| Monkey |

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Apanhar o comboio depois de me despedir dos meus pais foi só a melhor coisa.

Espero sair daqui com uma boa média para entrar logo para o trabalho. Os meus 20 anos são para ser bem gastos a trabalhar e a sustentar o que tenho a certeza que é meu e não para estar a dar atenção a alguém que julga que sou sua.

Teria apenas três meses e meio para terminar o ano com sucesso. Teria de me afastar de Harry pois este desapontou-me e virou-me a cara o resto do dia. Não correu atrás de mim, não me chamou, não me procurou. Tentei falar com ele e levei com uma valente indiferença da parte dele.

Desapontei-me. Acabei por não pagar a Luke e a Ashton que por sua vez agradeceram-me e convidaram a entrar lá para uns covers que estavam a aprontar.

Não estava muito interessada, mas podia servir como uma distração para deixar de pensar no Harry, pelo menos durante uns dias.

Deixei o meu número com aqueles dois pandorcas que disseram que me ligavam nas tardes livres. Mas a minha preocupação neste momento é com o Harry, ele não fala, não me liga, não me procura. Acho que algo de errado aconteceu para ele me estar a evitar. E se esse algo é relacionado com a Kim, é melhor ela começar a escolher a cor de rosas que quer que coloquem na sua campa.

Finalmente avisto um acento no metro, e rápidamente me sento com a viola do meu pai sobre as pernas. Encosto a cabeça no vidro junto ao banco e desenrolo os meus pensamentos à volta do Harry ao mesmo tempo que ouço as diversas paragens de metro.

Ouço a minha paragem e os meus olhos abrem-se rápidamente e coloco-me de pé. Saio pela porta que se abre automaticamente e corro em direção a casa. Quero estar sozinha. Agora.

Chamo um taxi para chegar lá mais depressa.

x x x

Corro por entre o relvado e abro a porta, fechando-a logo atrás de mim num brusco movimento de sofrimento. Sabia que não devia lidar com pessoas que tivessem problemas mentais. Está a destruir-me e esta a levar a minha pouca esperança com ele.

Ele não tem culpa de ser assim. Mas está a levar tudo de mim, cada segundo que passo ao pé dele alegra-me mas se ele me deixa é como se um buraco se forma-se dentro de mim e levasse tudo junto dele.

Encosto o meu corpo à porta, escorrego por ela abaixo. A viola cai a mau lado e junto dela a minha dignidade. O Harry foi quem mais me apoiou e de um momento para o outro deixa-me assim.

Levanto-me e limpo as lágrimas. Percorro o caminho até à cozinha de onde observo um pequeno envelope que contém a renda mensal da casa, junto dela um pequeno papel escrito à pressa permite-me ler.

" Não te zangues, hoje mostras-te o que vales! Esquece o facto do teu colega não ter aparecido. Não passa de um idiota! Foste ótima sem ele meu amor; Voltaremos em breve! "

- Dos pais

Mandaram isto rápido, devem ter passado por aqui ates de partirem com certeza. Só agradeço que tenha sido só para isto. O meu pai não deve ter tempo nem para dar falta da roupa que lhe falta.

Mas eles tinham razão. Um idiota. Que me deixou pendurada, cagou completamente para mim no dia em que eu mais precisava dele. Mas não me ralo mais com ele.

Volto ao corredor e agarro na viola levando-a até ao quarto. Pouso-a junto da secretária e observo as folhas estendidas sobre a mesa. A rapidez com que estive à procura das músicas quebrou a minha organização. Sento-me sobre a cadeira e agarro numa caneta do pequeno copo em frente a mim e rabisco algo. Uma vez que quero seguir algo que tenha a haver com desenho eu penso que uns rabiscos me deixem mais aliviada. O desenho consegue aliviar-me quase tanto como a escrita, faz-me relaxar, deixar a minha mão passear sobre o papel com uma caneta presa entre os dedos.

Elevo os riscos acima e abaixo e acabo por passar o resto do meu dia presa à secretária, não que o meu dia fosse muito grande, mas nem almoçei. Deixei-me levar pelo desenho e quando dou pelas horas observo que deixei passarem quatro horas. E finalmente a minha barriga deu alguns sinais.

Assim que resolvo observar o desenho por completo deparo-me com quem eu realmente me importo. Na primeira vez que realmente soube que o amava, mas aquele camelo nunca soube realmente o que era amar alguém, soube?

Desiludida com o desenho coloco-o entre livros e levanto-me para comer qualquer coisa. Desço até à cozinha e vou até ao frigorífico, minha mãe deixou-me fruta, não estava para almoçar nada de especial. O meu estômago reprova vezes sem conta a minha vontade de comer. Mas deixa-se contentar quando acabo a comer uma banana.

Quando volto ao meu meu quarto entálo-me quando vejo uma perna que provém da janela. Um monte de caracóis que é puxado para trás por uma mão e me revela duas esmeraldas nitidamente verdes.

- Seu estúpido, sai daqui! - eu berro enquanto o mando sair com a banana na mão.

- Na minha não agarras dessa maneira Ellen! - ele resmunga e eu arregá-lo os olhos.

- Vais sair? - interrogo.

Mas ele rápidamente salta para dentro da minha área pessoal chamada de quarto.

Chega-se ao pé de mim e os meus ombros caiem. Ele debruça-se e puxa a banana até à boca ferrando um pouco.

Foi até à minha secretária de onde vasculhou tudo o que eu tinha.

- Harry, tu vies-te aqui para quê? - encaro-o.

- Estou à procura de algo. - ele relata.

- Já me apercebi seu macaco, agora levanta-te e sai. Não há aqui nada para ti! - resmungo.

Puxo-o pelo braço e ele levanta-se mas depois não se mexe.

- O que é que queres Ellen? - ele pousa a mão no meu ombro - Não estás contente por eu estar aqui?

Eu sacudo a sua mão do meu ombro e ferro novamente a banana apesar de me ter apercebido que não foi a minha melhor escolha de fruta para a situação.

- Sai daqui! - imponho - Se não, ligo a alguém para te tirar daqui. - agarro no meu telemóvel mas ele baixa-o na minha mão.

- Tu já não gostas de mim? - ele arremela cada palavra.

- Não! Não comes-te a sopa toda, não és bonito! - eu rio-me com as próprias palavras - Logo eu não gosto de ti! Agora sai!

- O quê, Ellen? Tu hoje estives-te tão bem sem mim. - ele diz.

Mando-lhe um murro ao peito e ele queixa-se um pouco. E depois aponto-lhe o indicador contra o peito vezes sem conta enquanto relato e desabafo tudo o que lhe tenho guardado dizer desde esta manhã.

- Tu deixas-te-me com a viola na mão, deixas-te sozinha no palco, deixas-te-me à minha sorte. Ainda tens o descaramento de me dizer que eu, Ellen Carter, não gosta de ti? Eu amo-te é demais para as minhas capacidades! - digo quando o corpo dele se encosta a uma parede.

As paredes de minha casa não são lisas e logo parei quando ele se encostou. A parede irregular e áspera faria rápidamente danos em qualquer um.

- Agora deixa-me sózinha tal como me deixas-te em palco! - atiro e depois encaro-o em frente a ele de pé.

- Ellen, eu recebi... - ele tenta falar.

- Cala-te sua foca anti água! Não quero saber se a Kim te telefonou para te comer! Só quero que saias na minha frente. - berro - Queres que te acompanhe à janela?

- Ellen foda-se, a minha mãe está mal caralho! - ele berra em frente a mim e os seus braços no ar assustam-me.

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora