A Ceifadora
— O quê?! Seus pais tão pensando em se mudar?! — perguntei, surpreso por ouvir aquilo.
— Sim... — falou Elizabete, com um tom de voz desanimado.
Nós estávamos conversando na sala de aula durante o intervalo, quando a Liza disse que tinha algo importante para me dizer depois que terminássemos de comer o nosso lanche, mas eu não imaginava que fosse tão importante assim. Aparentemente, seus pais decidiram que iriam se mudar de repente, e a Liza, claro, não estava contente com isso; muito menos eu, Liza era a única amiga que eu tinha naquela escola, se ela se fosse também... eu estaria completamente sozinho de novo.
— N-não pode ser... eles vão te levar também?
— Claro que sim, eles não me abandonariam.
— Entendo... Pra onde, então?
— São Paulo, eu acho... Eles não decidiram ainda.
— Como assim eles não decidiram ainda? — indaguei, confuso. — Não, espera... Por que eles querem se mudar? Não tem nada de errado com aqui, eu acho...
Nascente é uma cidade pacata, e, embora tenha seus problemas como qualquer outra cidade neste país, não parece ser um lugar ruim para uma família pequena de três pessoas morar, por isso, a decisão dos pais da Liza fazia ainda menos sentido.
— Não sei bem dizer... eles dizem que a gente já passou tempo demais morando aqui, que querem uma mudança de ambiente — explicou ela, vagamente.
— Mas vocês só passaram um ano e meio aqui, não foi? Não sei dizer, porque eu sempre morei aqui, mas isso não parece muito tempo pra mim... — falei.
Liza suspirou, parecendo cansada, então respondeu:
— Eu sei, mas... desde que eu era pequena, meus pais costumavam se mudar constantemente por causa de trabalho e outros motivos, o máximo que a gente ficava num lugar era um ano; sempre foi assim, então pra eles acho que um ano e meio já deve ser mais do que o bastante. Sinceramente, eu também não entendo eles.
— Nossa, quer dizer... Mas você já tentou conversar com eles sobre isso? Sua vida escolar deve ter sido complicada desse jeito, eles não podem te prejudicar assim.
— Claro que já, mas eles não me escutam, dizem que é pelo nosso próprio bem, que mudanças são coisas boas... Eu já tô cansada de falar com eles sobre isso, não sei mais o que dizer — disse ela, repousando sua cabeça sobre a mesa entre nós dois.
— M-mas e eu? Eu sou seu amigo, né?
— Hum? Sim, é claro, por que a pergunta?
— E-eu não quero que você vá... E se a gente parar de se falar? — perguntei, preocupado, sentindo minhas bochechas esquentarem um pouco.
Liza olhou para a rua lá fora através da janela ao nosso lado, pareceu ruminar sobre algo por alguns segundos, então voltou a olhar para mim e perguntou:
— Você tem celular, não é?
— S-sim, minha mãe me deu um faz um tempo pra caso eu me perdesse... Espera, você acha que eu sou tão associal a ponto de não ter um celular?!
— Não é isso, bobo. Pode me dar ele por um segundinho? — pediu ela.
— Hum? Claro... — Tirei o celular da minha mochila, jogada sobre a mesa, quando dei-me conta de algo importante. — Espera, a gente não pode usar celular na sala de aula.
— A gente tá no intervalo, não precisa levar isso ao pé da letra — lembrou ela, pegando o celular das minhas mãos. — Além disso, ninguém liga pra essa regra mesmo.
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Maldições de Sangue
ParanormalArtenis Louis é um estudante do ensino médio aparentemente comum, mas que esconde habilidades nada ordinárias. Ainda se recuperando do desaparecimento recente de sua amiga, um dia ele tem um encontro com três pessoas estranhas em seu colégio e logo...