"Trouxeste o CD?" Perguntou-me passado alguns segundos.

Entreguei-lho e rapidamente se ouve uma música que passou a ser das minhas preferidas.

I need your love to light up this house, I wanna know what you're all about, I wanna feel you feel you tonight, I wanna tell you that it's alright. (Preciso do teu amor para iluminar esta casa, quero saber tudo de ti, quero sentir-te esta noite, quero dizer-te que está tudo bem.)

"Onde vamos?" Pergunto quando ele avança com o carro para fora da rua.

"À serra, tem uma vista linda mas só dá para ir de carro."

Logo esbocei um grande sorriso. Era mesmo algo assim que eu estava a precisar, com a sua companhia, claro.

"Agrada-te a ideia?" Perguntou.

"Muito."

Tivemos a viagem de carro mais divertida, possivelmente, de toda a minha existência; cantando as músicas do CD que ambos sabíamos de core, apreciando as bonitas curvas e contracurvas do caminho íngreme e claro, rindo as gargalhadas com as nossas brincadeiras.

I'll take you home to mama, let you meet my friends. Cause you don't come with drama so I want you till the world ends. (Eu levo-te para casa da minha mãe, deixo-te conhecer os meus amigos. Porque tu não vens com drama por isso quero-te ate o mundo acabar).

Paramos num pequeno miradouro, construído de propósito para o estacionamento de carros, que tinha apenas um único candeeiro de luz publica que iluminada muito pouco o pavimento com uma luz amarela turva. O ar estava ainda mais gelado do que o habitual devido à altitude mas mesmo assim aventuramo-nos a sair do carro para apreciar a maravilhosa paisagem.

Era idêntica àquela que se via do pequeno esconderijo que o Miguel me mostrou na passagem de ano mas com muito mais amplitude. Era especialmente impressionante como se conseguia ver todas as aldeiazinhas das proximidades, percetíveis pelos aglomerados de casas dispersos; e tudo isto tornava-se ainda mais bonito com o imenso manto negro estrelado que cobria o céu.

"Afinal, depois de mais de dois meses a minha visita guiada à terrinha ainda não acabou."

"Eu disse-te para não subestimares o poder do campo Aurora." Falou orgulhoso.

"Nunca pensei que a cidade pudesse ter tanto a aprender com este lugar."

Quem diria? Afinal até podia gostar disto, que era algo que a cidade nunca poderia oferecer-me. Ou será que só gosto apenas do Miguel?

"Em que pensas?" Perguntou, acordando-me dos meus pensamentos.

"Do quão inesperado tudo isto é. Se há dois meses atrás me tivessem dito que eu ia estar a apreciar toda esta beleza eu iria rir-me na tua cara porque a antiga Aurora nunca o faria."

"Queres dizer que também houve uma transformação na Aurora?" Ele disse divertido.

Será que houve? Ou esta rapariga forte, menos rezingona e que acredita no amor sempre existiu debaixo do muro que ela própria construiu?

"Acho que ambos mudamos muito desde que nos encontramos um ao outro."

"Definitivamente para melhor."

Por muito que a vista fosse linda, estava demasiado frio para ficar cá fora mais do que 5 minutos sem começar a tremer. Agarrei-me a ele na tentativa de receber mais calor humano.

"Tens razão, está muito frio." Disse, apercebendo-se da situação. "Queres ir embora?"

"Não, não quero ir já embora."

Quando a Cidade se Apaixona pelo CampoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora