Capítulo LIII - Decisões de Wanderley e Giuliano

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Giuliano, no trabalho, nada conseguia produzir de bom e seus fiéis empregados evitaram o dia inteiro de incomodá-lo, deixando o patrão nos seus devaneios.

Pensava na vida que teriam que levar agora que a criança estava pronta pra ter alta do hospital. Levá-la-iam pra casa? Teriam que cuidar daquele negócio molengo e chorão? Criança é uma coisa muito complicada para um homem cuidar. E se chorasse à noite? O que fariam com ela? Giu não tinha a menor consciência de como cuidar de uma criança.

Culpava Wanderley o fato de ter assumido perante a família de Berta a paternidade da criança. E talvez, realmente fosse ele o pai. Ele já tivera outro filho. A mulher não deixou nascer, mas ele já tivera outra gravidez na vida.

Giuliano lembra-se que apesar de tentarem de tudo, Carmem e ele jamais conseguiram ter um filho. Será que ele era estéril? Se fosse, com certeza o filho era de Wanderley. Será que Wanderley sabia disso e por isso mesmo tinha assumido a paternidade da criança?

Mas ele estava tão bem. Estava se sentindo o maior homem do mundo. Uma esterilidade comprovada agora não lhe faria mal nenhum. Com relação ao casamento que vivia, ele não podia engravidar e nem mesmo Wanderley. Se o filho fosse de Wanderley ele seria tão pai quanto.

O telefone tocou e ele atendeu:

- Pois não?

- Giu – ouviu a voz de Wanderley do outro lado da linha, - Berta teve alta do CTI. Já está no quarto.

- Que bom, Wanderley – alegrou-se o amigo. - O que você está fazendo agora?

- Nada! Já encerrei meu expediente hoje. Por que?

- Porque eu também. Você quer tomar uma cerveja comigo na Churrasqueira? Estarei lá em dez minutos.

- Não serei tão rápido, mas creio que lá chego em vinte minutos. Um beijo daqueles grandes.

- Outro – encerrou a ligação Giuliano rindo.

Fechou a gaveta a chave, e pensou no marido. Precisava fazer com que nada mudasse entre eles. Não podiam agora simplesmente como Wanderley queria, dizer a Berta que não queriam mais a criança.

Será mesmo que ela queria que eles quisessem a criança? Será que não foi muito da cabeça dela querer ter um filho e botar a "culpa" neles? Talvez eles tivessem que passar por isso, mas estava sendo muito ruim a situação.

Encontraria Wanderley no bar e conversariam. Precisavam chegar a um denominador comum entre eles mesmos para saber o que fazer.

Entrou no bar meio sem graça e sentou-se a uma mesa qualquer. Esperaria Wanderley chegar e nem sabia o que dizer ou como começar a dizer qualquer coisa.

Não tardou muito e Wanderley entrou no bar e logo viu Giuliano.

- Há muito tempo me esperava? - perguntou ele?

- Não, meia cerveja, talvez, - respondeu Giuliano.

- O que está acontecendo, Giu?

- Nada, Wanderley. Eu estou muito preocupado com Berta e principalmente com essa criança.

- Eu também, e você sabe disso.

- Sim, eu sei. Mas o que me preocupa realmente é essa sua vontade atual de não querer mais o filho. Você soube de alguma coisa que possa ter feito sua ideia mudar tanto?

- Não. Não soube nada que você não saiba também, mas eu prefiro que a gente não se envolva tanto nessa história. Creio que foi um direito dela nos contar a verdade, foi um direito dela querer ter o filho, e é um direito nosso assumir ou não essa criança.

- Wanderley, que coisa maluca - ponderou Giuliano. - Você diz que simplesmente podemos esquecer o fato e pronto.

- Eu sei que isso é um papel de calhorda e cretino, mas acho que podemos conversar com Berta e não assumir esse filho pelo bem da própria criança.

- É exatamente esse o problema: - Eu também não quero uma criança chata, bisbilhoteira e insuportavelmente terrível correndo na minha sala e quebrando meus bibelôs, mas não podemos esquecer que é nosso filho e que precisamos dar atenção.

- Giu, você não está me entendendo. Eu não quero largar a criança e Berta na "rua da amargura" e continuar vivendo como se nada tivesse acontecido. Quero viver com você como se tudo isso tivesse acontecido e a gente tivesse sabido superar essa crise em que a gente se encontra. Eu não quero perder você porque um dia, uma maluca apareceu e disse: - Toma que o filho é teu! Isso é coisa de música.

- Mas nós vamos continuar vivendo como sempre vivemos. Eu continuo te amando muito e, com filho ou sem filho, é contigo que quero viver e futuramente até morrer.

- Vai morrer comigo, sai pra lá, encosto. Sei lá se você vai antes – Wanderley riu e fez o amigo rir também.

- Eu acho até que a gente cresceu muito com essa história toda, mas agora o importante é conversar com Berta e chegar a um denominador comum. Ela nunca disse que queria que assumíssemos seu filho - lembrou Giuliano. - Você se lembra dela ter dito isso alguma vez?

- Não, mas vai dizer! Ah, vai! Mulher é tudo igual.

- Que isso, Wanderley? - perguntou Giuliano assustado.

- Estou brincando - o rapaz sorriu. - A gente tem mesmo é que botar a cabeça no lugar e conversar. Vamos tomar mais cerveja?

- Claro! Eu hoje estou a mil por hora...

- Por falar nisso - perguntou Wanderley, - que tal se a gente fosse pra aquele motel que a gente ia de vez em quando?

- Você acha? - perguntou Giuliano fingindo-se de tímido. - Eu acharia perfeito, querido. Quebra um pouco essa nossa guerrinha de nervos.

- Ótimo, mas eu não estou com muita pressa não, e podemos ouvir um pouco mais dessa música ao vivo.

- Claro, querido. Hoje podemos tudo!

Os amigos continuam um pouco mais no bar e tomam algumas cervejas e depois saem de carro a caminho da noite. Não estão ainda satisfeitos com o que está acontecendo. Não adianta que digam que querem ou que não querem o filho. Não sabem realmente o que a mãe da criança quer. Mais uma vez o jeito era esperar que as coisas acontecessem. E como chegaram a conclusão de que não deviam esperar sentados, estavam ali a caminho de um motel prontos pra se amarem e viverem mais uma noite a dois. "Amanhã eu penso nisso!"


Churrasqueira - Bar aberto de segunda a sábado no bairro São Mateus. Ótimo!

Scarlette Ohara- E o vento levou

O FILHO DE BERTAWhere stories live. Discover now