- Principalmente sem mim - completou D. Violeta, mãe de Ligia entrando na sala. - Você sabe que eu acho que ele já teria morrido ou qualquer coisa parecida se não fosse o fato de estar casado comigo.

-Também não exagera, querida - replicou o velho senhor Rubião. - Eu acho que ter tido você nesses meus longos anos foi uma coisa muito boa. Mas dizer que sem você eu não viveria, ah, ah, ah - brincou o velho. - Pois saiba, Wanderley, que todas elas são assim. Acham-se o máximo. Ainda mais depois que um idiota disse aquela frase: "Atrás de um homem bem sucedido sempre vem uma grande mulher".

- É verdade, Wanderley - reforçou a senhora colocando os pratos na mesa. - Você sabe que as mulheres sempre foram melhores em tudo.

- É - sorriu tímido Wanderley, acostumado a grandes debates, não podendo ser contra a nenhum dos dois.

- E você concorda com elas? - perguntou o velho. - No meu tempo, homem era mais homem nesse ponto.

- Papai, o senhor está ofendendo Wanderley.

- Não, querida, eu não estou chamando o seu namorado de maricas. Estou dizendo que os homens eram mais solidários.

- Mas vocês são - lembrou d. Violeta, - ah, como são. São capazes de entregar as mães por solidariedade um com outro.

- Nossa – assustou-se Ligia, - eu nunca pensei que fosse tanto.

- Minha filha, é pior - respondeu a mulher. - Homem é tudo igual.

- Você está vendo, Wanderley - retornou o sogro, - elas são terríveis. Não lhes dê muita confiança.

- Pois sim - ralhou d. Violeta saindo da sala.

- Vamos comer, meu rapaz - convidou o velho gentil, - você deve estar com fome.

- Sim, senhor - respondeu Wanderley.

Sentam-se à mesa e jantam ainda continuando com o debate de marido e esposa em torno do homem e da mulher, como deve ser, como deveria ser...

Naquela noite, ao voltar para casa, Wanderley estava convicto de que Ligia era a mulher de seus sonhos.

Não havia nada que pudesse fazer os dois se separarem. Todos no colégio já diziam e, é claro, que sempre se encontravam Ligia e Wanderley juntos. Estudavam juntos, saiam para o intervalo juntos, corriam juntos de manhã e se alguém chamasse um para uma festa qualquer, ou qualquer evento, é claro encontraria o outro.

O amor de ambos fora se tornando uma coisa elementar. Era como se se dissesse Romeu e Julieta, Tristão e Isolda. Essas coisas tolas que muita gente diz de um casal que se dá muito bem. Eram inseparáveis o tempo todo. Gostavam-se muito e disso nascia aquela dependência de estarem sempre perto. Não havia necessidade de se separarem já que estudavam para o mesmo vestibular: economia, queriam as mesmas coisas e tinham o mesmo tempo livre. Estar sempre juntos apenas melhorava a vida estressante de um vestibulando.

Houve então a primeira decepção: ele passara no vestibular e ela não. O pai dela lhe dera o maior apoio, mas fora infeliz ao lhe dizer que ela era mulher e não havia necessidade de ter um curso superior, ainda mais que namorava um bom rapaz, talvez o melhor que ele conhecera e que ela deveria se dar por contente, etc, etc, coisas de pai machista que queria ver a filha dona de casa feliz.

Ligia não passara no vestibular, e jamais passaria em qualquer outro que houvesse tentado. Não tentou. Esperou pacientemente a vida de Wanderley se desenrolar na escola e no meio do curso já estavam noivos. Os seus pais nessa época, queriam fazer a filha desistir de um casamento tão rápido. Os pais de Wanderley pediram muito ao rapaz que esperasse pelo menos a formatura. Não houve jeito. Quando ele estava no último ano, para se formar, aconteceu o casamento e a maravilhosa lua-de-mel. Viajaram para o sul do país. Conheceram muitas pessoas, parentes que nunca viram. Wanderley jamais conseguira entender o porquê da mudança radical que sofrera Ligia depois dessa viagem.

Quando voltaram, o clima entre os dois era de muita tensão e se Wanderley, por acaso se atrasava um pouco depois das aulas era já motivo de brigas e desconfianças por parte da mulher que neste ínterim, fazia exatamente o que o pai dizia que deveria fazer uma mulher: ficar em casa esperando o marido chegar e ser só sua mulher. Tirando o fato que Ligia não era o tipo de mulher que seu pai previa, a dócil e meiga empregada do senhor machão. Ela era o tipo de mulher fútil que nenhum homem gosta. Aquela que se veste para esperar o marido chegar e quando chega não sabe sequer ser amável. Dependente total de suas empregadas, Ligia não sabia, ou não queria fazer um café dentro de casa. Passava os dias futilmente a imaginar coisas que pudesse estar fazendo o Wanderley.

Homem que se preza não suporta relacionamento de tal dependência. Não há um só homem no mundo que queira que sua mulher lhe seja totalmente dependente e como Ligia, não respire sem pedir permissão. Há nisso tudo um asco, uma vontade de fazer outras coisas, de ter outras pessoas, e Wanderley, é claro não fugiu a regra.

O FILHO DE BERTAजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें