Strong Owls não têm tempo para amores não correspondidos.

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O ferimento de Taehyung havia curado, mas este se sentia atordoado psicologicamente ao insistir em ver Jimin. Jungkook e James haviam tentado avisar, porém ele é foi tão teimoso quanto o próprio Park. Acontece que todas as lesões aparentavam estar piores, corroendo e esfarelando a pele alheia, porque o olhar de Jeon denunciava evidentemente o tipo de pensamento.

— Tá, cobre isso aí. — Comentei, usufruindo a voz enojada que costumava ter naturalmente. Ao menos é o que dizem. — Sei o que fazer.

— Então nos fala. — Taehyung pronunciou, nauseado. — Do que precisa?

— Mas antes, — Agarrei o pulso de Jeon Jungkook, que apesar de não desejar demonstrar o quanto doía ver Park daquela forma, esteve sendo bastante transparente. É raro vê-lo chateado ou emanando quaisquer sentimentos. No cotidiano Jungkook sempre pensava em prazer, rancor, sexo, ódio e pecado e, sendo sincera, ele estava finalmente no fundo do poço. Creio que nunca houvesse sentido tristeza realmente, pois parece que as emoções o atacam brutalmente e ele está desesperado e aflito, almejando rigidamente descarregar toda aquela bagunça em algo. Ou alguém.

Havia o levado até o banheiro e tranquei a porta para conversarmos em particular. Se Jimin fosse tão importante quanto suponho e vejo em suas íris medonhas — que entravam em minha mente sem nenhum pudor —, então ele irá aceitar minha proposta.

— Vou fazer o impossível para que dê certo. — Sussurrei e ele contorceu o canto superior dos lábios, reconhecendo o que eu estava disposta a dizer. Ele me conhecia perfeitamente, até porque não havia tido receio para que deixasse fazê-lo. É exatamente por essa razão que Jeon tem tanto poder sobre mim e minha alma acaba sendo vulnerável pateticamente para ele.

Não podia fazer nada a respeito, mesmo se eu desejasse muito. Jeon havia me conquistado desde que queria chegar até meu pai e é irredutível negar algo que está exposto. Ele havia me prendido magicamente para ele e não importa o quanto quisesse evitar, anular o tipo de comoção, nunca daria certo. Jungkook havia roubado meu coração para si desde o primeiro sorriso transmitido para mim. Parecia tão real e tentador, mágico e surpreendentemente incrível no começo. Parecia ser tão... Reciproco.

— E se der vai ter que voltar a ter um relacionamento sério comigo. Me pedir em namoro na frente de todo mundo, sem traições e...

Ele semicerrou a mandíbula, deixando-me inquieta. Engraçado como um fadinha de merda pode ter tudo, sempre conquistando às coisas de maneira fácil e pratico, incluindo o amor de Jungkook. O meu Jungkook. Da pra acreditar? Ele foi capaz de fazer um demônio agir como qualquer outro ser, sem ser uma completa aberração.

— Um pacto? — Ele colocou a língua no interior da bochecha, encarando seriamente a porta. — Podemos conversar sobre isso depois?

— Não. — Senti minha espinha se contorcer e meu estômago dar sobressaltos. — Você não vai mesmo me passar à perna.

— Isso foi culpa do seu queridinho papai, tá lembrada?

Os olhos deles se estreitaram e senti a vontade de chorar, implorar para que ele fosse somente e exclusivamente meu. Qual é? O que Jimin tem demais que eu não possa ter?

Ergui o indicador, contendo-me. Movia-o de um lado para o outro, negativamente.

— Foi culpa sua.

O vi prender o ar ao encarar-me. Ele estava muito, mas muito mesmo, indefeso. Queria poder abraça-lo, beijá-lo, dizer que eu poderia o dar toda a felicidade que ele queria e preencher o vazio que ele certamente tinha. Por que tão cruel, Jeon?

— Ele não cumpriu a parte dele.

— O que você acha que alguém como John Crowler faria? Ele não iria cantar com Jimin e depois fazer tranças no cabelo dele, Jeon. Não ia. — Segurei fortemente em sua camisa rasgada, com marcas da garra de Taehyung, puxando-as para mim como se pudesse trazê-lo para perto. — Você sabia disso desde o início, então se quer que aquele serzinho nojento em cima da sua cama fique mesmo vivo, vai ter que cooperar e ficar comigo pra sempre. — Bati o pé com força no chão, ignorando totalmente o fato de que estivesse berrando dentro daquele banheiro.

— Então vamos fazer o pacto. — Ele murmurou, desanimado. — Mas caso eu não cumpra a minha parte, saiba que aprendi com o queridinho do seu pai. — Retirou meus dedos vermelhos brutalmente e abriu a porta, respirando o ar que havia no cubículo como se estivesse o sufocando. — Fala logo o que você vai precisar.

Passei as palmas de ambas às mãos no rosto na tentativa de anular as lágrimas que estavam presas em minha garganta e caminhei para o quarto novamente. Jungkook sabia que acabava comigo e que eu estava mais que aflita para ter a atenção dele voltada somente para mim. O que custa me amar, fingir que se importa ou me beijar loucamente como costumava fazer? O que vai pesar para ele foder comigo até o amanhecer e depois ir me levar para um dos lugares mais bonitos da cidade?

— Pedaços da árvore de cascalho branco. — Balbuciei, dando meu melhor para que não desabasse na frente deles. — Sangue de duplicata, descendentes de Amara ou Silas, um cálice e sangue humano.

Senti mãos acolhedoras e confortáveis em meus ombros e desejei imensamente que fosse Jungkook, que ele olhasse em meus olhos e dissesse que estou bonita hoje ou como fico melhor ainda sorrindo. Quero que seja ele para que peça para eu dar um dos meus melhores sorrisos e ter o dele como retribuição. Mas, ao levantar a cabeça, eram Taehyung e James reconfortando-me desumanamente. Era uma graça como os dois se comoviam, porém não é deles de quem quero comoção.

— Vou atrás dos pedaços de árvore. — James abriu a janela e a pulou aventureiramente, como se quisesse sair dali há muito tempo.

— Cálice. — Taehyung ergueu as mãos, anunciando a nova missão que estava prestes a fazer, saltando da janela também.

Qual o problema deles? Por que não usar a porta?

— Beleza, eu fico com o sangue. — Jeon olhou para Jimin uma ultima vez antes de finalmente me apreciar. — E com os descendentes.

— Amor, — O chamei, a voz tremida e cheia de medo pela reação inesperada dele. — Me explica. — Mordi os lábios, porém mesmo assim não impedi que as lágrimas saíssem, deslizando por minha pele mornamente.

— Não é a hora, Áurea.

— Então quando é, porra? — Abaixei a cabeça, exausta demais para vislumbrar Jungkook. Minhas mãos cobriam meus olhos. — Você é um demônio, merda. Por que por ele? Me diz.

— Eu sei. — Murmurou baixinho, quase inaudível, como se se arrependesse a cada instante. Não sei se por amá-lo ou por tê-lo feito morrer. Isso deveria me amedrontar, porém faz com que eu queira ainda mais o manter por perto. — Mas nem eu tenho uma explicação plausível pra isso. É uma loucura.

Jungkook se aproximou novamente do guarda-roupa e retirou a camiseta rasgada do corpo, substituindo por outra cor-caqui, que raramente utilizava já que a maioria de suas vestimentas eram pretas e algumas brancas. Sentia falta de como a pele cheirava masculinidade, que combinava com o agridoce do meu perfume.

Ele se aproximou e, como se quisesse foder ainda mais comigo, desferiu um singelo selar em minha testa como quando fingia me amar durante tempos. Jeon apenas brincava comigo e tinha prazer em fazer isso. Contudo, se é dessa forma que vou o ter por perto e aparentemente é o único jeito de fazê-lo se divertir com a minha presença, vale a pena arriscar minha sanidade mental apenas para tê-lo. É, vale muito. Muito. Muito.

— Tenho que ir. — Se afastou rapidamente, deixando meus sentimentos desprovidos de proteção e abrigo. — Tenta não ser vista com Jimin e se sair, tranque tudo.

Ele saíra pela porta e quando a fechou soube que havia quebrado meu coração em pedacinhos e o levado consigo.

Strong of Character - Quente como o infernoWhere stories live. Discover now