•Trinta e Dois•

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Já faz três dias que estamos aqui. O corretor já veio avaliar a casa, já colocou no site e hoje mesmo, ele pediu a liberação da casa pra exposição.

Ontem, eu, João e Kim passamos o dia empacotado o que levaríamos para o Brasil. Tanto as nossas coisas quanto às coisas do Rafa. Roupas, sapatos, acessórios, lembranças, brinquedos, tudo que não deixaríamos aqui, já que iremos vender a casa assim, com berço e tudo.

Decidi trazer o João pra conhecer um pouco a cidade. Toronto é uma cidade linda.

Coloquei Kim no carrinho dela e ela cochilou durante um tempo, até chegarmos no parque. Acordei Kim e ela logo começou a brincar com o Mike. Me sentei e João sé sentou do meu lado e olhou a Kim.

Depois do acontecido de antes de ontem, não discutimos mais e continuamos normal.

-Você vai morar comigo, não vai? -João  perguntou olhando Kim correr atrás do Mike.

-O Rafa falou que eu e a Kim podemos continuar lá. -Falei e ele me olhou.

-Tá de brincadeira ne, Isabella? Você vai tirar a privacidade deles pra que? Empata foda do caralho. -Ele falou e eu ri. -Não ri não que eu tô falando sério. Quando a gente chegar no Brasil você já pode mandar subir suas coisas porque vocês vão morar comigo e quero ver não. -João falou e ri novamente.

-Ata. Você tá muito pra frente ein, amigão, vamos com calma que você não é dono de ninguém pra querer tá dando ordens. -Falei e ri novamente.

-Tem algum palhaço aqui pra você tá dando risada? -Ele perguntou sério e eu fiz menção de citar ele, mas ele me interrompeu antes. -Depois do carro preto ter nos seguido aqui? Vish, minha filha, vocês vão andar grudada em mim e eu não tô nem vendo. -Falou ele e ri. -Eu ia esperar até o casamento, para fazer um bagulho certo, mas desde quando nois é certo? -Ele riu.

Ficamos olhando a Kim brincar com o Mike. Mas apareceu uma borboleta e Kim é apaixonada por borboleta. Ela começou a ir atrás da borboleta. A borboleta começou a ir mais longe, perto do Rio congelado... O rio congelado.

-João! O rio! -Falei olhando pra Kim e ele logo seguiu meus olhos.

-Kimberly! -Ele falou alto e ela começou a se aproximar do rio.

João saiu correndo, Kim deu dois passos antes de afundar no gelo. Fiquei estática e nem consegui me mexer.

Vi a cena toda em câmara lenta e não consegui fazer nada. João puxou ela pelo braço antes que ela caisse no buraco do gelo e, ainda bem que molhou apenas o pé dela, mas com o susto, ela começou a chorar e Mike queria saber se estava tudo bem e começou a pular nela.

-Olha, filha. O Mike está preocupado e quer saber se você tá bem. -João falou e Kim olhou pro Mike de uma forma teatral.

-Eu não estou bem, Mike. -Ela falou e voltou a chorar.

-O minha princesa, papai já falou pra você não correr assim. -João colocou a Kim de frente pra ele. -Olha, você pode ter se machucado um pouco, mas não precisa chorar tanto. Doeu, eu sei que sim, mas ao invés de você chorar porque se machucou, se levanta, espera parar de doer, limpa, e depois volta a brincar. Ao invés de chorar, você pode sorrir. -João falou e Kim soluçou.

-Mas está doendo, papai.

-Eu sei filha, mas logo logo passa, não vai doer pra sempre. Nenhuma dor dura pra sempre, só você decide quando ela para de doer. -Falou o João e percebi o que ele estava fazendo e sorri.

João estava preparando a Kim para as desilusões amorosas dela.

Eu sorri. Foi um sorriso do fundo do meu coração. Se eu tivesse alguma dúvida do João como pai, não tenho mais.

João está ensinando para ela que a dor não dura pra sempre e que cabe a nós decidir quando para de doer. E ela tem três anos.

João levou Kim para limpar o joelho, secar os pés e trocar o sapato, ainda bem que trouxe meia e sapato reserva, decidi apenas sentar e os esperei com o Mike ao meu lado, me fazendo companhia. Ele se deitou e ficou lá. Mike já esta velho. Quando pegamos ele, ele era velhinho já. Fiz carinho em seu pelo. Não sei o que vai acontecer com a Kim quando ele se for. Nem com mais ninguém, Mike já é da família.

Passamos o resto do dia lá no parque, ao anoitecer, voltamos para casa e o corretor estava fechando a porta do mesmo.

-Que ótimo que nos encontramos. A apresentação foi um sucesso, quatro casais já querem comprar, dois estão incertos e um desistiu pela concorrência. -O corretor falou e soltou uma risada.

-Que ótimo. -Falei e ele assentiu.

-Bom descanso para vocês. -Ele falou e se foi. Entramos e João foi fazer a janta enquanto eu dava banho na Kim.

Coloquei o pijama nela e deixei que ela ficasse no chão. Fui para o meu quarto e tomei um banho, coloquei uma camisola e fui para a cozinha.

-Eu vou deixar cozinhando e JÁ volto. -João falou e passou por mim me dando um selinho e entrou no quarto.

-Filha, vamos arrumar a mesa. -Falei e ela veio do sofá.

Arrumamos a mesa e João chegou e já tirou a lasanha do forno.

-Lasanha, papai? -Kim perguntou com os olhos brilhando.

-Sim, meu amor. -Ele falou e colocou a panela de arroz e uma travessa de batata-frita.

-João, ela só tem três anos. -Falei e ele revirou os olhos.

-Ela não vai comer sempre. -Falou ele e serviu a Kim. Colocou arroz, lasanha e um pouco de batata-frita.

Comemos e conversamos, depois eu lavei a louça e decidimos assistir um filme. Deitamos no sofá com a Kim no nosso meio e pegamos um cobertor. Colocamos um filme de bailarina e ficamos assistindo, até Kim pegar no sono. João levou ela pro quarto e voltou.

-Vamos dormir? -Perguntei e ele assentiu.

Apagamos e trancamos tudo e fomos nos deitar.

Aconteceu 2: Filha do MorroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora