Capítulo LV - Visita a Berta

3 0 0
                                    

Avisada de que iriam almoçar, Berta esperou os amigos feliz e sorridente. Quando chegaram, parecia um almoço de festa. A mãe da amiga fizera um almoço especial e estavam todos felizes.

- Nossa, há quanto tempo não como um macarrão assim - observou Giuliano.

- Talvez, há nove meses - lembrou Berta rindo. - Eu fiz isso uma noite lá em Roma pra gente. Eu estava com tanta vontade de comer um carbonara que não resisti. Vocês avisaram que vinham e eu pedi à mãe que fizesse pra gente.

- E estava tão perfeito quanto - elogiou Wanderley.

- É claro, querido - retornou Berta. - Eu aprendi com ela. Ou você acha que na Itália eu tive tempo de mexer com cozinha?

- O que é uma pena - interferiu a mãe dela, - Berta sempre cozinhou muito bem. Lá não tem tempo nem de comer direito. Vocês querem sobremesa? Eu fiz um doce de coco...

- Claro que quero - Giuliano interrompeu a senhora. - Desculpe-me, mas amo doce de coco.

Servida a sobremesa, os pais de Berta se retiraram pra sesta habitual e as irmãs saíram pros serviços. Sozinhos, os três não sabiam como começar a falar.

- Você saiu do hospital ontem e já viemos te importunar, né? – perguntou mais afirmando Giuliano.

- Perturbar, Giu? Que coisa mais boba. Onde já se viu amigo perturbar amigo? Amo vocês demais da conta pra tê-los como perturbadores.

- Mas você ainda está convalescendo - observou Wanderley.

- Sim, mas eu não fiz nenhum esforço - afirmou ela. - E o meu médico me disse que eu não devo fazer esforço físico. Físico! - repetiu ela. - Não tenho feito nenhum esforço físico. Mas eu acho – ela olhou-os nos olhos, - que vocês querem me dizer alguma coisa. O que está acontecendo?

- Nada - disseram juntos.

- Eu conheço vocês muito bem. O que está pegando?

- Berta... - começou Wanderley.

- A gente vai ter que viajar - interrompeu Giuliano.

- É mesmo? Que legal! Vão pra onde?

- É que Carmem se casa sábado, e a gente tem que ir lá.

- Claro! – exultou-se ela. - Que pena eu não poder ir também. Ah, há quanto tempo não vejo Cabo Frio...

- Mas a gente queria saber se você vai estar bem... Se está tudo em ordem - inqueriu Wanderley.

- Claro, meninos. Há naquele quarto, vocês ainda nem viram, uma criança que chora de noite e dorme de dia, mas há naquele outro quarto ali, uma mãe que não existe e que está me ensinando tudo o que eu preciso fazer pra que ele fique legal. E eu estou bem. Estou com minha família, não devia talvez, ter me distanciado deles, a necessidade mo obrigou...

- Mo obrigou, é chic, hem? - brincou Wanderley.

- Esse hábito de juntar os pronomes que o italiano faz – ela riu. - É meio Machado de Assis, José de Alencar, pra nós, mas pros italianos não. O que eu quero dizer é que eu estou realmente bem. Não se preocupem com nada. Minha família se mostrou mais uma vez maravilhosa e eu estou em casa. Se eu estivesse em Roma com essa criança, estaria com certeza "perdida e mal paga", não existe uma expressão assim? Mas aqui eu estou me sentindo muito bem. Com esse tempo que tenho pra ficar no Brasil, creio que me adaptarei a criar o meu filho da melhor forma possível.

- Berta, o que você pensa de nós? - perguntou Wanderley direto.

- De vocês? O que vocês querem que eu pense?

- Não sei, Berta - titubeou Giuliano. - Talvez nem Wanderley saiba o que está perguntando. O que você pensa de nós como pais de seu filho?

- Meu Deus! Não sei! - respondeu ela. - Por quê? Está perturbando tanto assim? Vocês não brigaram por causa disso não, né?

- Uma vez só, não - Wanderley sorriu torto. - Mas a gente está muito preocupado com o seu filho.

- Você disse bem, Wanderley: - Com o meu filho! Eu não quero de jeito nenhum que vocês fiquem preocupados com isso ou aquilo porque são os pais do menino. Deixa disso! Eu só contei porque eu achei que fosse uma injustiça não dizer a vocês o que estava realmente acontecendo. Agora parem com isso. Parem de se preocupar com o que pode ou não acontecer a essa criança, primeiro porque ela é minha, segundo porque eu não quero cobrar nada de nenhum dos dois e terceiro porque eu quero que vocês dois continuem se amando como sempre sem interferências.

- Mas, Berta... – Giuliano tentou interromper.

- Nada de mas, querido. Vá casar a sua ex-esposa e depois a gente conversa mais. Eu amo vocês. Agora eu acho que vocês deviam ir lá ver a criança que é o alvo da discussão toda e que ainda não viram hoje...

- Claro - concordaram Wanderley e Giuliano.

Os amigos entraram no quarto e olharam a criança, que em paz dormia. Era dia! Com certeza choraria à noite. Bonita criança. Todo mundo diz. É claro que toda criança recém-nascida é feia e muito feia, mas a hipótese de serem os pais já transformou a criança em um deus grego: lindo! Com certeza eles sairiam da casa de Berta mais pais que o normal de todo dia.

O FILHO DE BERTAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora