Capítulo I - Wanderley e Giuliano

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Quando Wanderley entrou em casa, o café já estava servido e Giuliano o esperava. O rapaz que entrou, estava correndo na Universidade Federal de Juiz de Fora e deixara o companheiro dormir até um pouco mais tarde, já que na véspera, ele trabalhou até altas horas.

- Querido, você não me acordou por quê? - perguntou o loiro que esperava o atleta da manhã.

- Ah, você ontem chegou tão tarde – Wanderley beijou o cônjuge - recuperou-se do cansaço?

- Sim, mas eu queria tanto correr hoje de manhã...

- Não seja por isso, com você eu corro tudo de novo.

- Não, querido, não se preocupe. Vá tomar seu banho e vem tomar café. Eu espero você.

- Ok! Um beijo.

O rapaz moreno saiu da sala deixando o amigo loiro sozinho, pensando na vida. Giuliano sabia que sua vida mudou bastante depois que se apaixonara por Wanderley. Ambos descasados por incompatibilidade de gênios (?), talvez incompatibilidade sexual, andavam jogados na vida. O emprego de Giuliano, dono de uma firma de serviços gerais, andava deixado de lado como o próprio rapaz e perdia dia após dia, mais serviços... Um belo dia, Giuliano corria na Praça do bairro Bom Pastor, perto de casa, quando passou por ele um belo rapaz de pele morena, olhos verdes, físico de morrer de amor. Giuliano não pode dar mais um passo sem pensar na visão que tivera e na próxima volta não o vira mais. Uma semana talvez se passou antes que Giuliano pudesse reencontrar o corredor de seus sonhos. Já havia se prometido não pensar mais, não querer ver mais. Um belo dia, enquanto corria, a visão reapareceu e foi mais forte. Mais importante ainda, Wanderley puxou conversa dizendo: - "Lindo dia, não?" E um milhão de respostas surgiram e foram depois da corrida tomar um suco juntos, e passaram a correr juntos e passaram a fazer tudo juntos até a morar juntos.

- Ainda não comeu nada? - perguntou Wanderley voltando à sala só de cuecas e ainda molhado do banho que tomara.

- Não, eu estou te esperando.

- Que bom. Eu adoro você. Em que pensava?

- Em nós mesmos - respondeu o loiro - há quanto tempo nos conhecemos, essas coisas...

- Sim. Moramos juntos já há três anos e meio. E não tivemos muito tempo de namoro - respondeu Wanderley. - Eu nunca mais me esquecerei daquele dia que corremos e eu tive a coragem de dizer: "que lindo dia"!

- Eu quase morri de felicidade. Não sabia como dizer nada e de repente você disse.

- Eu também não sabia o que dizer, e queria te ver há mais de uma semana. Quando nos encontramos a primeira vez eu já estava louco por você.

- É mesmo? - perguntou Giuliano - Eu creio que te vi uma semana antes da gente conversar.

- Eu já estava a fim há mais tempo.

- E por que não chegou, cara? - perguntou Giuliano segurando com carinho a mão do amigo.

- Eu acredito, querido - respondeu Wanderley, - tudo que a gente tem na vida vai nos ser dado na hora certa e no momento exato. Não adianta forçar barra, não adianta criar situações, nada. Claro que há sempre aquela frase chave de tudo como, por exemplo: "que dia lindo".

- Você é louco, Wanderley. Por isso eu te amo tanto.

- Amo você também, bobo.

- Minha ex-mulher me ligou ontem - disse Giuliano.

- É mesmo? Que ótimo! Como vai a Carmem?

- Acredito que vá bem, me ligou para me dizer que vai se casar de novo. Ainda não marcou, mas está novamente apaixonada.

- Isso te incomoda? - perguntou o outro.

- Claro que não. Você sabe que nós somos amigos, sem nenhum interesse...

- Graças a Deus!

- Oh, Wanderley, que é isso?

- Nada, querido, eu estou só brincando. Eu gosto muito da Carmem.

- Ela mandou um beijo para você.

- Obrigado, depois você me dá um monte. Onde ela está?

- Carmem? Em Cabo Frio. Você sabe que depois que ela abriu aquele negócio de salgadinhos não sai mais de lá. Está ganhando bem.

- Que bom! Iremos ao casamento?

- Claro, meu amor. Você acha que eu vou perder uma situação dessas. Vai ser muito bom. Já pensou na cara da minha sogra ao nos ver?

- Vai dar bode.

- Deixa de ser bobo. Eu vou cumprimentar a velha na maior elegância, com o maior respeito.

- Do tipo coisa de viado?

- Wanderley, você tira o charme da coisa toda - respondeu Giuliano rindo. - Vou ser gentil com a velha, mas não tão gay.

- Eu sei lá - afirmou Wanderley tomando seu último gole de café. - Eu estou louco para tirar férias. Não aguento mais aquele escritório e aquele povo todo a me encher o saco.

- Calma, meu amor, você está por menos de um mês para tirar férias.

- Graças a Deus! E nós vamos para Roma – exclamou Wanderley levantando os braços.

- Claro! Já está tudo reservado e marcado. Não há mais como voltar a trás.

- Ah, meu Deus, que maravilha! Sempre sonhei de conhecer a Itália e agora poderei fazer isso.

Os amigos se abraçaram, se beijaram e Wanderley voltou ao quarto para se vestir e sair para o serviço. Ainda tinha mais dias para trabalhar antes das férias benditas. Mas tudo estava indo bem, precisava é claro, fazer uma forcinha, e ele sabia como ninguém, fazer uma forcinha. Se não fosse Giuliano sempre a incentivá-lo e fazer com que fosse para frente, não sabia o que estaria fazendo hoje em dia. Mas amava o companheiro e isso era o que importava.

O FILHO DE BERTAWhere stories live. Discover now