Capítulo VII - Wanderley e Ligia

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Quando Wanderley ainda estava no segundo grau e conheceu Ligia, era um rapaz de muitas atividades como sempre o fora. Mexia com movimento estudantil, criava suas próprias ideias e levava seus amigos a fazerem o que quisesse. Sempre fora um esportista e talvez por isso mesmo tenha se enamorado de Ligia que na época, era a campeã do colégio em corridas de curtas distâncias. A moça tinha um corpo perfeito, era dócil e meiga, coisa que cativou o rapaz tão logo a conhecera.

Começaram o namoro e fizeram planos. Wanderley muito apaixonado, ela sempre atenciosa e carinhosa. Não faltavam elogios de ambas as famílias ao encontro tão importante desses "dois feitos um para o outro".

Um belo dia, Wanderley fora com Ligia jantar na casa desta e se encantou também pela família maravilhosa que se lhe apresentou naquela noite. O pai dela com atenções e delicadezas ao futuro genro e a sogra desdobrando-se em pratos deliciosos para "segurar o namorado pela boca".

- Você não acha - perguntou o pai de Ligia, - hoje em dia as coisas são muito mais simples que antigamente? No meu tempo as pessoas eram muito mais fechadas e não havia essa facilidade de se comprar coisas por exemplo.

- Como assim, senhor? - perguntou Wanderley, deixando o velho explanar suas ideias.

- Você veja bem, por exemplo, no seu caso. Estuda em um bom colégio e vai fazer uma faculdade, com certeza. Havia muito menos escolas no meu tempo e muito menos pessoas chegavam a fazer um curso superior. É claro que não existiam também tantas faculdades - concluiu o velho, - uma ou outra escola e olhe lá a qualidade. As pessoas precisavam de trabalho e não havia essa necessidade de diplomas, de experiência, como hoje em dia é necessário. Mas não havia também tanto trabalho.

- Hoje em dia há muitos desempregados, senhor - respondeu Wanderley.

- Sim, há! Mas olhe bem como andam distribuídas as coisas. Há pouca mão de obra em um lugar repleto de empregos e há muita necessidade em outros lugares escassos de gente. O que te falo, meu filho, de facilidade hoje em dia, é da própria evolução do mundo moderno. Hoje se viaja mais rápido e se conhece coisas mais facilmente. Há por exemplo no jornal de hoje que precisam de médicos no norte do país. Essa confusão do plano "Mais médico" resolveu alguma coisa? Não resolveu e não vai resolver nuca. É fácil para nós lermos e sabermos disso. Antigamente nem se falava em norte, nordeste...

- Eu acredito, senhor, que o mundo moderno caminha para uma grande solução de seus problemas, mas também que a própria evolução leva o mundo a ter outros problemas - disse Wanderley medido as palavras para falar com o futuro sogro. - O senhor não concorda que antigamente a vida das pessoas era mais saudável?

- Claro, meu filho, mas hoje em dia, por exemplo - repetia a frase que mais gostava em seus discursos, - o jovem não pensa tanto em futuro. Quer mais é beber, fumar, tomar drogas, essas coisa de que ouvimos falar. É claro que há exceções. Você, por exemplo - de novo a frase - é um bom menino. Minha filha sempre me diz que você além de bom aluno é um ótimo atleta. Não bebe, não fuma.

- Não, senhor - respondeu Wanderley. - Pretendo mesmo concluir meus estudos e justo neste ano, pretendo passar no vestibular e me dar bem em economia.

- Muito bem! E vai passar mesmo - corroborou o velho sorridente. - Mas você não acha que namorar neste ano vai te prejudicar? Essas mulheres...

- O que que tem essas mulheres? - perguntou Ligia entrando. - Já está falando mal de mulher de novo, papai?

- Eu? Que isso?

- Eu que isso? - criticou Ligia. - Wanderley, papai está sempre falando mal de mulheres, mas eu acredito que jamais conseguiria viver sem uma.

O FILHO DE BERTAWhere stories live. Discover now