| I'm trying to be okay |

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Depois de uma dia cheio de tristeza e de uma noite de pesadelos ali estava Harry, coberto por um fato preto, em frente ao espelho de sua casa. A sua cor pálida fazia os seus lábios mais vermelhos que o habitual, os seus olhos escuros e a sua expressão faziam o meu coração doer por ele estar assim, naquele estado.

Depois de ajeitar o vestido preto com as mãos, movo os meus pés até Harry.

- Amor, estás bem? - eu passo a minha mão pela sua pele esbranquiçada da cara.

- Eu estou a tentar ficar. - ele observa-me e beija-me ternamente.

Assim que os nossos lábios se separam o seu laço ao pescoço demostra-se desfeito e elevo os meus pés um pouco para que possa apertá-lo e combinar a forma apresentável de Harry por completo.

O ambiente de silêncio pelo quarto dele não me deixava bem. Deixava-me indisposta e durida.

Estes dois dias sem aulas iriam dar-me problemas na escola pois eu não tenho nenhum parentesco a Harry o que me vai custar um monte de explicações aos meus pais. Mas é o Harry caramba, eu não o vou deixar numa fase destas da vida dele.

- Achas que estou bonito? - ele diz quando se volta para no espelho e se examina.

- Bonito é pouco Harry. Tu estás... Perfeito, como sempre. - digo-lhe e as minhas palavras são tão sinceras que demonstram o que eu realmente sinto.

A morte de Anne foi dada pelo meio da tarde de ontem, quando Harry se tinha finalmente estabilizado e sabia que Anne, sua mãe, estaria bem. Minutos depois eles dão Anne como óbito e nem eu consegui aguentar as lágrimas. O pouco tempo que estive com ela corria-me os pensamentos e o Harry nem se mexeu perplexo, eu observava as lágrimas nascecerem e descerem pela sua cara enquanto a sua expressão nula me assombrava e me deixava mais preocupada que nunca.

Rapidamente apercebo-me que parte de Harry se tinha afastado naquele momento e sei que éramos apenas nós a lutar contra o que estava por vir.

Alcanço os seus olhos e o seu peito enche e solta uma suspiro que se ouve pelo quarto inteiro. As minhas mãos pousam perpendicularmente no seu peito e os nossos olhares cruzam-se.

- Ei, eu estou aqui. - um pequeno sorriso é formado nos meus lábios.

Harry leva a sua mão até à minha cara e os meus olhos fecham-se quando a sua mão entra em contacto com a pele da minha face.

- Ela queria que eu ficasse contigo, tu és tudo o que me resta dela. - ele pousa as mãos nas minhas bochechas e beja demoradamente a minha testa.

Entretanto ouvimos a porta do quarto ser batida e Robin atravessa por ela, observando-nos.

- O funeral é dentro de minutos. - ele diz cabisbaixo.

Harry retira as mãos da minha face e deita as mãos aos bolsos das calças do fato encarando Robin por momentos e o silêncio volta a preencher o quarto.

- Estámos a ir Robin. - aceno afirmativamente com a cabeça.

Agarro Harry por um braço e descemos as escadas até à porta da entrada por onde Robin atravessa e a deixa aberta para ambos atravessar-mos.

A chuva ameaça cair mas não ainda, o céu permanece cinzento e o dia está mais nublado que o habitual. Ouço Harry fechar a porta e moveno-nos juntos até ao carro pertencente a Robin. Sentamo-nos nos lugares traseiros e consigo observar Robin olhar o assento a seu lado suspirando logo ddepois por este se encontrar vazio.

O carro arranca, sei tanto como Harry que o clima em termos de falas e convívio será doloroso e sério para que se converse seja sobre o assunto que for. Durante o caminho todo o que preenchia o carro era a dor da perda, o rádio desligado e as primeiras gotas de chuva fazia-me ouvir contra as janelas, o motor do carro a arrancar e os nossos corpos abanarem ligeiramente. Era tudo o que eu conseguia ouvir para além do meu coração desesperado pelo que se seguiria após este sofrimento.

Robin estaciona o carro a meros metros da entrada da igreja onde se iria rezar por Anne, aquela mulher que faria qualquer coisa para que pudesse voltar ao que era e que nunca desistiu de nada, e assim, de um momento para o outro, desiste da vida com uma taça e um monte de comprimidos.

- Achas que vamos puder vê-la? - Harry questiona.

- Em principio, no final da missa, eles deixar-nos-ão despedir-nos dela. - explico.

- Já sinto saudades dela. - ele diz e ouço a sua voz tremelicar.

Pouso a minha cabeça no seu ombro enquanto esperámos a vinda do padre que celebraria a missa e recordava Anne e o quão forte ela foi durante todos estes anos.

Robin, por sua vez mexia-se nervosamente. Impaciente por ver Anne, impaciente por voltar para casa ou impaciente para que toda a dor passa-se?

Elevo ligeiramente a cabeça e observo um papel nas suas mãos, ele ajoelha-se e consigo ler nos seus lábios que está a pedir perdão, terá algo a dizer-nos?

Decido aproximar-me de Robin que se encontra a menos de dois metros de mim.

- Está tudo bem? - questiono.

- Deveria estar... - ele suspira e mostra-me um papel com uma proposta.

Robin estaria indeciso. Estaria entre a espada e a parede. Desgostoso pelo que aconteceu no dia em que poderia realizar um sonho. Robin não estava bem, mas esse não era o motivo pelo qual aparentava a sua cara triste. Era o facto de não poder nunca mais partilhar essa felicidade com Anne, de ter conseguido alcançar o seu objetivo.

- Não digas ao Harry, esta noite contar-lhe-ei. - ele promete.

Eu não gosto de esconder nada a Harry, mas sabia que desta vez, era o melhor que eu teria a fazer. Não me queria meter em nada que não fosse da minha conta.

- Assim será! - dou um pequeno sorriso e depois disfarço com um abraço para que Harry não perceba sobre o que ambos estamos a falar.

Depois de poucos minutos volto ao pé de Harry para assintir-mos então a despedida de Anne Styles.

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora