Reuniões na casa da Sônia são sempre muito boas. Ela sabia como ninguém receber e convidar as pessoas certas. Jamais se encontrariam na sua grande sala de estar duas pessoas que não se dessem bem.
Já estavam reunidos Marcelo e Margarida, amigos de infância, Júlio e a noiva, Rosalva, quando Wanderley e Giuliano chegaram. Cumprimentos feitos, beijos dados, Marcelo estava feliz por ver os amigos que chegaram.
-Há quanto tempo a gente não se vê, Wanderley - diz Marcelo. - O que você tem feito?
- Não muita coisa. Trabalhado como um louco. Acho que todos nós, não?
- É, gente, hoje em dia se trabalha como nunca - diz Edelberto, marido de Sônia - e se ganha como nunca.
Riem da realidade exposta de forma tão sutil.
- Eu acredito que antigamente eu ganhava mais e trabalhava muito menos - diz Giuliano. - Quando eu ainda era casado, tinha tempo de viajar mais, de fazer mais coisas, hoje em dia eu não sei o que acontece...
- Por falar nisso, Giuliano, tem notícias da Carmem? - pergunta Sônia. - Há muito tempo não a vejo.
- Ela passa agora todo o tempo em Cabo Frio. Abriu lá um negócio de lanches. Está bem. Vai até se casar.
- É mesmo? Que legal - diz Júlio. - Quando?
- Não sei ainda, mas faz questão que nós vamos ao seu casamento.
- Isso é ótimo - diz Rosalva. - Vai ser em Cabo Frio?
- Não sei nada, Rosalva. Recebemos hoje um telefonema dela dizendo que pretende se casar, mas que depois explica melhor. Estava trabalhando na hora - expõe Giuliano.
- E com vocês, Júlio? Tudo bem?
- Muito bem - responde o rapaz, - o problema é justamente esse negócio de casamento. Eu quero me casar com ela e ela está amarrando.
- Ah, é? A culpa é minha? - pergunta Rosalva beijando o noivo. - O negócio é que ele anda me enrolando. Já estamos noivos há dois anos e ele sempre diz que quem não quer se casar sou eu.
- Um dia sai, com certeza - diz Marcelo. - Vocês não sabem como é bom se casar, gente. Eu tenho um ano e meio de casado e amo a minha mulher como nunca.
- Que bom, querido - diz Margarida beijando o marido. - Eu nunca pensei também que fosse tão bom.
- Quando a gente acha a pessoa certa, é tudo mil maravilhas - diz Wanderley. - Eu tenho um trauma na vida com o meu casamento.
- Ligia continua te enchendo o saco? - pergunta Edelberto.
- Como nunca! Mas eu não pretendo ficar aqui falando de desgraça. Se é para falar de casamento...
- Fala do atual - diz Júlio interrompendo o amigo. - Vocês dois estão muito bem.
- Melhor estraga - responde Giuliano. - Eu não saberia mais viver sem o Wanderley.
- E eu não quero pensar na hipótese de acabar isso aqui - reponde Wanderley olhando para o amigo.
- Quem mais você está esperando, Sônia? - pergunta Marcelo.
- Viriam Paulo e a namorada, mas me telefonaram dizendo que não poderão porque a filha do Paulo está doente e ele teria que levá-la ao médico. Vocês sabem que a ex-esposa dele enlouquece com qualquer espirro que a filha dá - explica Sônia. - E sempre precisa do Paulo. O pior de tudo é que ela não gosta da namorada dele e acaba tendo que conviver nessas situações.
- É uma confusão essas coisas de criança doente - diz Edelberto.
- E por falar em crianças, vocês dois não pensam na hipótese de arrumar um? - pergunta Marcelo ao casal Sônia e Edelberto.
- Mais ou menos. Ainda não, mas já estamos entrando num acordo de arrumar um para o próximo ano - responde o marido.
- Sim, eu acredito até que ano que vem será bom ter um filho. Agora nós estamos muito apertados de serviço e coisas do gênero - responde Sônia.
- Olha que por causa de serviço, há na Europa cidades inteiras onde não há mais crianças - diz Júlio. - As pessoas só trabalham e mais nada.
- Não, conosco será diferente - responde Sônia.
- Vocês já estão pensando nisso? - pergunta Edelberto a Marcelo e Margarida.
- Sim - responde a mulher sempre envergonhada.- Talvez até eu já esteja grávida. Vou ao médico esta semana.
- Que bom, Margarida - diz Rosalva. - Você será a primeira.
- É, mas eu acho que vai ser muito bom.
- Claro que vai! Uma criança é sempre bom - diz Giuliano. - Conosco não ocorre esse perigo, mas é legal.
- Eu acho que hoje em dia eu não queria ter filho - diz Wanderley. - Acredito que a responsabilidade é muito grande.
- Ah, mas eu gosto muito de crianças - diz Marcelo. - Estou torcendo para o médico dizer que está positivo o exame.
- Seremos todos tios - diz Giuliano.
- Tio eu acho ótimo - diz Wanderley. - Eu acho que enlouqueceria se soubesse que teria um filho.
- Mas não é para engravidar não, Wanderley - brinca Sônia. - Alguém poderia ter por você.
- Oh, Sônia, que brincadeira, engravidar, Cruz credo! - responde Wanderley. - Eu penso é no lado paternalista da coisa. Criar, educar, essas coisas.
- Gente, que assunto mais esquisito. Falar de criança é um porre - diz Júlio. - Eu acho que tem que deixar vir e pronto.
- Por falar nisso, gente, vamos comer que a comida está esfriando - diz Sônia. - Eu não preparei nada de muito chic não, mas é mais para gente poder até beber mais. Vamos para outra sala.
Os amigos se levantam e vão à outra sala onde sobre a mesa a empregada acabara de servir alguns petiscos e um pernil assado lindo para servir de tira-gostos.
Servem-se e conversam sobre várias coisas, exceto crianças até altas horas. É bom sentir-se entre amigos e poder lembrar de coisas antigas já que quase todos estudaram juntos no ensino médio e mantiveram a amizade acima de qualquer conflito e desavença.
ČTEŠ
O FILHO DE BERTA
HumorGiuliano e Wanderley são casados. Depois de vários desacertos nas suas vidas, inclusive casamentos heterossexuais, os dois, com os corações partidos, se encontraram em uma manhã, enquanto corriam na praça do Bairro Bom Pastor em Juiz de Fora. Amor a...