Encontrou a mulher dormindo no sofá, ao chegar em casa. Parecia bêbada, mas não estava com cheiro de álcool. Fazendo um grande esforço ele a levou para o quarto, deitou-a na cama, tirando somente os chinelos e foi ao banheiro lavar o rosto. Olhou-se no espelho e sentia-se péssimo. Estava com cara e olhos de quem bebera e detestava essa aparência horrível e o pior ainda gosto de ressaca amanhã. Olhara-se mais uma vez e sentia-se cansado, cansado talvez de tudo que fazia e tudo que ainda teria que fazer agora que a esposa estava grávida e precisava mais que nunca dele. Há quanto tempo queria ser pai, e, justo agora estava vivendo esse inferno. Não era dado a bebida, mas com tudo o que lhe acontecia ao redor, foi muito bom sair, tomar umas cervejas, conversar com o rapaz. A mulher estava sempre a beira de um ataque de nervos, histérica, a empresa estava começando, tudo que começa dá preocupações, o dinheiro, sempre o dinheiro na vida de todo mundo...
Mas ele estaria bem. Se Deus quisesse ele estaria bem e sairia de todas as complicações a que estava sujeito naquele momento. Seria um ótimo pai e teria muito bem como manter e sustentar a casa que aos poucos construía.
Deitou-se ao lado da mulher que parecia dormir tranquila e nem notar a sua presença e deixou-se pensar um pouco mais na vida e no que lhe acontecia nos últimos momentos.
Chegou então a pensar em Gustavo. Coitado. Era um rapaz tão bonito e parecia tão alegre, tão satisfeito da vida e com tantos problemas de solidão. Será que ninguém quereria namorar um rapaz daqueles? Ele tinha muito valor na empresa. Era um ótimo trabalhador, culto, fazia seu serviço e auxiliava todos os outros no escritório, como Wanderley já observara. Ele era a alma da firma, isso o chefe sabia desde que o contratara.
Não podia imaginar que por trás daquela máscara de homem feliz estivesse um sujeito tão só e infeliz. Precisava ajudá-lo de alguma forma, mas como? Fazer o que? Não era do tipo que saia com rapazes. Jamais pensara nisso, ou jamais aceitara que pensara nisso. Não era dessa forma que ajudaria a ninguém. Precisava de repente fazê-lo melhorar na firma. E, em contrapartida, pensou que se o fizesse o rapaz poderia pensar que essa resolução fora tomada por pena. Era melhor apenas ser amigo dele. Poderia ajudá-lo apenas com o ombro amigo e ouvido.
Envolto em vários pensamentos virou na cama e dormiu. Acordou em cima da hora e como estava acostumado, levantou-se, e, sem acordar a mulher, tomou o seu banho e saiu para firma. Depois a empregada a acordaria.
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O FILHO DE BERTA
HumorGiuliano e Wanderley são casados. Depois de vários desacertos nas suas vidas, inclusive casamentos heterossexuais, os dois, com os corações partidos, se encontraram em uma manhã, enquanto corriam na praça do Bairro Bom Pastor em Juiz de Fora. Amor a...