Estava na hora do funeral e eu tinha um grande discurso para fazer por isso saímos de casa, ela com a sua mão segura à minha, e fomos à igreja, onde o corpo seria levado pela funerária até ao cemitério. Decidimos poupar as pessoas àquela típica e horrível visita à casa mortuária para ver o morto deitado pacificamente na urna aberta, já tinha sido doloroso o suficiente, bastava assim.

Eu, o meu pai, o meu tio e o avô da Aurora carregávamos o caixão por entre todas as campas do cemitério – umas quase abandonadas, outras cheias de flores – até à cova aberta que seria o último lugar de paz do nosso ente querido. O padre da nossa paróquia liderava a multidão vestida de negro, caminhando imediatamente à nossa frente, enquanto espalhava incenso por onde passávamos; a minha avó seguia colada ao caixão, acompanhada pela avó da Aurora e por esta, visto que precisava das duas mãos para segurar a urna no meu ombro.

Chegando ao local, reunimos todas as nossas forças para o poisar cuidadosamente em cima do suporte para a cerimónia e reunimo-nos todos à sua volta. Ela voltou a dar-me a mão. O padre começou a proferir as palavras habituais e eu começava a ficar cada vez mais nervoso por ser quase a minha vez de falar.

"Não sei se vou conseguir fazer isto, Aurora." Sussurrei.

"Claro que consegues, Miguel, eu acredito em ti, o teu avô acredita em ti."

Sim, eu tinha que fazer isto por ele.

"Peço agora ao Miguel Garcia, neto de Manuel Garcia, que diga algumas palavras de apoio e carinho relativamente a esta perda tão grande." Falou o padre.

Todos os olhares caíram em cima de mim enquanto me aproximava do local apropriado para falar, e isso deixou-me nervoso mas não me sentia prestes a explodir e isso era tudo o que eu precisava naquele momento para conseguir falar. Não tinha preparado nenhum discurso, achei que, no momento, as palavras iram estar prontas para saltar-me da boca – e estavam mesmo.

"Quero começar por agradecer a todos que estão aqui presentes para homenagear o meu avô uma última vez, tenho a certeza que nada o faria mais feliz do que ver aqui reunidas todas as pessoas mais queridas para ele." Deixei escapar um longo suspiro enquanto olhava para todas as pessoas que ali estavam, quando cruzei o olhar com a Aurora ela mostrou-me o seu melhor sorriso encorajador. "Para ser sincero, não sei bem o que devo dizer sobre o meu avô neste momento; podia falar-vos de como era tão boa pessoa, do tamanho gigantesco do seu coração, de como ajudava sempre quem precisava, do quão sábio era, de como arranjava sempre soluções para todos os problemas, de como enfrentava todos os dias da sua vida com um sorriso no rosto, até mesmo no final... enfim, de como gostava que todas as pessoas gostassem dele, mas, eu acho que isso, todos os que estão aqui presentes sabem, por isso, vou simplesmente falar-vos de como era ser neto do Sr. Manuel. Quando cheguei aqui, a esta aldeia, à casa dos meus avós, tinha apenas 18 anos, já se passaram dois longos e duros anos; era um miúdo, estava completamente perdido e não compreendia a vida. Os meus avós acolheram-me de braços abertos e por isso, devo-lhes a minha vida. O meu avô passou a ser o meu modelo masculino e ainda hoje, olhava para ele e pensava "quem me dera ser como tu quando for grande", porque apesar de já ter 20 anos ainda não sou grande, ainda tenho tanto para aprender e, meu deus, como eu queria que o meu avô me continuasse a ensinar. Tudo o que sou hoje devo-lhe a ele, que me incutiu os seus valores, que me deu os melhores conselhos, que me encaminhou quando não sabia por onde ir, que me ensinou o verdadeiro valor da vida e que mesmo quando até eu próprio duvidava de mim, nunca deixou de acreditou que eu era capaz. Ele fez de mim o homem que sou hoje e só espero que neste momento ele esteja lá em cima a sorrir, orgulhoso do ser humano que criou. Perdi um ente querido na terra mas ganhei um anjo no céu. Vamos ter muitas saudades tuas, avó, descansa em paz."

Palmas seguiram-se ao meu discurso e eu senti-me incrivelmente aliviado por aquilo já ter passado. Voltei para ao lado da Aurora, que retornou a dar-me a mão.

"Estiveste muito bem."

Mais uns familiares disseram algumas palavras sobre o meu avô, incluindo a minha avó, depois vimos a urna a descer ao subsolo, ser coberta de terra e colocada a campa por cima. No final de tudo já nem tinha forças para continuar a escorrer lágrimas, estava completamente exausto e só queria que este dia finalmente chegasse ao fim.

Ao regressarmos a casa, fiquei um pouco à porta com a Aurora.

"Foste muito forte, Miguel, estou muito orgulhosa de ti."

"Obrigada por tudo Aurora, sem o teu apoio tenho a certeza que não conseguia."

"Ainda bem que consegui ajudar neste momento tão difícil." Ela passou a mão no meu rosto, acariciando-o. "Deves estar a precisar de descansar, queres companhia? Ou preferes estar sozinho?"

"Vai ser uma mudança muito grande e agora preciso de dar apoio e muito mais atenção à minha avó. Preciso de estar um pouco sozinho com os meus pensamentos, para poder organizar a minha cabeça e seguir com a vida."

"Claro que sim, compreendo perfeitamente. Eu vou dar-te espaço mas quero que saibas que estou aqui para tudo o que precisares, basta chamares por mim e eu venho a correr."

"Que fiz eu para te merecer."

E juntamos os lábios, num longo e apaixonado beijo capaz de sarar todas as feridas.

 ♡

Olá amores! mais um capítulo tristonho pq a vida não é um mar de rosas ne mas espero que tenham gostado! 

Bem, por muito que vos quisesse proporcionar mais um episódio das aventuras e desventuras da minha vida, hoje não tenho novidades. Nem mais gajos nem mais nada, simplesmente continuo entusiasmada para saber em que faculdade entrei mas isso só daqui a 2 semanas é que sei. E já que falamos nisso, para todas as minhas leitoras que se inscreveram este ano para a faculdade, contem-me a que se candidataram!

Ah e das minhas 4 amigas mais próximas, 2 já perderam a virgindade. estou a ficar pra trás, tou mesmo a ver que vou acabar por ser a ultima xD

beijinhos, love you all ♡

Quando a Cidade se Apaixona pelo CampoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora