•Setenta e Sete•

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Ale parecia meio nervoso. Se sentou na minha frente e demorou um tempo pra me responder, como se pensasse nas palavras certas.

-Meu parceiro passou uma caminhada pra mim... Nois vai pegar um banco. -Falou ele e um sentimento de medo passou pela minha espinha.

-Amor... A segurança tá melhorando, os bancos tão ficando cada vez mais bem protegido. -Falei e ele assentiu.

-Eu sei amor, mas a gente planejou tudo já. Nois pegou a planta da agência, nois sabe os turnos, tamo bem armado e bem protegido. Amanhã nois vai ver como funciona a movimentação da rua e o tráfego. -Ele falou e senti firmeza em sua voz.

-E se os verme encostar? -Perguntei preocupada

-Nois troca, sem problema. Vamo está bem armado, tendeu?

-E a rota de fuga? Ces sabem que não pode trazer os verme pra cá, né?

-Por isso vamos ver como é a movimentação, mas a rota de fuga já ta preparada, nois vai sair com dois carros, nois vai em um e o dinheiro no outro, depois nois vai abandona os carro e cada um pega uma mochila, vamo ta com três motos e ai nois vai pro miolo da Rocinha, ficar la no bar do Ze, fazendo uma média e ver como rola a continuidade da caminhada, vendo as notícias e pa. Nois tem tudo planejado, amor, não ia entrar em furada, não agora que tenho você. -Falou ele e mais uma vez, senti firmeza em sua voz, o que me acalmou um pouco.

Mas mesmo assim, sei como é esse mundo, os verme não perdoa.

-Só toma cuidado, ta bom? -Pedi e ele deu um sorrisinho e veio na minha direção e me deu um beijo.

-Sempre tomo cuidado. -Falou e passei o baseado pra ele.

Ficamos lá no quarto mais um tempo, então decidimos ver o por do Sol. A minha varanda tinha a visão privilegiada da favela e do por do Sol, que formava o meu paraíso. Fumamos um na varanda e conversamos mais um pouco.

Estávamos deitados na cama, o Sol já se foi e ligamos o ar. Ale estava bolando um baseado e meu pai colocou a cabeça pra dentro do quarto.

-Ah não, olha quem ta aqui de novo. Você não tem casa não? -Meu pai falou revirando os olhos e entrando no quarto. Ale olhou pro meu pai tirando a atenção do baseado e deu um sorrisinho.

-Eae, sogrão. Vem fumar um baseado? -Perguntou Ale e meu pai continuou sério, com cara de bosta, que me fez sorrir.

-Você SÓ vai botar fé quando eu te dar um tiro mesmo ne? -Meu pai perguntou sério e Ale assentiu.

-Encosta, sogrão, vem fumar um pra acalmar os nervos. -Ale falou já acendendo o mesmo.

-Só porque é a minha filha, porque eu não gosto de você. -Falou ele entrando e Ale assentiu rindo.

-Encosta.

-Pai, ce viu o Mike? -Perguntei quando ele se sentou na minha cama.

-O que tem aquele saco de pulgas?

-Não fala assim dele. -Revirei os olhos. -Ele tá andando estranho.

-Ele ta ficando velho, filha. -Meu pai falou e suspirei. -Ele é um cachorro forte, ta aqui por bastante tempo, firme e forte, mas você sabe que não vai durar pra sempre.

-Queria levar ele no veterinário. -Falei e ele riu.

-Tentamos isso uma vez, mas ele quase pulou do carro e quando chegou lá, mordeu o médico e a enfermeira. Quatro vezes. -Meu pai falou e assenti.

-Mas eu vou levar ele. -Falei e meu pai assentiu.

-Eu vou com você. -Ale falou.

-Eu vou amanhã, amor. Não se preocupem. -Falei olhando os dois e Ale passou o baseado pra mim.

-Você não vai sozinha com ele não. -Meu pai falou e Revirei os olhos.

-Eu vou com ela. -Ale falou. -Vamos amanhã de manhã, tenho que encontrar os parceiros SÓ 12:00. -Assenti e continuei fumando.

Conversamos mais um pouco, meu pai fumou também e foi fazer o jantar. Fiquei com o Ale mais um tempo, ai fomos pra sala de jantar e minha mãe já estava sentada.

-Eai, sogrinha, como que você ta? -Perguntou Ale beijando a bochecha da minha mãe.

-Tô bem querido, apenas algumas dores pelo corpo. -Minha mãe falou e Ale começou a conversar com a minha mãe.

Fui pra sala e Mike continuava no mesmo lugar que tinha deixado ele.

-Oh, meu velhinho... -Falei me abaixando na sua frente. -Você não pode ir embora, tá bom? A gente te ama muito, muito, muito. -Falei e beijei sua cabeça lentamente.

-Kim, vem comer. -Meu pai falou da sala de jantar e me levantei.

Fui pra sala de jantar, me sentei ao lado do meu pai e Ale sentou do meu lado.

Nos servimos e comemos. Depois ficamos conversando mais um tempo na sala e meus pais se despediram e subiram pro quarto com Mike.

-Então amanhã de manhã eu venho aqui buscar vocês, mas você não tem aula? -Perguntou ele e dei de ombros.

-Não é tão importante assim. Então até amanhã. -Falei e nos beijamos. Ale subiu na sua moto e se foi. Eu entrei, tranquei a casa e apaguei as luzes.

Subi pro meu quarto e fui pro banheiro. Tomei uma ducha e coloquei o pijama. Deitei e dormi em pouco tempo. Estava morrendo de sono.

Aconteceu 2: Filha do MorroWo Geschichten leben. Entdecke jetzt