Strong of Character - Quente como o inferno

Os Strong Owls não odeiam uns aos outros.

O comitê disciplinar decidiu, de última hora, a autorização da festa na piscina para acalmar os nervos. Todos estavam tão eufóricos para as finais — tanto espectadores quanto os finalistas — que acabariam atrapalhando o evento.

Não que o correto não fosse treinar para estar preparado, mas a ansiedade quebrava qualquer habilidade que os sobrenaturais tivessem. Além de que distrair um pouco não é tão ruim assim, não é?

Apesar de que, nada de bebidas. Claramente os Strong Owls não deixariam tão barato ou dariam tanta credibilidade a essa ordem — pelo menos não os que passaram para as finais. Embora alguns deles estivessem bebendo como se não houvesse o amanhã, que é bem importante, por sinal.

Entre meu dedo indicador e o dedo médio há um cigarro Marlboro, porque preciso relaxar, já que me divertir na água gelada e sair correndo atrás de garotas com corpos perfeitos vestido de biquínis está totalmente fora de cogitação.

Recostei as costas na espreguiçadeira, extraindo a fumaça pelos lábios vagarosamente. Minha mente ainda não estava completamente inerte e, sim, não achava certo ter que fumar ou beber para conseguir fugir do aterrorizante Eu e ficar um pouco em paz. Quer dizer, não costumava fazer tudo isso desde a mudança ''radical'' em meu comportamento. Acontece que esse ano tem sido realmente difícil suportar alguns problemas que antes pareciam minúsculos e nada é melhor do que um bom porre.

Para ser honesto, nem eu sei o motivo dessa mudança. Foram decepções constante de pessoas e episódios não-tão-bons-assim que aconteceram na minha vida ou será que esse Jimin estava preso por tanto tempo que viera se rebelar agora? Só não quero ter que ficar agradando as pessoas o tempo inteiro, como o habitual. Hoje, pelo menos hoje, não quero ter que pensar em nada.

Taehyung havia sumido de minha vista, uma vez que estávamos na piscina há poucos minutos, com a presença irritante de Jeon Jungkook. Certo, nem tanto assim. Sabe como é, só às vezes. O cara simplesmente imergiu das águas e parecia tão surpreso quanto nós.

— Preparado para as finais? — Observei Jeon sentar no espaço na espreguiçadeira que havia entre meus pés e, olhando dessa maneira, tinha esquecido como minhas pernas pareciam mais brancas quando nuas.

Não. Essa é a resposta que ele quer ouvir?

— Olha, Jungkook — Dei outro trago, não me importando mais sobre razões dele simplesmente chegar do nada e não agir como se não fosse um babaca. — Estamos em um dia tão agradável — Revirei os olhos, esperando que ele não tivesse visto por sob os óculos, que pendiam em meu nariz quase arrebitado. — Por que estragar isso?

Ele sorriu indescritivelmente, com alguns dentes tortos, porém ainda perfeitos e completamente brancos.

O que me faz odiá-lo é o fato de não saber qual das máscaras é a dele verdadeiramente. Ele podia muito bem revestir em expressões quaisquer personalidades que fossem. A simpática, compreensiva, sedutora, amigável, manipuladora e afins. Havia diversas e o que me incomoda é nunca saber reconhecer quais delas é Jeon Jungkook de verdade. Tá que ele seja um demônio um tanto quanto assustador. Mas é só isso?

Era a parte mais excitante. O enigma de conhecer alguém.

— O que quer falar, então? — Deu uma pausa, como os atores cine astros. — Sobre como seu namorado fica ridículo tentando azarar Áurea?

Suspirei, entediado. O que estava querendo dizer, agora?

Joguei o cilindro de cigarro no chão, pisoteando-o com a ponta do chinelo e vendo-o esmagar.

— Ela? — Indaguei, com o riso cínico evidente na questão. — Meio impossível.

Já não era novidade o quanto a menina me odeia, ainda mais sem motivo nenhum. Até que considerava a cretina antes que ela me humilhasse na frente de todos, na festa de final de ano do ano passado. Não tinha nada a ver com Taehyung, é claro. Mas Áurea, com seus olhos verdes e os cabelos louros nada mais era que uma patricinha. Até onde eu sei, não faz o tipo dele.

— Tão impossível quanto todos amarem ver Penny gordona e o Sr-Pardee-Super-inflado pulando na piscina.

— Ela não é a sua namorada? — Senti o corpo de Jeon deslizar para mais perto, alcançando minhas pernas. — O que está fazendo aqui?

Sabia que eles haviam terminado faz um tempinho, mas se isso realmente o incomodava quais intenções eram as dele comigo?

— Não acredita em mim, né? — Ele se afastou justamente quando a eletrização do corpo dele estava passando para cada partícula do meu e senti um frio na barriga. Ele parecia bem sério, mas aposto que Taehyung teria me contado se fosse verdade. É meu melhor amigo, não há segredos entre nós.

Gesticulando com os olhos pretos, abismais e obscuros para eles, pude os ver. Havia tantas pessoas correndo, saltando do trampolim para a piscina e descendo nos variados tobogãs que estavam projetados em diversas extremidades do lugar que tive de semicerrar os olhos e estreitá-los para que pudesse conseguir vê-los.

Abaixei os óculos com o indicador e polegar à medida que proferi:

— Mas que porra. — Deixei serpentear em meus lábios, ajustando o corpo da espreguiçadeira para olhar com mais clareza. É como aqueles filmes em que um garotinho de dez anos vê algo assustador e surpreendente diante de si e precisa esfregar os olhos para ter certeza de que está realmente acontecendo. É o que, também, os da turma H normalmente faziam quando viam algum de nós utilizando poderes, antes de suas memórias serem apagadas, é claro.

Meu coração estava acelerado, mas ainda sim queria ao menos saber me recompor e não demonstrar que me importava para Jeon Jungkook. Mas, foda-se, existem tantas pessoas no internato, por que se agarrar justamente com ela?

— Certo, bobalhão. — Respirei fundo, forçando um sorriso amistoso. — E por que você se preocupa tanto com isso a ponto de vir me dizer?

— Não é óbvio? — Ele sorrira diabolicamente. — Olha só, eu e você, Taehyung e Áurea. Não vai querer se vingar?

— E por que você estaria disposto a fazer isso?

— Porque você a odeia. — Ele deu de ombros, demonstrando estar entediado repentinamente. — Achei que quisesse retribuir o que ela te fez ano passado. — A voz casual, persuasiva.

Jeon nem estava na Strong ano passado, como que ele sabia dessa merda?

Em outra tentativa totalmente falha de não estar boquiaberto, o encarei singelamente. Seja lá o que ele realmente quisesse, envolvia algo que eu também queria.

— Está putinho com a ex-namorada por ter te trocado tão rápido? — Não queria ceder tão facilmente, mas se talvez ele fosse se agarrar a mim para que os dois vissem não seria tão ruim. Na verdade ele até me convenceria. O Jeon pode ser um babaca quando quer, mas se os boatos de que o cara beija bem estiver correto, eu quem estará com sorte. Ou ele quem será o privilegiado, convenhamos.

Ele a olhou quase repulsivamente e eu sabia exatamente que em suas íris estava praticamente escrito ''aquela garota é louca por mim, voltaria com um estalar de dedos. '' E, é claro, ele também sabia que eu havia compreendido.

— Tenho algo em mente. Vai topar ou tem medo de machucar os sentimentos dela? — Perguntou, fazendo uma voz sentimentalista e cheia de comoção, como se eu fosse mesmo só um poço de emoções fofinhas.

— Quero que ela se foda.

— Ótimo. — Os olhos abismais incendiaram e eu quase tive certeza de poder ver as mais sórdidas maldades ali, mas não como quando ele tentou me assustar nas fases da espada. Eram reais e sérios, além de apenas assustar alguém.