| But I found in you, what was lost in me |

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- Harry -

Observo os olhares dos pais da Ellen em mim. Eu não quero falhar e sei que tenho de pensar no melhor discurso de sempre para a agradar tanto a ela como aos seus pais. Por isso eu iriei apenas dizer-lhe o que eu sinto e espero que tenha tomado a melhor escolha de palavras e frases. Só rezo mentalmente para que tudo corra bem.

Levanto-me e como toda a gente pousa os olhos em mim eu decido ajoelhar-me em frente a Ellen, sem qualquer problema e concentro o meu olhar nela e apenas nela.

Ellen sentada sobre o sofá fica nervosa, parece que ainda mais nervosa do que quando discuti-mos e bastou o facto de me ajoelhar para que as suas bochechas se avermelhassem logo. Sabia que iria ser um longo discurso mas não foi por isso que eu desisti, eu tinha de acreditar que me iria sair bem. Tinha de ser.

Ellen entende as mãos até mim e eu aperto-as acariciando-as, deixava-me menos nervoso se eu estivesse em contacto com ela, era como se estivéssemos só eu e ela e estávamos a começar a montar a nossa escada, o que me ajudou imenso ter essa precessão. E quando me sinto finalmente confiante eu deixo as minhas palavras soltarem-se naturalmente.

- Os dias vão começar a correr mais depressa, os anos vão passar. Um dia tu vais querer lembrar-te de como tudo começou, como me senti e como te fiz sentir... Estavas vestida como sempre, as roupas soltas, os cabelos emaranhados pela manhã e os teus olhos tão brilhantes e bonitos, aquele azul que fazia o mar e o céu perderem o interesse, aquele sorriso que parecia fazer com que tudo o que dissesses tivesse graça, as tuas camisolas folgadas lembravam-me do teu tamanho pequena, não muito baixa mas o suficiente para que fosse alto para ti. Sabia que todos os dias te sentavas no mesmo lugar, retiravas o mesmo caderno preto e agarravas em algo para escrever a lição que os teus cabelos atrapalhavam a tua escrita e dou por mim a desejar segurá-los para ti, a desejar que fosse eu o motivo das tuas gargalhadas abafadas que me rasgavam um sorriso sempre que as ouvia.

A tua voz fina, a maneira de como cantavas e de como senti que tinha sorte em ter-te ao meu lado, não só nos treinos para a apresentação, mas pude ouvi-la montes de vezes nos locais que eu menos esperava.

Em Amesterdão, no mesmo quarto, na mesma cama, dois corpos suados e um sorriso na cara, admito que ainda me lembro dos teus olhos azuis brilharem quando foram iluminados pela fraca luz do candeeiro e pude sentir a tua face macia no meu peito, de como sorria a cada gesto meu e de como te sentias a meu lado.

Mas os dias vão passando, nós vámo-nos esquecendo, os nossos olhares vão turvando e as nossas respirações aceleradas vão-se acalmando, mais do que dois simples corpos caminharão pela casa e nessa altura Ellen, eu saberei de como sou feliz, de como a vida finalmente me sorriu depois de anos às escuras, saberei o que é viver ao lado de quem me ama. E se há alguém que entendeu logo isso, foi a minha mãe e tu sabes pois estives-te lá.

Se nós nos esquecer-mos de tudo isto eu terei sempre pequenas fotos a recordar cada momento do teu lado e prometo que ainda nos vamos rir de tudo isto quando formos avós e já comecemos a contar toda a nossa histórias aos netos enquanto procurámos pelos remédios nas farmácias para que continuemos aqui para vê-los crescer. Mas ei, Ellen! Nós ainda só temos 20 anos, nós ainda temos uma vida inteira pela frente que nos espera, nós vamos ter a nossa vez meu amor.

- Ellen -

Depois de tudo o que eu tinha acabado de ouvir eu ainda sentia as lágrimas correrem pela minha cara enquanto um sorriso estava estampado na minha cara e na cara dos meus pais.

Admito que nunca esperei tanto do Harry, ele foi a melhor que alguma vez me poderia ter acontecido. Entrou na minha vida como sendo um camelo, um idiota que só se importava em discutir durante todo o dia e quando dei por mim estávamos a fazer amor e a prometer que iríamos contar tudo o que acontecia connosco um ao outro. A nossa relação? Admito que nunca vi igual, aliás quem é que se ajoelha em frente à namorada de boxers, com os pais a assistir e sê ele mesmo tentando o seu melhor para impressionar? Acho que nenhum saía desta bem visto.

No entanto Harry, ele era diferente, não só em termos de parecer tal e qual uma esfregona andante fugitiva da lojinha da Dona Mariquinha e no entanto consegue ser tão bestial quanto um príncipe ... mas em boxers.

Eu nunca imaginei poder ouvir tanto de um rapaz assim, de um rapaz coberto de tatuagens, coberto de gadelhas monstruosas, mas ao mesmo tempo que contagia as pessoas apenas com as covinhas combinadas com os olhos e os seus lindos dentes brancos. E eu não tenho reação se não levantar-me ao mesmo tempo que ele e abraçá-lo. E ele acaba por me sussurrar ao ouvido.

- Gostas-te? - ele pergunta.

- Eu nem tenho palavras. - digo e ainda sinto as minhas lágrima secarem.

- Ótimo, é que já me estava a doer os joelhos. - ele diz e eu rio-me.

Adoro quando ele faz isso, quando ele me faz sorrir, quando ele tenta o seu melhor para me ver feliz, para ver o meu sorriso. Até que a certo ponto ouço meu pai forçar uma tossidela e logo me apercebo da sua deixa. Mas eu também não vou aceitar assim. Harry senta-se sobre o sofá e eu limito-me a sentar-me sobre uma das suas pernas.

- Ellen, apenas... Tem cuidado, okay? - o meu pai diz.

- Tu aceitas isto? - minha mãe diz.

Meu pai encolhe os ombros e sinto que ele só quer desaparecer daquele sofá para longe.

- É que eu aceito. - minha mãe termina.

- Mãe, nós não precisámos de ficar cá... - digo.

- Não precisam mas esta casa ainda é tua, nós promete-mos até ao final do ano, é até ao final do ano. - meu pai diz.

- Obrigada por isso, e obrigada por aceitarem o Harry na minha vida.

- Eu não disse que aceitava ninguém. - minha mãe relembra.

- Lá estás tu mãe. - digo.

- Vou pensar no caso e no final do ano digo qualquer coisa. - ela diz agarrando no seu casaco.

- Mãe! - chamo.

- Sim? - ela diz.

- Eu... Tenho algo para te mostrar, a ti e ao pai. - eu corro até ao quarto agarro no papel das análises e trago-os até eles.

Depois de os observarem e de me apoiarem sobre o assunto a minha mãe deu o devido valor a Harry, independentemente de tudo, eu sabia que ele não me ia deixar e em parte, a minha mãe apercebeu-se que ele era realmente uma boa pessoa.

Mas não demorou muito para se despachar para voltar a casa.

Meu pai acompanha-a e levámo-los à entrada.

Assim que a minha mãe abre a porta ela ainda acaba por soltar uma das suas frases.

- Foi bom ver-te Ellen e ao teu amigo. - ela diz.

- Ele não é...

- Para mim ainda é, deixa-me mastigar as coisas primeiro. - ela diz e o meu pai ergue as sobrancelhas.

- Okay. - eu rio-me junto de Harry.

- Para a próxima comprem alguma roupa meu filhos, imaginem que era o FBI. - minha mãe diz e uma gargalhada ecoa pela casa vinda por todos.

- Que engraçada, mãe! - digo.

Despedimo-nos todos e assim que fechámos a porta aos meus pais observo Harry a meu lado encostado à porta e escorregámos juntos pela porta abaixo suspirando de alívio com a cabeça junto à porta. Desta já nos safámos!

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora