•Noventa•

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Mais uma noite que não consigo dormir. Meus pensamentos rondavam a Kimberly que me bloqueou no whats. Hoje é domingo e já são 7:00.

Aos domingos, JP faz um Churrasco chama os envolvidos, goro, carne, drogas e música. Ele falou ontem de manhã que queria conversar comigo e me convidou. Não sei se a Kim falou pra ele e agora ele quer me matar, mas eu vou né, fazer o que.

Fui na boca ver se tava tudo em ordem e estava. Dei um salve nos cara passando a visão e voltei pra casa umas 9:30.

Assim que cheguei em casa, me surpreendi quando vi o portão aberto. Saquei minha pistola e entrei devagarinho. A porta de casa tava fechada, abri e a primeira coisa que vi foi quatro malas grandes, cinco pequenas e uma colorida de rodinha. Estranhei e entrei em casa. Quando olhei pra cozinha, minha mãe fazia comida, meu pai tomava uma cerveja e meu irmãozinho brincava com dois bonecos.

-Mãe? -Perguntei abaixando a arma meio confuso.

-Meu filho, ainda bem que chegou. -Minha mãe falou terminando de fritar o quinto ovo e desligou o fogão.

Veio na minha direção e me abraçou. Coloquei a pistola no sofá e abracei ela de volta.

-Que saudades da senhora. -Falei baixinho no ouvido dela e ela sorriu.

-Também estava, Tex. -Falou e beijou minha testa.

-O que a senhora ta fazendo na frente do fogão? -Perguntei Bravo colocando a pistola na cintura.

-Fazendo comida, oras. -Falou ela e vi que a mesa estava cheia.

-Seu irmão comprou pão, tinha algumas frutas e outras coisas, fiz uma café reforçado. -Falou ela e sorri. -Tá magrinho, né filho? -Ela perguntou e eu ri.

-Não tô. -Falei e beijei a cabeça do meu irmão e abracei meu pai antes de me sentar. -O que estão fazendo aqui? -Perguntei pro meu pai, Jair, enquanto minha mãe, Rosana, cuidava do meu irmão Alec.

-Sua mãe piorou. O postinho não tava mais dando conta da quantidade de remédio e a gente foi tentar em outro consultório, um especializado mas começou operação em Paraisópolis, os policiais tão andando e os ônibus não passam mais por perto. -Meu pai falou. -Eles não tão deixando ninguém do Morro sair e nem entrar. Os moradores nem saem de casa, semana passada duas velhas e quatro crianças morreram por falta de atendimento, ninguém mais tá trabalhando de fora. O postinho ta abandonado. Caju deu a ideia de vir para ca pra fazer o tratamento, aqui tem a melhor clínica que cura câncer do Brasil, e sua mãe quis vir ficar aqui ao invés de um hotel. -Falou meu pai e assenti.

-Tô com alguns problemas, pai. Precisava de ajuda. -Falei o mais baixo possível e meu pai assentiu.

-Tá trampando onde? -Ele perguntou.

-No beco da 4. -Falei e ele assentiu.

-Vamos terminar de comer e me leva la pra fumar um baseado. -Falou e assenti.

Comemos e conversamos um pouco. Depois ajudei meu pai a lavar a louça e minha mãe e Alec escovavam o dente.

-Meu filho, tava pensando em levar o Alec pra passear, aqui no morro mesmo. -Falou minha mãe e assenti.

-Quase na base do Morro, pela rua principal, perto do beco um, tem um bar/restaurante da Dona Jô. A senhora vai amar ela. -Falei sorrindo e pegando minha carteira. -Tem um bazar com várias coisas que você gosta também no beco da 11 perto dos predinhos. -Falei tirando algumas notas e dei pra ela.

-Não precisa, meu filho, eu tenho um dinheirinho...

-Até parece, Dona Rosana. -Peguei a mão dela e coloquei as notas. -Pra você nunca é muito. -Beijei sua mão e ela me abraçou.

Aconteceu 2: Filha do MorroWhere stories live. Discover now