Capítulo XIX - O casamento de Giuliano acaba

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O casamento durou mais alguns meses. Um dia, Carmem entrou em casa e disse a ele:

- Querido, eu acredito que a gente deva se separar.

- Como? Por quê? - perguntou Giuliano atônito.

- Porque eu acho que a coisa está toda errada. Erramos desde o início e acho que temos um tempo pra acertar e um tempo pra errar... – começou a se explicar. - Nós temos que aceitar a situação. Não nascemos um pro outro. Não adianta forçar a barra. Pra que continuar juntos se não nos temos mais aquela mesma afeição de antes?

- Carmem, por favor, explique-se melhor - pediu ele.

- Giuliano, você não gosta de mim como eu gosto de você. Você está começando a se sentir preso a mim, precisa levantar voo, e não consegue porque tem uma esposa. Há um mundo lá fora, querido – ela sorriu e abriu os braços para exibir o tamanho do mundo.

- Carmem, a gente está casado esse tempo todo e eu nunca te traí – ele estava assustado. – O que está acontecendo?

- Eu te traí, Giuliano. Eu te traí, e peço desculpas, ou não peço nada. Eu acredito tanto que desculpas não servem pra nada – ela disse isso de supetão se sentando no sofá.

- Mas me traiu como, Carmem? - perguntou ele com lágrimas nos olhos. - Me diga o que aconteceu. Eu posso entender...

- Não! Eu não quero que você entenda, Giuliano – ela falou olhando para ele. - Entenda sim o que eu vou lhe dizer: - Eu não quero mais ficar casada com você! Eu acho que você precisa viver a sua vida e a sua natureza. Há dias você vem sonhando e conversando em sonhos com vários ex-namorados. Meu amor, como combinamos no início, vamos conversar sério e interromper o que não pode continuar.

- Mas, Carmem, a gente tinha feito planos...

- Desfazemos, querido. Você acha legal a gente ficar se enganando mais tempo? Não há traição. Não, eu não seria capaz de enquanto estivesse com você pensar em outro homem – ela sorriu triste.

- Por que então? – implorou ele.

- Porque há pessoas que você gosta mais que a mim, e há uma vida inteira pra você viver, não ao meu lado...

- Você está sendo tão prática, mas tão má – ele tinha lágrimas nos olhos.

- Má? Eu? Escuta bem, eu quero o seu bem. Quero que a gente continue amigos e que sempre que precisarmos usemos o ombro do outro, mas vai à luta, Giuliano. Procure o que te possa fazer feliz, querido. Não sou eu essa pessoa.

- Eu não sei o que dizer...

- Não diga nada! Não piore mais as coisas – ela passou a mão nos cabelos dele. - A gente hoje dorme juntos, se você quiser, amanhã eu volto pra minha casa. Resolvemos o que tiver que ser resolvido depois. Se é que tem alguma coisa a ser resolvida...

- Eu não sei - titubeou Giuliano deixando as lágrimas escorrerem pela face.

- Não queira saber, querido. Vem Vamos dormir.

Foram pro quarto. Tiveram a pior noite de amor de suas vidas e nenhum dos dois dormiu. Era o fim e nem mesmo pensar no por que conseguiam. Tentariam outra coisa. Eram jovens e amavam-se muito...

- Pensei tanto em Carmem hoje - diz Giuliano a Wanderley quando estavam na cama.

- É mesmo?

- É eu estava lembrando de quando a gente era casado.

- Ih, e está com saudade? - perguntou Wanderley virando-se para o amigo.

- Não. Você sabe como é o que sentimos um pelo outro. Nosso relacionamento foi muito bom e muito aberto. Até no dia em que a gente terminou tudo foi tão tranquilo... Não sei, talvez o fato dela se casar de novo me preocupe.

- Olha, a gente já viu que se preocupar com o que os outros fazem não tem nada a ver... De repente, é a chance que ela tem de ser mais feliz, pois eu acredito que ela é feliz por existir – enfatizou Wanderley.

- Como assim? – perguntou Giuliano.

- Como assim, Giuliano? Carmem é uma pessoa que sabe o que quer e sabe viver cada pedaço da sua vida. Eu acredito que ela seja feliz até mesmo sendo infeliz. Ela é concreta, sabe? Ela tem fibra e muita personalidade.

- Você está falando da minha ex-mulher – Giuliano riu. - Me deixa até com ciúmes. Gosta mais dela que de mim?

- Bobão! Eu amo você mais que tudo que já amei na vida. Eu acho até que a gente deveria se dar pôr felicíssimos por termos um ao outro. A gente se completa em tudo, Giuliano. Não há um só casal de homens, que seja tão feliz como somos nós.

- Eu também acho, querido – Giuliano beijou o companheiro. - Acredito até que tudo o que passamos foi importante pra chegarmos ao estágio atual. Essa tranquilidade, essa paixão eterna, que pode acabar ou não, esse fogo que temos, creio que veio de muitas merdas que fizemos antes.

- Eu acredito que tudo deva ter o seu momento mágico e ideal. Não haveria continuidade se tivéssemos tido um caso na adolescência, Naquela época em que éramos malucos e sem nenhuma direção de vida.

- Eu confio, Wanderley, que tudo tenha realmente seu ponto básico e de encaixe. Um dia, descobrimo-nos e nos encaixamos.

- E que encaixe, hem? - brincou Wanderley.

- Eu não estou dizendo desse tipo de encaixe não, oh.

- Eu sei, mas estamos falando tão sério que precisa brincar um pouco. Eu acho que nós só temos como crescer agora. Não há mais barreiras pra nossa união. Nossos amigos - Wanderley deitou-se no peito do amigo, - todos nos aceitam e nos convidam a visitá-los, gays ou não. Sonia por exemplo é uma pessoa maravilhosa...

- Ela disse a Carmem que ela não deveria se casar comigo por que eu não gostava de mulher – lembrou Giuliano.

- É mesmo? - perguntou Wanderley.

- É, rapaz, era minha amiga também e foi lá dizer pra Carmem que eu era gay e que ela ia levar a maior ferrada em se casando comigo.

- Que amiga, hem? – brincou Wanderley.

- Mas ela me disse isso - explicou Giuliano. - Ela também me procurou antes do casamento e me cobrou uma posição em relação à Carmem. Disse-me que gostava muito de nós dois e que sabia que não iria longe. Pediu-se somente que não fizesse Carmem sofrer.

- Que legal - comentou Wanderley. - Eu acredito que não tenha passado por nada disso por que eu não me acreditava gay até Ligia matar o meu filho e me aparecer o Gustavo.

- E ele? Onde anda? – perguntou Giuliano.

- Não sei. A última notícia que tive foi que ele estava morando em Recife e estava bem.

- Que bom. Eu gostaria de conhecê-lo...

- Verdade? A gente pode depois que voltar da Itália ir até Recife e procurá-lo – comentou Wanderley.

- Por que? Está com saudade? – disse com tom de zangado Giuliano.

- Ai, ai, ai. Eu? Claro que gosto muito dele. Foi com ele que tudo começou, querido, mas prefiro você – Wanderley beijou o companheiro.

- Lindo. Eu amo muito você.

- Eu também, demais da conta - respondeu Wanderley beijando novamente seu amor.

Deitaram-se e se amaram. Livres de qualquer confusão mental, livres de quaisquer fantasmas do passado. Amaram-se da forma mais linda do amor. Amaram-se e dormiram felizes e abraçados.

O FILHO DE BERTAWhere stories live. Discover now