•Quarenta•

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Depois do primeiro dia de aula, faltei o resto da semana.

Fim de semana eu fiquei em casa, já que ainda estou de castigo, o que, na minha opinião, é idiotice, nem foi tão grave assim o que eu fiz. Só porque eu fui pra Niterói de moto e passei o fim de semana lá sem comunicação nenhuma. Meu pai colocou o Rio todo atrás de mim e quando cheguei, só faltou ele me bater. Tirou tudo meu. Celular, vida social, tv, computador, mas principalmente, tirou minha bebê.

 Celular, vida social, tv, computador, mas principalmente, tirou minha bebê

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Desde criança, sempre amei moto, arma, adrenalina...

-Pai... -Ele nem deixou eu terminar, já jogou a chave pra mim.

-Seu celular está na sala. Espero que tenha aprendido com seus erros. -Ele falou e ri.

-Tá esperando errado então. -Falei e mandei um beijo pra ele.

-Depois da escola é direto pra casa. -Ele falou e assenti dando tchau.

Peguei meu celular. Arrumei minha mochila nas costas e fui pra garagem.

-Filha. -Falei e abracei seu banco. -Tava com saudade da mamãe? Eu sei que tava. -Falei com voz de bebê.

Montei na moto e fui pra escola na maior velocidade. Chegando lá, cortei de giro, só pra saberem quem voltou nessa porra. Parei a moto na minha vaga de sempre, na frente da escola. Desci e caminhei lentamente até a minha mesa.

Sentei lá e peguei meu maço, acendi um cigarro e fiquei ali na frente até o sinal tocar.

Entrei pra sala e fiquei com fone o tempo todo. Não queria nem estar ali, por começo de conversa.

A aula passou que nem uma lesma manca. Na saída, fui parada pelas meninas do terceiro.

-Eae Kim. -Ela falou, nunca lembro o nome das pessoas.

-Oi. -Falei.

-Faltou a semana toda. Deu b.o pra você? -Perguntou ela é neguei.

-Nunca vou na primeira semana. Só fui no primeiro dia porque me falaram da Milena, ai eu não aguentei. -Rimos.

-Tá indo já? Porque a gente ia fumar um agora. -Ela falou e assenti.

-Vamo ai. -Falei rindo e elas assentiram. -Vamo la na minha mesa. -Fui na frente e me sentei em cima da mesa. Quando olhei pra minha moto, aquele menino tava lá e ele me encarou. Sustentei seu olhar até ele desviar, já que um amigo seu o chamou.

-Se interessou? -A menina perguntou e a olhei. -Não é a única. Ele virou crush de todas. -Falou ela.

-Interessei nada. Não pego menino do Morro. Além do mais, ele que fica me encarando, só encaro de volta. -Falei dando de ombros.

-Bom, pra sua felicidade, ele não é do Morro. -Ela falou e franzi a testa. -Não sei o que ele vem fazer aqui, mas morador ele não é. E nessa semana que você faltou, ele veio todos os dias e parecia procurar alguém. -Ela falou e piscou pra mim.

-Só consigo ver os amiguinhos dele encostando na minha moto. Se arranhar, eu mato eles. -Falei emburrada e ela me passou o baseado.

Ficamos lá durante um tempo, me levantei pra ir embora e elas foram embora também. Caminhei na direção da minha moto, mas aqueles meninos estavam na frente.

-Eae, da licença aqui. -Pedi e caminhei até a moto.

-Cuidado pra não se machucar com uma máquina dessas. -Um menino falou e o olhei, pra mim isso é um desafio.

Dei um sorrisinho meigo. Deixei a mochila no chão, do lado do carro e montei na moto. Liguei e manobrei pra fora. Fui no final da rua e virei, voltei pra direção da escola e chamei no gral cortando de giro. Passei na frente da escola e todos comemoraram. Depois empinei a bunda na moto e voltei pra frente da escola. Peguei minha mochila e olhei pro meninos. Pisquei pra eles e acelerei a moto pra casa.

Parei minha filha na garagem e fui pra casa. Estava sem fome, então subi pro meu quarto, liguei a TV e o computador e fiquei mexendo no celular.

Depois tomei uma ducha e decidi que iria dar uma volta na cidade, já estava na hora de sair de casa.

Coloquei uma lingerie preta e uma calça de couro Preta, uma regata e uma jaqueta de couro por cima. Coloquei minha bota de salto e peguei meu celular. Desci e fui pra magrela. O Sol estava quase se pondo, passei na boca antes. Dei duas batidas na porta do escritório do meu pai e entrei.

-Tá indo a onde? -Ele perguntou me olhando de cima a baixo.

-Vou ir dar uma voltinha. -Falei e beijei sua bochecha. -Volto antes das 1:30. -Falei e são do escritório sem o escutar.

Subi na moto e coloquei o capacete. Disparei pra fora da comunidade.

Com o céu laranja, acelerada cada vez mais o meu bebê, até porque, três meses sem ela é tipo uma tortura. Tá na hora de brincar um pouco.

Comecei a correr que nem uma louca, passando entre os carros, chamando no gral, etc. Logo escutei a sirene da Polícia, olhei pra trás e era logo a tática. Fui parando a moto aos poucos, quando a viatura parou atrás e mim, disparei de lá. Ata que eu vou parar pra verme.

Rodei mais um pouco e quando fui ver, já era 00:00.

Peguei aquela estradinha de terra que eu conheço de cor.

-A competição de hoje está acirrada. Quem ganhará? -Ruan falou pelo microfone. -Que ganhe o melhor! -Ele alou e deu um tiro pra cima, logo os dois carros começaram a correr. Ruan me olhou e arregalou os olhos.

Ruan tem uns  52 anos, já foi preso várias vezes e hoje em dia, ele comanda uma das maiores competições clandestinas de corrida.

-Não acredito! Pensei que tinha morrido. -Ele falou e ri.

-Não é pra tanto. Dei apenas uma pausa, mas já estou de volta. -Falei e ele sorriu.

-Ainda bem, você é a alma desse lugar. -Ele falou e piscou pra mim, os carros já tinham passado a linha de chegada e Ruan teria que anunciar o vencedor. -Você é a próxima. -Ele apontou pra mim e foi correndo subindo em cima de uma camionete, que estava parada do lado de dentro da pista.

A pista na real era em forma oval e de terra, uma pista simples e já gasta e cheia de marcas que eu já conheço bem.

-Quem ganhou? Ah, vocês sabem quem, eu tenho uma coisa mais importante pra anunciar. -Ele falou e me olhou. -Como diz o ditado "O bom filho, a casa torna". Com vocês, competindo depois de três meses afastada, Kim. -Ele falou e apontou pra mim.

Todos viraram na hora e começaram a gritar em animação. Cortei e giro e fui lá pra frente de pernas cruzadas, arrancando mais gritos.

-Bem vinda de volta.

-É bom esta de volta. -E mais gritos.

Aconteceu 2: Filha do MorroWhere stories live. Discover now