— Não é arriscado andarmos por aí sem a menor preocupação?
— Ele não está na casa. — O corpo recostou-se à parede do corredor, andando lentamente. — Bom, não exatamente.
Ele olhou para mim e sorriu e claramente minha expressão demonstrou que não havia entendido.
— John faz rituais em uma sala que fica em algum lugar da casa. São demorados e precisos. Acho que a essa altura ele sabe que estamos aqui, mas não sabe literalmente aonde. — Os olhos desviaram para a outra extremidade, checando se havia alguma porta aberta. — Não vai ser problema, por enquanto. Ele não pode sair até acabar.
Senti que Jungkook sabia do meu alivio.
— Ele ajudou na morte do seu pai? — Inquiri e ele piscou umas duas vezes antes de voltar para a realidade. Podia ser que não havia superado ou que fosse algo difícil para ele sair comentando por aí. Porém é complexo tentar assimilar o que pode ter acontecido entre a relação de ''irmandade'' entre ele e Crowler, já que trocavam favores. Por que repentinamente Jeon se voltaria contra o cara que estava fazendo algo para si?
— É difícil explicar. — Algo em mim quis indagar se era para ele ou toda a situação devia ser extensamente longa para que ele dissesse em ocasiões como essas.
O silêncio consegue ser mais estonteante que quaisquer tipos de sons. A única coisa que Jungkook havia me dito é que sabia em que lugar a biblioteca ficava, mas que deveríamos nos preocupar com Crowler e deixar os vícios de James para depois.
A cada passo dado sentia meu estomago revirar, contorcer-se e reprimir. Estar escondido na grande estrutura onde o maior feiticeiro reside é de causar colapso e minha sanidade mental não estão lá essas coisas. Acontece que, de alguma forma, o sinto nos observar e rir da nossa cara — ato que fez assim que exterminara minha família. Não sei, apenas acho que algumas coisas ainda não se encaixam ou porque não quero aceitar de fato a ideia de que em breve estarei diante John, dando meu sangue para tirar os dele, lutando pela coisa mais preciosa que antes havia em mim: o meu lar.
Respirei fundo e segui Jungkook. Em todas as extremidades havia escadas e em qualquer ambiente a decoração persistia rustica e inteiramente monótona. Que eu tenha cuidado, porque os cômodos são facilmente confundidos.
— Está sentindo isso?
— O quê?
— Que ele está aqui, nos vendo.
— Bobagem. — A expressão tornou-se insipida, embora eu tivesse visto o canto dos lábios se contrair. — Isso é porque está nervoso.
— Não, Jungkook. Você sabe que...
— Confia em mim. — Ele parou de andar e se enrijeceu, os olhos atenciosos.
— Eu confio. — Minha respiração falhou por um instante e a sensação de finalmente conseguir dizê-lo era libertadora. É como contar algo que está engasgado há muito tempo e perceber que deveria ter o feito antes. É semelhante às asas quando estão livres, debatendo-se contra o vento e absorvendo o ar fresco; como dizer ''eu te amo'' e saber que é amado. É a sensação tranquila que te abriga como música com letras que te definem e um abraço perfeito, capaz de te acolher e te levar para longe sem precisar te tirar dali de fato.
A inexpressividade de Jungkook desvaneceu, também surpreso por eu ter o dito. Porém, ao invés de eufórico ele parecia ainda mais torturado, aparentemente não sabendo lidar com o que estava sentindo, presumo.
— Droga, e como confio... — Sorri, sentindo meu coração aquecer, tornando o peso do fardo cada vez mais leve até que não houvesse nenhum.
Andou em minha direção e dedilhou a mão esquerda por entre meus fios de cabelo, inclinando minha cabeça levemente e atando os lábios graciosamente macios — igual veludo — aos meus.
Na sintonia perfeita meu braço os enlaçara, não recuando sequer momento. O ósculo era lento, carinhoso, apaixonante. Ambas as bocas moviam-se sem pressa, como se não houvesse o mundo acabando lá fora e nossas vidas em jogo. Toda a preocupação estava desaparecendo tão lentamente que parecia nunca ter existido.
Droga.
Eu estou amando Jeon Jungkook.
Não havia nada de sexual. As faíscas eram intensas e meu coração disparava severamente, tão profundo e intenso quanto o mar, os olhos negros de Jungkook, quanto qualquer outro sentimento sentido. É além de emoções, uma loucura interminável e amorosamente detestável. Eu não o quero somente como minha lua. Jungkook se tornou o minha constelação, repleto de estrelas. Fiz dele meu céu, onde sou leve e feliz. O que me faz recordar de um livro o qual Taehyung costumava ler todas as noites antes de dormir:
Amar é o fogo que arde sem se ver;
É a ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É querer estar preso por vontade;
Mas como posso retratar a verdade,
Se tão contrario a si é o amor?
O amor existe para provar que o meu sistema não falhou.
Porque, me ensinaram que gostar de você era pecado,
Só que desse eu nunca me libertei.
E se libertação é desobrigar-me de algo
Talvez eu nunca consiga.
Porque amá-lo nunca foi uma obrigação.
Tampouco escolhido. Os sentimentos são as únicas emoções que não consigo controlar e ser intenso muito menos.
Intensidade é aquela coisa que faz um minuto parecer uma vida. É aquela sensação de desejar vociferar e é o que faz a gente tirar o máximo das situações que vivemos. A quantidade não importa, mas a intensidade sim. Não precisa ser muito, basta ser forte, porque amo com urgência e pressa, mergulhando de cabeça nas marés do amor. Mas, e se Jungkook for mesmo tão raso e vazio a ponto de me mortificar?
Puta merda...
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Strong of Character - Quente como o inferno
Teen FictionO internato Strong Of Character abriga os seres sobrenaturais - que conhecem os três mundos - e os humanos, que pertence somente a um, mas que não sabem que convivem com espécies celestiais. Os diretores resolvem dar a oportunidade de todos terem a...