O Sangue de Artenis 02 (Artenis)

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— Tudo bem, mas não vou tolerar mais atrasos, lembre-se disso. Vá se sentar, você parece cansado.

— O-obrigado, professor Cristiano...

Enquanto caminhava até minha cadeira, dei uma olhada ao redor para me certificar de uma coisa.

E, como eu esperava, a cadeira dela estava vazia.

Sim, hoje também, ela não está aqui.

Definitivamente.

Não importava o quanto eu desejasse, ela não estava sentada lá, me esperando com seu gentil sorriso no rosto.

Ela não está aqui.

Desde o início das aulas, ela — minha única amiga, Liza — vinha faltando todas elas. Durante as férias entre o segundo e o terceiro ano, uma tragédia aconteceu, e eu acabei perdendo contato com ela. Desde então, ela sumiu, desapareceu completamente.

Claro, eu havia recebido uma estranha visita dela em janeiro, mas quem poderia dizer se aquilo foi real ou apenas uma alucinação minha, um reflexo do meu desespero?

Talvez ela esteja mesmo morta.

Tal terrível pensamento já passara pela minha cabeça inúmeras vezes. Achava que nunca mais iria vê-la, e aquilo doía meu coração.

Por quanto tempo vou viver na esperança de que ela aparecerá? Que idiota eu sou.

Meus pensamentos continuavam a me torturar.

Ao que parecia, aquele seria um dia igual a todos os outros, chato como de costume. Iria ficar sentado naquela cadeira o dia todo, sem prestar atenção nas aulas, e depois iria para casa, onde então faria meu jantar e esperaria minha mãe voltar de seu trabalho. Mais tarde, dormiria, e, na manhã seguinte, tudo se repetiria.

Tudo que eu desejava era que algo mudasse.

— Turma, hoje vocês receberão mais dois colegas de classe — disse o professor Cristiano, se levantando de sua cadeira e olhando em direção à porta. Então pediu:

— Podem entrar.

O quê? Finalmente teremos novos rostos por aqui, em vez dos mesmos rostos desinteressantes que eu vejo todo dia?

Meu pedido foi realizado ou algo assim?

Uma garota acompanhada de um garoto entrou na sala, e os dois ficaram de pé de frente à turma.

A garota tinha cabelos pretos curtos que chegavam somente até sua nuca — o que quase me fez confundi-la com um garoto, não fosse pelo uniforme feminino do colégio que ela vestia. Seus olhos eram de um verde-claro profundo, sérios e determinados. No pulso de seu braço direito estava uma espécie de bracelete de metal, era um pouco chamativo.

O rapaz que a acompanhava era alto, seus olhos eram castanhos, e um deles, o direito, era coberto pela franja de seu comprido cabelo, que compartilhava da mesma cor. O que mais me chamou a atenção nele foi o cachecol verde-escuro de estampa quadriculada enrolada ao redor do seu pescoço, uma peça de roupa raramente usada naquela região subtropical do Brasil.

Sério, quem usa um cachecol nesse calor?

Então, eles se apresentaram à turma.

— Olá, meu nome é Marcelly Lionheart. Espero ser bem-vinda nesta turma! — A garota animadamente se apresentou.

— Meu nome é Leonardo Cordeiro. — De modo quase robótico, o garoto a acompanhou, contrastando à animação dela.

Eles pareciam muito estranhos; a garota agia muito simpaticamente, e o garoto, de forma extremamente inexpressiva. Era quase como se eles fossem opostos um do outro.

Maldições de SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora