Um Strong Owl deve ter um tempo para si mesmo.

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Havíamos cortado Yedda em pedacinhos, colocando-os em sacos para que pudéssemos jogar fora. Agimos o mais rápido que pudemos depois do desespero ao pensar se Áurea conseguiria ou não, aliás, o odor havia dado início e emaná-lo por todo o corredor seria uma péssima ideia.

— Acho que não vou dormir tão cedo. — James comentou, esfregando o chão do quarto para limpar o sangue assim que havíamos retornado da missão de despejar os sacos com pedaços de corpos ''imortais'' na lixeira.

Encontrava-me fora de mim, encarando e vislumbrando Áurea constantemente. O corpo de Jimin havia parado de tremer e a espada de Arcanjo havia sumido. Não sabíamos se os anjos teriam mentido para ela, porque fora a própria quem roubou a espada arcangélica ou se havia dado tudo errado, maltratando-a e a torturando severamente.

— Não podemos fazer tanto barulho, são duas da manhã. — Taehyung comentou e James acenou veementemente.

— Se ficarmos trancados aqui o tempo inteiro vão começar a suspeitar. — Murmurei, mantendo a cabeça em outros assuntos. — Sei que não vai aguentar dormir aqui, James. — Gesticulei, apontando com a cabeça para o corpo de Jimin. — É melhor ficar no quarto do Taehyung por enquanto.

— Mas e você?

O vislumbrei, encarando-o sem sequer sinônimo de sono em minha expressão. Provavelmente seria dessa forma daqui em diante. Estar no mesmo quarto que o amor da minha vida inteiramente morto, não era o mais assustador. A sensação de ter podido ter feito algo e não ter tomado uma posição enquanto havia tempo acabava comigo, porque realmente podia ter dado conta, podia ter o salvado, ter anulado a ideia de deixa-lo por vingança. O sentimento de arrependimento e de perda me dominava. Como se não bastasse era ele quem tomava posse da minha mente incessantemente. Cada pequeno detalhe, desde os toques às breves conversas retornava como um soco no meu estômago. Ele havia me dado o mundo, me demonstrado outro universo completamente diferente do qual costumava viver. Eu apertei com tanta força e possessão que o fiz quebrar entre meus braços. Perdê-lo era a última coisa que queria e foi a primeira que fiz ocorrer.

Foda-se que ficaria com Áurea, vê-lo sorrir novamente era o que me faria bem, o que me tiraria do meu constante e deprimente vazio. Estou sozinho, afinal. Sempre estive. E, merda, como estar sozinho parece ser mais triste do que qualquer outro dia e momento. Estar sem Jimin é como desejar querer cometer suicídio e não conseguir nunca, ficando preso na vida de merda que me leva a desejar morrer todos os dias, levando pedaços da minha alma constantemente.

Aonde fora minha sensação de prazer? Era pra tudo isso ser divertido e deleitoso. Deveria estar transando com várias garotas e garotos enquanto sinto-me contente em concluir etapas que sempre almejei, como trucidar Serafim, por exemplo. Porra, para onde havia ido o meu ódio e rancor? Tudo o que precisava agora é ser calculista e frio, sem sentimentos.

Ridicularizei tanto o sentimentalismo que os sinto, agora. Mas que merda.

— Estou bem. — Respondi, de uma maneira que tornasse a inquisição dele ridícula e patética. Contudo, não era. James estava sendo apenas legal em questionar, embora eu não merecesse essa compreensão. — Tentem agir normalmente.

Carter pegara a toalha outrora branca e a pusera dentro do balde, levando-os consigo. Ouvi a porta se abrir e fechar no mesmo ínterim à proporção que resmungavam e pronunciavam palavras que seria incapaz de ouvir. Estava sozinho de novo.

Deslizei para a cama, apoiando os cotovelos em cada perna ao sentar. O quarto não estava intocável, porém, para uma primeira impressão, não suspeitariam tanto. Ouvi algo se locomover e então respirar intensamente. Os pulmões esforçavam-se para que expelissem e resguardassem todo o ar abruptamente. Era Áurea.

Strong of Character - Quente como o infernoWhere stories live. Discover now