Um verdadeiro Strong Owl sabe como reagir a um massacre.

384 81 1
                                    


Os lobos observaram a espada de arcanjo e deram um passo para trás. Com apenas um lança correto poderia mata-los e mesmo que estivessem em maioria, novamente, sentiriam medo. As cabeças decapitadas e a estaca enfiada no coração de um dos vampiros o fizeram repensar antes de nos atacar.

Ou não. Lobisomens são inimigos naturais dos vampiros. De certa forma haveria um confronto e seriamos deixados de lado. O que, por sinal, estava ocorrendo.

A fome sedenta e descontrolada dos lobos rugiu e os dentes afiados cravaram à pele de muito deles. Alguns apanhavam para os sanguessugas, mas não dava para matar todas e sair ileso, não é?

Jeon gesticulou com o dedo indicador para seguirmos ele e o fizemos rapidamente. Atravessando a luta sem motivo algum que havia acabado de ocorrer porque todos queriam a espada de arcanjo, chegamos a outro cubículo. Não era estreito e a porta aparentava estar fechada a sete chaves de tão pesada e firme que era. Mas, com um simples toque, Jungkook a empurrou para trás. Talvez os vampiros estivessem ali antes de chegarmos.

A sala consistia em diversas prateleiras de vidro espalhadas pelo lugar, transbordando a quantidade inusitada de livros. Alguns espalhados pelo chão, outros empurrados na mesa de madeira e sangue escorrendo em uma das paredes.

— Bingo. — O sorriso de James fora de orelha a orelha e não se precipitou ao dedilhar cada livro com o indicador, passando para a fileira ao lado e os tocando lentamente.

— Não creio que nada de Crowler esteja aqui. Ele não seria burro de deixar algo valioso sem estar observando. — Jungkook interrompeu a felicidade de Carter, que transpassou o peso de um corpo para o outro, arrancando a faquinha enfiada em sua perna direita. Nenhum murmúrio. Ele havia a tirado brutalmente e sem sequer sentir dor.

James não pareceu surpreendido. Na verdade, estava mais para quem evitava falar ou saber sobre.

— E se ele estiver?

Senti o arrepio percorrer minha espinha.

— Não está.

Olhei para a porta pesada que emanou o som estridente, agudo e penetrante. Provavelmente um lobo havia sido jogado contra ela e presumo que os vampiros tenham escapado ou o sol os queimariam.

— Como tem tanta certeza? — James desconsiderou o barulho que fizeram o lugar tremer, como se a estrutura bem construída fosse cair sobre nós. — Aqui tem muitos livros didáticos de história, seria legal se eu não tivesse lido todos eles.

— Porque ainda estamos longe de chegar ao campo visual dele. — Deu de ombros, esfregando o dedo indicador com os do polegar extraindo a poeira do ambiente. — Temos que ir, docinho. — Desviou o olhar para mim, retornando também a utilizar os nomes afáveis que costumava aplicar, ato que não fizera desde a presença inusitada de James.

James oscilou o olhar entre mim e Jeon, recompondo-se paulatinamente. Os olhos vidraram mais em Jungkook do que em mim, o que me causou a impertinência. Não que eu quisesse ser apreciado, pois quando aconteceu, os olhos assemelhavam-se aos do lobo supostamente preso na floresta.

Senti minha pele formigar e pinicar e quando passei os dedos sobre elas havia se regenerado, felizmente. As unhas daquela maluca havia dilacerado meu rosto. Mas, só precisaria de poções se fosse prata ou ferro por não serem compatíveis.

— Mas e o livro?

O rugido dos lobos aumentou assim que algum deles fora ferido, emitindo o barulho que um cachorrinho indefeso faz de lamúria ao pisar em sua pata.

Havia sobressaltado devido o susto e percebi que fui o único. Jeon e James se comportavam como se não houvesse uma briga terrível de vampiros e lobisomens lá fora. Todos lutando pela espada ou estava planejado surpreender os sanguessugas?

— Pegamos pra ele. Não podemos comprometer alguém que não está na missão oficialmente. Acredite cara, é perigoso. — Rá! Como se ele se importasse...

Andou até James, dando batinhas em suas costas com a mão direita.

— Vou te recompensar com o restaurante chinês. Estou fazendo muito.

— Huuum, o restaurante é melhor do que morrer. — Pronunciou animado, embora estivesse disfarçando a tristeza evidente em seus olhos. O cara queria ir conosco, é fato. Sei pela razão de que derrotar vampiros e lutar contra lulas gigantes nunca fora tão excitante e satisfatório.

Ambos sorriram em concordância e Carter retornou aos livros, procurando alguns dos exemplares de Crowler por sorte, otimista de que estivessem esperando-o.

— Esses livros de magia são esquisitos, mas é um bom começo. — Sussurrou, retornando ao ânimo.

— Pegue o que precisa e vamos dar o fora daqui. Essa sala fede.

Silêncio. Mais nada transmitia sons, rugidos, cabeças sendo dilaceradas ou medula espinhal sendo quebrada.

James virou-se para onde Jeon olhava e notaram pela primeira vez a quantidade de sangue espalhada pela parede, que, mesmo sendo em um único lugar, é considerável bastante. Além de que é de se esperar quando se tem vampiros famintos, presos na catedral por conta do amanhecer.

— Aconteceu um massacre, não é possível.

Jeon andou até a porta pesada, empurrando-a bruscamente. Os músculos do bíceps se tensionaram conforme o esforço, embora eu não quisesse mesmo reparar neles.

Cuidadoso, colocou a cabeça para fora. Não como se tivesse receio, até porque a expressão corporal e o rosto eram como o habitual: destemido.

— Mas que merda. — Comentou, o sorriso ladino nos lábios. — Isso sim é um verdadeiro massacre.

Corpos sem vida se espalhavam pelo chão, rostos desconhecidos. De alguma forma achava que poderia ser Taehyung, por isso procurava algum rosto comum por entre todos eles. Felizmente nenhum como o de Kim ou de Julian. Tenho medo de perdê-los, porque são as únicas pessoas que sabem me curar de verdade, embora eu a recusasse. Estiveram em minhas piores fases, nos meus melhores momentos.

Certo, não tem como sair do internato. E, aliás, não tem por que Taehyung estar entre eles.

Respirei fundo e atravessei a porta, sentindo algo grudento esticar-se sob a sola do meu sapato. Respirei outra vez, ignorando o que eu já sabia ser. Diferentemente de Jeon que abstraía a visão de tudo, com aqueles olhos tão pretos e profundos por ter vivido diversas experiências nomeadas não-tão-boas. Mas, de qualquer maneira, o cara gostava à medida que James tinha ambas as personalidades, torcendo para não vomitar, porém achando interessante como a simples faísca entre os sobrenaturais causara um incêndio inteiro. 

Strong of Character - Quente como o infernoWhere stories live. Discover now