-Toma. -Ouvi a voz da Isa e logo senti sua mão na minha, o que fez minha pele formigar e uma onde gelada passar pela minha espinha. Olha o efeito que ela ainda tem sobre mim.

Bebi a água e Ajudou um pouco, não muito.

-Ele tá bem, mama? -Ouvi a voz da menininha e minha visão voltou na hora, como mágica.

-Ele vai ficar bem, filha. -Isabella falou e deu a criança no colo do Rafael. Desde quando ele tá aqui? -Coloca ela na cama, Rafa. -Isa pediu.

-Vamos dormir, pimentinha? -Perguntou Rafael.

-Não quelo mimir, tio Rick. -A criança falou.

-Mas você tem que ir porque a mamãe vai ter uma conversa de adulto com eles. -Rafael falou.

-E eu não posso ficar? -A criança perguntou.

-Não, você é criança. E criança não pode se meter em assunto de adulto. Criança só tem que brincar. -Rafael falou.

-Então você pode blinca comigo? -Ela perguntou.

-É claro que eu posso, mas você tem que dormir... -Rafael foi conversando com a criança e entraram em um corredor, perdendo ela e o cachorro de vista.

Olhei pra Isabella e ela desviou o olhar, olhei pro meu melhor amigo e ele fez o mesmo, aí olhei pro meu pai.

-Não fica me olhando não, garoto. -Ele falou e revirei os olhos.

-Quem vai me explicar? -Perguntei. -Porque eu quero saber o que caralhos está acontecendo. -Falei seriamente.

-Não pense que pode dar ordens. Não estamos no morro. -Isabella soltou. Desde quando ela ficou tão afiada?

-Pra sua informação, eu também comando a zona sul. -Falei e ela revirou os olhos. -Eu quero saber quem é aquela criança, por que ela chama meu pai de "vovô"? -Perguntei e senti meus dedos formigarem.

-Não vou falar nada agora. -Isabella falou.

-Vai sim. -Falei e me levantei. -Você não pode sumir três anos, não dar nenhuma notícia e pensar que vai ficar assim. Isabella você sumiu e apareceu do nada. Agora com uma criança! Você não pode me deixar no escuro assim! Você sumiu do nada, eu nunca descobri o porque, agora você volta do nada, com uma criança. Não deu notícias durante esses três anos. -Suspirei. -Eu sofri, Isabella. Sofri como nunca tinha sofrido antes.

-Que bom. -Ela falou.

-Eu sei que não é isso que está pensando. -Falei e ela desviou o olhar. -Seus olhos nunca mudam. Você fica feliz por eu ter aprendido uma lição, mas não por eu ter sofrido tanto. -Falei e ela revirou os olhos.

-Não pense que pode me ler, João Pedro. Eu não sou mais a mesma menininha frágil que você se lembra de três anos atrás. Não sou ingênua como antes, não sou frágil como antes, eu sou uma mulher, uma mulher que você não conhece mais. -Ela falou de uma forma agressiva, de cabeça erguida.

-Você ainda é minha mulher. -Falei e ela baixou a forma agressiva. -Você ainda é minha mulher, a mulher pelo qual eu me apaixonei perdidamente, a mulher que eu sempre amei e sempre vou amar, a mulher que eu trai. -Finalizei e ela serrou os dentes. -A mulher que eu me arrependo de ter traído, a mulher que saiu da minha vida e levou meu coração na bagagem. -Completei. -A mulher que voltou e em cinco minutos de conversa, mostrou que ainda tem o mesmo poder sobre mim.

-Pare com isso. Três anos se passaram, você já deve ter me superado.

-Olha nos meus olhos e pergunta se eu já te superei. -Falei me aproximando e olhando ela nos olhos. Ela fez o mesmo.

-Você já me superou?

-Já. -Menti e ela desviou o olhar. Ela percebeu que eu menti. -Viu? Eu não te superei, Isabella, nunca vou te superar. Eu te amo como eu nunca amei ninguém, eu daria a minha vida pra te ver feliz. Eu te trai, eu fui um bosta. Mas você tem que me perdoar, tem que me dar uma chance. Eu juro que nunca mais vou fazer o que eu fiz, nunca mesmo. As únicas mulheres que vão chegar perto de mim é a minha mãe e a Mavi. Só elas, ninguém mais. Eu juro, eu vou ser melhor, Isabella, eu nunca mais vou te decepcionar, trair ou nada do tipo. Eu juro pra você. -Falei e ela suspirou e deu um passo pra trás.

-João, eu não posso aceitar isso simplesmente assim. Não é uma decisão que eu tenho que tomar pensando só em mim. -Ela falou. -Eu tenho que te contar uma coisa. -Ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas. -Você pode mudar o jeito de pensar. -Ela olhou pra cima e logo voltou a me olhar.

-Pode falar. Não deve ser tão ruim assim. -Falei e dei uma risadinha.

-Não vou falar agora. Amanhã de tarde no píer. -Falou ela e assenti.

-Eu vou estar lá. -Falei e dei um sorriso, nunca mais sorri como agora. -Eu te amo, Isa. -Falei e beijei a bochecha dela.

Eu, meu pai e Gusta voltamos pro morro. Eu estava feliz de mais, não saberia como dormir.

Mas e aquela criança?

Aconteceu 2: Filha do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora