"Bem, enquanto vocês ficam a conversar, eu gostava de mostrar uma coisa à Aurora."

"Está bem mas não demorem muito para irmos almoçar!" Respondeu a sra. Adelaide.

Ele deu-me a mão e encaminhou-nos pelas clássicas escadas de pedra da saída do planalto onde estava a capela. As pessoas olhavam para nós e comentavam algo que eu imagino que seja do género: porque é que o neto dos Garcia está com aquela de cabelo rosa? Ele sempre foi tão bom rapaz! E como bom rapaz que realmente era não me podia sentir mais lisonjeada por estar a passar por aquela gente toda de mãos dadas com ele.

Ele estava vestido bastante formalmente, mais ou menos o mesmo estilo que ontem tinha no jantar: camisa, pulôver, calças direitas e sapatos de vela. Que vontade tão grande de fudê-lo.

Seguimos por uma estrada estreito e a descer – como pareciam ser todas naquela terra – e, assim que nos afastamos de toda aquela gente, ele aproximou-se do meu ouvido e sussurrou:

"Não parei de pensar em ti a noite toda."

Agarrei-me a ele e beijei-o, como queria fazer desde que o vi na igreja.

"Eu nem eu em ti."


Voltamos a dar as mãos e a seguir caminho, agora muito mais leves de ansiedade.

"Onde vamos?" Perguntei

"Eu só queria mesmo estar sozinho contigo mas, já que estamos aqui, vou mostrar-te mais uma pequena parte de mim."

Sorri automaticamente e senti o coração mais cheio ainda – adorava a forma como ele me queria mostrar o seu mundo.

Seguimos pelo caminho inclinado – como estávamos extremamente perto da serra do Caramulo, os caminhos podiam tornar-se bastante sinuosos; estavabastante frio – ar gelado desta altura do ano quase que dificultava arespiração – por isso, caminhávamos de braço dado, bem próximos um do outro. Por onde passávamos, a paisagem, sempre calma, ia ganhando algum luxo: em vez das casas pequenas, pouco elaboradas e notoriamente envelhecidas, estas eram agora vivendas construídas em pedras polidas, com bonitos pilares e janelas, casas de construção recente. Estas encontravam-se dispersas, com longos terrenos – alguns cultivados, outros não – pelo meio.

Paramos em frente a um desses terrenos. Tinha uma dimensão particularmente grande, principalmente em comprimento; todo ele estava cultivado com carreiras de videiras rigorosamente paralelas – tratava-se de uma vinha. Por estar situada na encosta nascente, recebia um maravilhoso sol de inverno e a paisagem da planície lá ao fundo era maravilhosa.

"Isto é dos teus avós?" Perguntei.

"Tecnicamente é meu pois os meus avós já fizeram a partilha dos bens."

"É muito bonito aqui."


"Eu sei. É o terreno mais valioso que os meus avós têm e desde que vim para cá que ando de olho nele. Lembraste de me perguntares o que eram aqueles papeis todos na minha secretária?"

"Sim."

"A maior parte são ideia das coisas que eu gostava de fazer com os terrenos dos meus avós, este em particular."

Olhei para ele com curiosidade, para que ele continuasse a explicar a sua visão.

"Eu amo esta terra, é a minha casa, e há alguns anos que estabeleci que o meu maior objetivo era pegar nas minhas capacidades e recursos de modo a dinamizá-la. A população que aqui vive é envelhecida e quando essa geração se for, vai-se também tudo isto. E, sinceramente, algo assim tão bonito não se pode deixar desvanecer."

Quando a Cidade se Apaixona pelo CampoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora