Capítulo XII - Wanderley volta pra casa

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Encontrou a mulher dormindo no sofá, ao chegar em casa. Parecia bêbada, mas não estava com cheiro de álcool. Fazendo um grande esforço ele a levou para o quarto, deitou-a na cama, tirando somente os chinelos e foi ao banheiro lavar o rosto. Olhou-se no espelho e sentia-se péssimo. Estava com cara e olhos de quem bebera e detestava essa aparência horrível e o pior ainda gosto de ressaca amanhã. Olhara-se mais uma vez e sentia-se cansado, cansado talvez de tudo que fazia e tudo que ainda teria que fazer agora que a esposa estava grávida e precisava mais que nunca dele. Há quanto tempo queria ser pai, e, justo agora estava vivendo esse inferno. Não era dado a bebida, mas com tudo o que lhe acontecia ao redor, foi muito bom sair, tomar umas cervejas, conversar com o rapaz. A mulher estava sempre a beira de um ataque de nervos, histérica, a empresa estava começando, tudo que começa dá preocupações, o dinheiro, sempre o dinheiro na vida de todo mundo...

Mas ele estaria bem. Se Deus quisesse ele estaria bem e sairia de todas as complicações a que estava sujeito naquele momento. Seria um ótimo pai e teria muito bem como manter e sustentar a casa que aos poucos construía.

Deitou-se ao lado da mulher que parecia dormir tranquila e nem notar a sua presença e deixou-se pensar um pouco mais na vida e no que lhe acontecia nos últimos momentos.

Chegou então a pensar em Gustavo. Coitado. Era um rapaz tão bonito e parecia tão alegre, tão satisfeito da vida e com tantos problemas de solidão. Será que ninguém quereria namorar um rapaz daqueles? Ele tinha muito valor na empresa. Era um ótimo trabalhador, culto, fazia seu serviço e auxiliava todos os outros no escritório, como Wanderley já observara. Ele era a alma da firma, isso o chefe sabia desde que o contratara.

Não podia imaginar que por trás daquela máscara de homem feliz estivesse um sujeito tão só e infeliz. Precisava ajudá-lo de alguma forma, mas como? Fazer o que? Não era do tipo que saia com rapazes. Jamais pensara nisso, ou jamais aceitara que pensara nisso. Não era dessa forma que ajudaria a ninguém. Precisava de repente fazê-lo melhorar na firma. E, em contrapartida, pensou que se o fizesse o rapaz poderia pensar que essa resolução fora tomada por pena. Era melhor apenas ser amigo dele. Poderia ajudá-lo apenas com o ombro amigo e ouvido.

Envolto em vários pensamentos virou na cama e dormiu. Acordou em cima da hora e como estava acostumado, levantou-se, e, sem acordar a mulher, tomou o seu banho e saiu para firma. Depois a empregada a acordaria.

O FILHO DE BERTAWhere stories live. Discover now