•Noventa e Três•

4.2K 294 19
                                    

-Vou falar de uma vez. O avô dela começou a passar mal uns vinte minutos depois que vocês saíram... A gente chamou a ambulância mas ela não subiu o morro... -Senti meu coração falhar. -Filho...

-Ele morreu ? -A linha ficou em silêncio. -Pai?

-Fui na boca, tentaram levar ele pro hospital, mas no meio do caminho ele não aguentou... -Passei a mão na cabeça. -Falei com você porque você conhece melhor eles, vai ser mais fácil contar.

Desliguei o celular e suspirei.

-Amor? -Olhei pra Kim. -Vem ver ele.

-Qual o nome? 

-Minha mãe quer Arthur. -Assenti e forcei um sorriso. -Quem era no telefone?

-Meu pai. -Falei e dei um sorrisinho pra ela. Entrelacei meu braço no pescoço dela e ela me levou até o quarto.

João segurava seu filho com os olhos brilhando, Isabella olhava tudo sorrindo e chorando.

-Oi, cunhadinho. -Falei baixinho me aproximando deles e João me olhou feio. Já o bebê me olhou com seus olhos incrivelmente azuis.

 Já o bebê me olhou com seus olhos incrivelmente azuis

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

-Vai começar... -Ri e neguei. -A gente vai ter que ficar aqui, ele nasceu prematuro e Isa passou muito nervoso. -Ele falou e assenti.

-Então vai precisar de mais roupa? -Perguntei e Isa assentiu.

-Eu vou com o Ale... -Kim começou a falar mas interrompi ela.

-Amor, fica com a sua mãe, vou com o seu pai, tenho que entregar o pagamento da boca também, já faço isso e ele fica livre. -Falei e ela assentiu, João ficou me encarando mas acho que ele entendeu e apenas assentiu.

Ficamos mais um tempo lá, depois nos despedimos delas e fomos pro carro.

-Então, o que está acontecendo? Você já me deu o dinheiro da boca. -Falou João entrando no carro.

-Vamos fumar um baseado. -Falei e ele assentiu. Ele foi bolando enquanto eu dirigia até um lugar tranquilo no asfalto, paramos de frente pra praia e ficamos no capô do carro

Fumamos o baseado conversando sobre outras coisas, quando eu vi que ambos estavam chapados, decidi contar.

-João, não queria te falar isso hoje porque seu filho acabou de nascer e era pra ser só comemoração... -Comecei e ele me olhou curioso. -Não sei também como falar isso...

-Fala logo, Alex, sabe que não gosto de joguinhos. -Suspirei e pensei em várias formas de contar isso.

-Meu pai me ligou, falou que pouco tempo depois que a gente saiu... Seu pai começou a passar mal. -Ele me olhou e, no seu olhar, percebi que ele já sabia o que tinha acontecido. -Ligaram pra ambulância e eles não...

-Não subiram o morro. -Ele falou e abaixou a cabeça e colocou a mão no rosto.

-Os irmão tentou levar ele pro hospital mas no meio do caminho ele não resistiu. -Falei e João continuou na mesma posição, logo vi que ele estava chorando em silêncio, sem emitir nenhum som se quer. -Eu sinto muito. -Falei e abracei ele que me abraçou de volta com força.

Quase conseguia sentir a dor dele.

Ele não falou nada, apenas me abraçou de volta e depois de uns minutos, ele se recuperou.

-Quem mais sabe?

-Só eu e você, que eu saiba.

-E minha mãe? 

-Não sei. Não falei muito bem com meu pai. -Expliquei e ele suspirou e assentiu.

-Não conta ainda pra Kim nem pra Isa, vamos arrumar tudo, deixar elas curtirem o neném.

-Olha, a última vez que a gente fez isso...

-Amanhã a gente conta. -Falou e assenti. -Agora vamos pegar as roupas pra Isa e pra Kim. -JP falou secando o resto das lágrimas e entrando na carona do carro.

Dirigi até o morro, subimos e quando chegamos na casa dele, meus pais estavam lá com meu irmão. A casa estava arrumada e limpa.

-Mão, você fez faxina? -Perguntei com a testa franzida.

-Não. -Ela respondeu.

-Mentira, fez sim. 

-Eu estava nervosa.

-E doente. -Retruquei e suspirei. -Pai, vem aqui.

Eu e meu pai fomos pro escritório do João.

-Pai, a Dona Sthe sabe?

-Não, só veio ele, falou que o bisneto tava nascendo, ele ficou muito feliz com o nascimento dele. Aliás, parabéns pelo bebê. -Falou meu pai. -E meus sentimentos pelo seu pai. 

-Obrigado. -Falou João.

-Onde ele tá? 

-Os irmãos levaram ele, falaram que iam prepara. -Falou ele e João mandou um radinho convocando os irmão.

-João, quer que eu vá entregar as roupas e volte pra te ajudar em tudo? -Perguntei e ele suspirou.

-Queria dar tchau pro meu filho e minha mulher. -Falou ele bufando e assenti.

-Então entrega você que eu resolvo tudo aqui. -Falei e ele me olhou.

-Tem certeza que vai conseguir? Tem um monte de coisa pra fazer.

-Eu ajudo ele, se quiser. Fiz o enterro do meu pai também. -Falou meu pai e João assentiu. -E posso te garantir que a dor não vai durar pra sempre. -João olhou meu pai nos olhos e vi que ele queria chorar mais, mas mesmo assim, ele apenas deu um meio sorriso.

João deixou os nomes arrumados e foi fazer as coisas, os irmão iam chegando e aos poucos todos estavam aqui. João saiu e foi pro hospital, comecei a fazer tudo. Falei com eles pra não divulgar, expliquei como seria o enterro, a preparação do corpo, caixão, homenagem, e tudo mais.

Depois que tudo estava pronto, já era de noite, João voltou, falou poucas palavras e falou que ia dormir. 

-Pai, vou lá falar com ele. Vão pra casa, deixem a porta de casa aberta. -Falei entregando a chave do carro pra ele.

-Avisa o João que fiz um macarrão e tem carne pra ele, é só ele esquentar. -Falou minha mãe e assenti. Ela beijou meu rosto e meu irmão e meu pai deram um tchau de longe. 

Eles saíram e subi as escadas, dei três batidas na porta e ouvi João mandando entrar. Entrei e ele limpava sua pistola.

-Eae. -Falei e ele fez um sinal com a cabeça. -Queria saber se quer fumar um baseado. Conversar um pouco... Desabafar. -Dei de ombros e ele me olhou por um tempo até assentir com a cabeça.

-Bola um que eu bolo outro. -Falou e assenti.

A gente foi pra varanda do quarto dele, pegamos a maconha, não economizamos e bolamos duas velas e já acendemos. João estava com uma dose na mão e a gente já foi bebendo e fumando e trocando uma ideia.

-Conseguiu ajeitar as coisas do enterro?

-Tá tudo preparado já, vai ser em três dias, de manhã na igreja do morro, depois vai ter o enterro lá no começo do morro, os moradores podem acompanhar, mas na hora de enterrar, só a família e a facção. Depois vai ter uma homenagem no morro, um minuto de silêncio e depois vai ter o baile de homenagem na quadrinha. -Falei e ele assentiu suspirando. -Amanhã quando a gente falar com a Isa e a Kim, a gente divulga no morro. -Conversamos mais um pouco e depois fui pra minha casa, cheguei, tomei um banho, mandei mensagem pra Kim e praticamente dormi. 

Meus pais tão dormindo no quarto de hóspedes e meu irmão na sala. 

Aconteceu 2: Filha do MorroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora