•Trinta e Um•

7.7K 521 21
                                    

-João? -Perguntei dando dois toques na porta.

-Pode entrar. -Falou ele e entrei. João estava só com uma bermuda e parecia concentrado na tela do computador. Me perdi em seu corpo. Ele mudou muito em três anos. Ombros mais largos, mais algumas tatuagens, aquela barba que eu tanto odiava... -Gosta do que vê? -Olho para seu rosto e o vejo me olhando malicioso.

-O que está fazendo? -Perguntei e ele se afastou da mesa e deu dois tapas em sua coxa, me indicando um lugar pra sentar. Fui em sua direção e sentei em seu colo, sentindo sua mão na minha cintura.

-Resolvendo algumas cobranças que tem que ser feitas. -Ele falou e assenti vendo vários números em tabelas e não entendi nada.

-O que são esses números? -Perguntei curiosa e ele sorriu.

-Essa é a quantidade de maconha, pó e pedra que cada boca vendeu, os rendimentos semanais de cada boca que eu sou o dono. Ai tem quem comprou fiado, quem está devendo e quem tem que pagar com a vida. -Ele falou e assenti. -Ai eu mando e cobram eles lá no topo. -Ele completou.

-Parece confuso. -Falei e ele riu.

-Porque você não gosta de números. Mas eu gosto e mantenho cada coisa no seu lugar, gosto de fazer a contabilidade eu mesmo. -Ele falou e deu de ombros.

-Odeio matemática, nem me importo. -Eu falei e ele riu.

-Cadê a Kim? -Perguntou e me levantei.

-Na sala. Agora eu vou tomar um banho. -Falei e ele me olhou no mesmo momento. -De banheira. -Completei e ele abriu um sorrisão.

-Eu te ajudo, amor. -Ele falou malicioso e ri assentindo.

Fomos para o banheiro e enchi a banheira. Mas então lembrei da Kim e parei.

-O que foi? -Perguntou ele parando de tirar a bermuda.

-A Kim está na sala. -Falei.

-Idai? -Perguntou ele.

-E se ela vier nos procurar? -Perguntei e ele trancou a porta. -Ah claro, e se alguma coisa acontecer? -Perguntei óbvia e ele revirou os olhos.

-Ela parece um anjo, nem faz barulho. -Ele falou e veio me beijar.

No começo eu cedi, alguns minutos não matariam, mas então lembrei que eu estava falando de filha do João Pedro e como um baque, a informação veio na minha memória.

-João, a Kim nunca fica quieta. -Falei o empurrando.

-Isa, não se preocupe. -Falei e neguei.

-Vou ver se ela está bem e vou pedir para ficar brincando no quarto dela. -Falei e ele virou revirando os olhos. Mas veio atrás de mim, depois de colocar a bermuda.

-Kim? -Perguntei assim que cheguei na sala e não tinha sinal dela. -Kimberly? -Perguntei novamente e vi que Mike estava calmo.

-Meu Deus, a porta está aberta. -João falou colocando a mão na cabeça.

-João... -Ia falar que ela estava se escondendo, mas ele não deixou.

-Eu vou procurar lá fora. -Ele pegou as chaves do carro e já quis sair correndo.

-João, ela só tá brincando. -Falei segurando seu braço.

-Não Isabella, você não sabe. Pode ser de verdade. -Falou ele meio desesperado. -Qualquer coisa você me manda mensagem, ou me liga, se achar ela. -Ele falou e quis sair de novo, mas continuei segurando ele.

-João, se acalma. -Pedi e ele negou.

-Não, ela pode estar em perigo. Isabella, me solta, a gente pode estar perdendo tempo. -João estava estranho. -Fala com o gerente. -Falou ele.

-João Pedro, olha o Mike. Ela ta brincando de esconde-esconde. -Falei e ele olhou o cachorro que nos observava de longe, deitado. -De onde saiu toda essa noia? -Perguntei desconfiada e ele nem ligou.

-Kimberly. -Ele chamou ela firmemente.

-Você sabe brincar de esconde-esconde? -Perguntei irônica e ele me olhou sério. -É pra você procurar ela. -Falei e ele jogou a chave de novo no pote.

-Não quero brincar. Por que a porta tá aberta? -Ele perguntou quase que agressivo.

-Fui eu que abri? -Perguntei e ele bufou.

-É difícil falar com você. -Ele resmungou e fechou a porta.

-Também é difícil quando você esconde os negócios e mim, mas mesmo assim eu não tô falando nada. -Retruquei irritada.

-Não foi nada.

-Se não foi nada então não tem problema me contar.

-Vamos procurar a Kim.

-Vamos contar pra Isabella o que estamos escondendo. -Falei em terceira pessoa e ele continuou me olhando, talvez tentando pensar se conta ou não.

-Quando a gente tava saindo do mercado, um carro começou a seguir a gente. -Falou ele e senti meu corpo formigar.

-Eu adoro quando você fala "Não é nada" e me solta uma dessas. -Ele abaixou a cabeça. -Kimberly, aparece que a gente não quer brincar. -Falei seriamente e ela saiu de dentro do armário de tralhas, que tem em baixo da escada, nunca entramos lá. Ela apareceu de cabeça baixa.

-Quem abriu a porta? -João perguntou e ela continuou de cabeça abaixada. -Olha pra mim enquanto eu falo. -Falou João e ela levantou a cabeça. -Quem abriu a porta? -Ela não falou nada, João pegou ela no colo e colocou no sofá. -Sabemos que foi você. -Ele falou e ela abaixou a cabeça novamente.

-Desculpa, papai.

-Por que você fez isso? -Perguntou João Pedro.

-Porque foi o que o vovô ensinou. -Falou ela olhando pra baixo.

-Primeiro, nunca abaixe a cabeça pra ninguém. -Ele levantou seu rostinho com o dedo. -Segundo, nunca minta para nós. -Ele falou me olhando. -Terceiro, se você fez alguma coisa errada, você assume o seu erro e arca com as consequências. -Ele falou e ela assentiu. -Não é porque o vovô te ensinou que você pode fazer assim. O que o vovô te ensinou é pra usar em emergência.

-Eu sei.

-Então porque fez isso agora? Estava tendo alguma emergência? -Perguntou João e ela negou. -Não quero que faça mais isso.

-Me esconder?

-Não filha. Você tem que continuar brincando, mas você não pode usar o que o vovô ensina, a não ser que seja em uma emergência. -João falou e ela assentiu.

-Desculpa, papai. -Falou ela e ele beijou sua testa.

-Pede desculpas pra sua mãe e vai brincar no quarto. -Ela se levantou e foi.

-Desculpa, mamãe. -Ela falou abraçando minha perna e beijei seus cabelos.

-Não tem problema, pode ir. -Dei um tapa em sua bunda e ela foi. Olhei pro João.

-Eu sei, eu sei. "Exatamente o que eu tentei evitar e blá, blá, blá..." -Ele falou revirando os olhos.

-Ainda bem que não preciso repetir, tá ficando chato já. -Falei e voltei para o meu quarto pra tomar meu banho.

Aconteceu 2: Filha do MorroWhere stories live. Discover now