Capítulo V - Reunião de amigos

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Reuniões na casa da Sônia são sempre muito boas. Ela sabia como ninguém receber e convidar as pessoas certas. Jamais se encontrariam na sua grande sala de estar duas pessoas que não se dessem bem.

Já estavam reunidos Marcelo e Margarida, amigos de infância, Júlio e a noiva, Rosalva, quando Wanderley e Giuliano chegaram. Cumprimentos feitos, beijos dados, Marcelo estava feliz por ver os amigos que chegaram.

-Há quanto tempo a gente não se vê, Wanderley - diz Marcelo. - O que você tem feito?

- Não muita coisa. Trabalhado como um louco. Acho que todos nós, não?

- É, gente, hoje em dia se trabalha como nunca - diz Edelberto, marido de Sônia - e se ganha como nunca.

Riem da realidade exposta de forma tão sutil.

- Eu acredito que antigamente eu ganhava mais e trabalhava muito menos - diz Giuliano. - Quando eu ainda era casado, tinha tempo de viajar mais, de fazer mais coisas, hoje em dia eu não sei o que acontece...

- Por falar nisso, Giuliano, tem notícias da Carmem? - pergunta Sônia. - Há muito tempo não a vejo.

- Ela passa agora todo o tempo em Cabo Frio. Abriu lá um negócio de lanches. Está bem. Vai até se casar.

- É mesmo? Que legal - diz Júlio. - Quando?

- Não sei ainda, mas faz questão que nós vamos ao seu casamento.

- Isso é ótimo - diz Rosalva. - Vai ser em Cabo Frio?

- Não sei nada, Rosalva. Recebemos hoje um telefonema dela dizendo que pretende se casar, mas que depois explica melhor. Estava trabalhando na hora - expõe Giuliano.

- E com vocês, Júlio? Tudo bem?

- Muito bem - responde o rapaz, - o problema é justamente esse negócio de casamento. Eu quero me casar com ela e ela está amarrando.

- Ah, é? A culpa é minha? - pergunta Rosalva beijando o noivo. - O negócio é que ele anda me enrolando. Já estamos noivos há dois anos e ele sempre diz que quem não quer se casar sou eu.

- Um dia sai, com certeza - diz Marcelo. - Vocês não sabem como é bom se casar, gente. Eu tenho um ano e meio de casado e amo a minha mulher como nunca.

- Que bom, querido - diz Margarida beijando o marido. - Eu nunca pensei também que fosse tão bom.

- Quando a gente acha a pessoa certa, é tudo mil maravilhas - diz Wanderley. - Eu tenho um trauma na vida com o meu casamento.

- Ligia continua te enchendo o saco? - pergunta Edelberto.

- Como nunca! Mas eu não pretendo ficar aqui falando de desgraça. Se é para falar de casamento...

- Fala do atual - diz Júlio interrompendo o amigo. - Vocês dois estão muito bem.

- Melhor estraga - responde Giuliano. - Eu não saberia mais viver sem o Wanderley.

- E eu não quero pensar na hipótese de acabar isso aqui - reponde Wanderley olhando para o amigo.

- Quem mais você está esperando, Sônia? - pergunta Marcelo.

- Viriam Paulo e a namorada, mas me telefonaram dizendo que não poderão porque a filha do Paulo está doente e ele teria que levá-la ao médico. Vocês sabem que a ex-esposa dele enlouquece com qualquer espirro que a filha dá - explica Sônia. - E sempre precisa do Paulo. O pior de tudo é que ela não gosta da namorada dele e acaba tendo que conviver nessas situações.

- É uma confusão essas coisas de criança doente - diz Edelberto.

- E por falar em crianças, vocês dois não pensam na hipótese de arrumar um? - pergunta Marcelo ao casal Sônia e Edelberto.

- Mais ou menos. Ainda não, mas já estamos entrando num acordo de arrumar um para o próximo ano - responde o marido.

- Sim, eu acredito até que ano que vem será bom ter um filho. Agora nós estamos muito apertados de serviço e coisas do gênero - responde Sônia.

- Olha que por causa de serviço, há na Europa cidades inteiras onde não há mais crianças - diz Júlio. - As pessoas só trabalham e mais nada.

- Não, conosco será diferente - responde Sônia.

- Vocês já estão pensando nisso? - pergunta Edelberto a Marcelo e Margarida.

- Sim - responde a mulher sempre envergonhada.- Talvez até eu já esteja grávida. Vou ao médico esta semana.

- Que bom, Margarida - diz Rosalva. - Você será a primeira.

- É, mas eu acho que vai ser muito bom.

- Claro que vai! Uma criança é sempre bom - diz Giuliano. - Conosco não ocorre esse perigo, mas é legal.

- Eu acho que hoje em dia eu não queria ter filho - diz Wanderley. - Acredito que a responsabilidade é muito grande.

- Ah, mas eu gosto muito de crianças - diz Marcelo. - Estou torcendo para o médico dizer que está positivo o exame.

- Seremos todos tios - diz Giuliano.

- Tio eu acho ótimo - diz Wanderley. - Eu acho que enlouqueceria se soubesse que teria um filho.

- Mas não é para engravidar não, Wanderley - brinca Sônia. - Alguém poderia ter por você.

- Oh, Sônia, que brincadeira, engravidar, Cruz credo! - responde Wanderley. - Eu penso é no lado paternalista da coisa. Criar, educar, essas coisas.

- Gente, que assunto mais esquisito. Falar de criança é um porre - diz Júlio. - Eu acho que tem que deixar vir e pronto.

- Por falar nisso, gente, vamos comer que a comida está esfriando - diz Sônia. - Eu não preparei nada de muito chic não, mas é mais para gente poder até beber mais. Vamos para outra sala.

Os amigos se levantam e vão à outra sala onde sobre a mesa a empregada acabara de servir alguns petiscos e um pernil assado lindo para servir de tira-gostos.

Servem-se e conversam sobre várias coisas, exceto crianças até altas horas. É bom sentir-se entre amigos e poder lembrar de coisas antigas já que quase todos estudaram juntos no ensino médio e mantiveram a amizade acima de qualquer conflito e desavença. 

O FILHO DE BERTAKde žijí příběhy. Začni objevovat