| Little sister, can't believe |

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Sabia que minha mãe tinha conhecimento dela. Da existência dela e talvez até a observasse às escondidas. Minha mãe tem essa habilidade. Desde pequena que nunca tivera ganhado um único jogo de escondidas com ela. E isso deixa-me frustrada, saber das várias maneiras que ela tem agido.

- Mãe, por favor, eu não quero saber de mais nada. - eu digo-lhe.

E por fim tomo essa dicisão. A Alaska permanecia em silêncio a observar-nos. Sabia que aquela pequena menina tinha a vida que nenhuma outra poderia alguma vez ter.

O sofrimento que lhe causaram, foi demasiado. E apenas rezo para que ela não fique com traumas sobre tudo o que lhe está a acontecer.

Eu queria adotá-la, mas adotar a minha própria irmã? Não faz nem o minimo sentido. E deveria deixá-la com a minha mãe, que é nossa mãe. Isto parece tão confuso para mim.

Alaska desce do meu colo e direciona-se a Harry, senta-se no seu colo e eu permito à minha boca dar umas últimas palavras à minha mãe.

- Eu iria precisar que ficasses com a Alaska, pelo menos durante uns tempos até conseguir acabar o estágio. Mal começe a minha vida normal, iriei encaixar horários pela Alaska.

Minha mãe estava ainda com os olhos cheios de lágrimas. Perguntava-me se alguma vez a tivera visto assim e a resposta que me ocorre é que não. Que nunca a tivera viste num estado semelhante ou igual àquele.

Observo-a uma e outra vez e quando ganho coragem deixo que os meus lábios se mexam e a minha voz pronuncie o que ainda me restava em dúvida.

- Se não conseguires... - as minhas mãos enterram-se no meu cabelo e deixo-as escorregarem até ao meu pescoço - Vou ter de a entregar para o orfanato. Eu não posso adotá-la tão cedo.

Minha mãe encara-me, observa a minha face. Estou nervosa, sim eu nunca estive tão nervosa em toda a minha vida e sabia que aquela decisão, naquele momento iria mudar muita coisa. Se fosse um sim, eu poderia seguir a minha vida e um dia entrelaçar a minha vida com a de Alaska. Iria ser uma boa mãe e não apenas uma irmã. Por outro lado, se ela pronunciasse um não, eu teria de a levar para um orfanato e ela teria de permanecer apenas como minha irmã, apenas como sendo mais uma menina que se atravessou na minha vida que visitarei sempre que possível.

Minha mãe estava especada com a minha reação a tudo isto. Vai ser dificíl aceitar que Alaska é minha irmã. Seria eu capaz de alguma vez tratar como filha sabendo de tudo isto? Talvez sim, talvez não. Só o tempo o dirá. Se esse for o melhor remédio.

- Eu fico com ela. - minha mãe pronuncia e desvia o seu olhar até à sua filha, a filha que negou durante os último 7 anos de vida. Os 7 anos mais dolorosos de Alaska e talvez, de um sofrimento para minha mãe.

A ideia de ela ter traído o meu pai ainda se arrasta junto dos meus pensamentos e exponho agora a ideia de convidar o meu pai a entrar nesta casa, ainda hoje e que veja com os seus próprios olhos a minha meia-irmã.

Que a olhe e que consiga dizer-me o que é que esta família foi capaz de fazer para a manter afastada apenas para ter uma vida "feliz" ou "normal" negando alguém que nunca teve culpa de absolutamente nada. E como foi capaz de aceitar minha mãe de novo? Ama-la-ia como sempre amou? O mesmo amor que partilharam quando nasci teria sido igual quando Alaska nasceu?

Não. não foi. E por isso mesmo a deixaram de lado. Talvez seja a vida que queira que eles se reencontrem. Talvez foi a vida que cruzou a minha vida com a de Alaska naquele metro. E talvez fosse o meu coração que se prendeu nos olhos daquela menina que parecia feliz nos braços de Harry.

- Eu não posso deixá-la com a minha família, seria muito dificíl. Não tenho sequer quem posso cuidar dela. Seria impossível. - Harry pronuncia, fazendo-se ouvir. - Peço desculpas.

Minha mãe observava agora Harry, com a pequena menina nos braços ele acariciava os cabelos dela e beijava-a ternamente. Tratava-a tal e qual uma filha.

Quem nos visse fora desta casa, podia muito bem apoderar-se dessa ideia de pai e de filha. Mas para nós, são apenas cunhados com uma diferença de idade enorme que faz Harry cuidar de alguém tão frágil como Alaska. Como a cunhada, Alaska.

- Achas que és capaz mãe? Cuidar da tua filha? - eu digo.

Alaska observa minha mãe. Encara-a como se fosse ainda a primeira vez que viu alguém e mesmo depois de todo o tempo que esteve no seu colo ela volta-se a ela. +

Ela sai do colo de Harry, estica ambas as mãos e pousa-as nos joelhos dobrados de minha mãe.

- Mãe? - ela diz, cuidadosamente ela agarra nos braços de minha mãe puxando ligeiramente a camisola desta - Mãe? - ela enterra a cabeça no peito desta - Que saudades.

Alaska consegue ser tão carinhosa que qualquer um, naquele momento estava capaz de chorar. E claro que a minha reação é mesmo observar Harry, que passa os indicadores por baixo dos olhos.

- Que se passa para esses lados? - eu fungo desviando os olhos do abraço entre mãe e filha e encarando agora, Harry.

- Acho que uma mosca veio contra o meu olho, não tinha sinal de STOP e então ela espetou-se contra mim. - ele diz e funga tal como eu.

Nós tínhamos reunido uma família, desta vez ninguém a conseguiria retirar de nós. Alaska não iria para um orfanato e admito que isso me deixava mais feliz que qualquer outra coisa. Não era algo que ela merecia neste momento nem nunca.

Minha mãe pega-a ao colo e levanta-se. O estado fragilizado de Alaska quanto ao falecido pai ainda a deixara durida e isso permanecia na sua cara. por muito que eu quisesse adotá-la eu nunca iria conseguir. Eu sou incapaz de destruir um laço feito entre mãe e filha. E quando observei o olhar entre minha mãe e minha irmã, soube então que eu não poderia afastá-las e sabia igualmente que se afeiçoariam uma à outra mais depressa do que quando me afeiçoei ao Harry.

Eu sabia que ela iria precisar de um tempo a sós com Alaska e com o meu pai. O meu pai. O que dirá ele? Aceitá-la-ia? Meu pai não é homem suficiente para deixar a minha mãe e muito menos depois de tudo isto. O coração dele é mole e apercebo-me disso sempre que o abraço ou da maneira como ele aceita cada asneira que sou capaz de fazer.

E mesmo antes de sair ela chama o Harry.

- Portem-se bem. Harry, desta vez, eu não duvidarei de ti. Demonstras-te o que és e peço desculpas pelo que julguei de ti. Não fui totalmente justa contigo. Agora apercebo-me disso e estou tremendamente frustrada por ter julgado algo impossível vindo de ti. Desculpa qualquer coisa. - ela diz.

E o meu queixo caí junto do de Harry que disfarça com um bocejo.

- Ora essa Senhora Carter! Está tudo bem. - ele diz e dá um sorriso.

Minha mãe aproxima Alaska para mais perto do seu corpo e fico a observá-las junto de Harry, sairem pela porta. Deixo as minhas mãos escorregaram pela porta logo após a fechar. As poucas lágrimas que ainda me restam nos olhos caem e sinto os braços do Harry enrolarem-me.

- Eu amo-te Ellen, não chores por isto. Não chores, por favor. - ele diz junto ao meu ouvido e beija-me o pescoço logo após.

Sabia que a minha possíbilidade de algum dia poder vir a ser mãe seria nula e não conseguir sentir o que uma mãe sente, nunca seria um dom que me tivera sido entregue. E isso devastava-me.

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora