
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Olá olá! :) Como estão? Esse natal foi bom? <3
Não vos queria deixar sem um capítulo antes do ano acabar, já vos deixei sem um para o Natal...
O que acharam do capítulo? Gostaram? O que me dizem sobre o plano de Harry e Liam? Será que vão conseguir? Será que foram apanhados? E sobre a April ir falar com as famílias das vítimas?
Cometem as vossas opiniões e palpites, adoro perceber o que vai nessas cabecinhas e se é parecido com o que estou a planear :)
Felizzz Ano Novoooo, entrem com o pé direito! E tenham um ótimo 2016.
Ly all <3