| Alaska |

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Ele larga-me apressado.

- Vamos embora, vai começar a chover! - ele agarra na minha mão.

E pronto, aqui vou eu. Ellen Carter, puxada pela mão forte do maior camelo inventado. Será que ainda vai fazer alguma barbaridade antes de chegar-mos a casa?

Assim que entrámos na estação observamos que o próximo comboio chega dentro de quinze minutos. Acabámos por nos sentar num pequeno banco.

O Harry observa uma pequena menina chegar-se ao pé de nós.

Era ruiva e continha umas sardas na cara que lhe davam um ar carinhoso. Ela coça um olho e o Harry observa-a bocejar.

Apenas me acalmo e sento-me ao lado dele. Já estava exausta de ter corrido aquilo tudo atrás dele.

Ele observa-lhe os detalhes, a chupeta pendurada na camisola e o cabelo aos caracóis despenteado. Puxava uma boneca de trapos pelo chão. Assim que se chegou até nós apenas andou mais um centímetros até aos mãos de Harry que logo a pegou ao colo. Ela não chorou. Não gritou nem se zangou. Apenas tinha um ar cansado de um pequena menina de julgo ter quatro anos.

Olhei à nossa volta, tudo o que encontrava eram pessoas que estavam indispostas, chateadas, outras com o telemóvel nas mãos berravam com um tom altruísta e destrutivo. Haviam também alguns que pediam a um canto e uma voz ecoava nos meus ouvidos. Uma música calma que era tocada de um simples homem de cabelos semelhantes aos da pequena criança.

Comparando a distância com a aparência julguei ser parente dela. E da maneira descontraída como ambos agiam, era bastante peculiar que fossem pai e filha.

Observo o pobre homem observar à sua volta depois de contar as poucas moedas junto da viola que trazia. Perdera algo. Alguém. E quando olha para trás de si vê-nos com a criança ao pé de nós já com a cabeça encostada ao peito de Harry. Ela tivera fechado os olhos.

O homem apenas sorriu e fechou a mala onde continha agora a viola e as poucas moedas que angariaram durante o dia. Pelo ar cansado, iriam voltar a casa, onde, muito provavelmente a mãe os esperava com o jantar.

- Bom dia. - o homem mostra um sorriso encantador.

Eu apenas rio e observo Harry brincar com o nariz da pequena menina. As mãos dela procuram a boca dele e ele dá-lhe pequenos beijinhos.

- Bom dia. - eu respondo educadamente - É sua filha?

- Sim. - ele responde, baixando-se - Um amor de criança não é?

- Muito calminha. - eu observo.

- Ela aprendeu. - ele deixa-se emocionar. - Depois de a mãe nos deixar, nós lutámos por nós. Não é meu amor?

Ele sobe a mão até aos cabelos um pouco compridos da menina e passeia-lhe os dedos.

Eu não sabia o que dizer no momento. A sorte que eu sentia era indescritível e uma vontade imensa de estar nos braços dos meus pais naquele momento trespassou-me.

Aquela menina que nunca veria a mãe ou que nunca poderia frequentar uma escola normal ou até mesmo poder vir a ser feliz.

Era horrível alguém tão pequenino estar a viver daquela maneira. Naquelas condições. E ainda por cima, sem mãe.

Ela teve de aprender a viver, certamente.

- Vamos filha, - o homem diz limpando as lágrimas - ainda temos de almoçar.

Ela apenas se encolhe mais no colo do Harry e aperta mais a chupeta.

- Meu amor, olha o pai! - eu digo e aperto ao de leve a pequena mão da menina.

Ela abre os olhos e suspira profundamente. Observa o pai, abre e fechas as mãos continuamente viradas a ele. A pedir colo.

O homem agarra a pequena menina e coloca-a ao ombro onde ela consegue apertar o pescoço do pai com as mãos.

- Obrigada pelos momentos connosco, espero que a pequena Alaska não tenha causado muitos problemas. - ele diz com um pequeno sorriso.

- Não, a Alaska é muito fofinha. Uma criança assim é muito difícil de encontrar estes dias. Lembre-se que você é um ótimo pai. Nunca desista. - eu digo e agora aponto o indicador para a pequena menina cansada - Ela precisa muito de si e tenho a certeza que vai querer vê-la crescer como ela vai querer vê-lo sempre.

- Sabe, ela é tudo o que eu tenho, a última coisa que me lembro da minha mulher é só esta foto. - ele retira uma pequena foto em que é visível a mão da mulher empurrar a câmara que tira a foto ao livro que lhe pousa sobre as pernas, "Há procura de Alaska", e apercebo-me que tudo o que lhe resta é a esperança da mulher procurar a filha.

O que me entristece mais, mas como não posso ajudar em nada, acabo por deixar umas palavras fracas saírem dos meus lábios no momento em que o homem se prepara para se afastar.

- Desejo-lhe sorte! - eu digo.

- Obrigada. - ele sorri uma última vez e acaba por se afastar.

Observo o Harry, com um sorriso estampado na cara.

- Não percebo. O mundo consegue ser tão injusto com algumas pessoas. - ele diz.

- É verdade, aquela menina não merecia tal! - digo.

O Harry puxa o meu corpo para o pé do seu.

- Ainda bem que o mundo não me deixou ficar mal.

Eu sorrio para o rapaz que se apresenta como um louco e beijo-o, quando ouço o comboio chegar.

Puxo os meus lábios de volta e acabo por agarrar na mão dele e começar a correr por entre a multidão até um banco no interior do comboio onde nos sentámos lado a lado.

- Como me encontras-te? - a pergunta percorre o ambiente entre nós.

- O Edward ligou-me. - ele suspira.

- Filho da puta! - sussurro para mim própria ao mesmo tempo que agarro nas mangas da camisola e dou um murro no banco do comboio.

Em frente a mim consigo observar quem eu menos esperava. O Niall. Sozinho.

- Niall? - encaro-o.

- Nem me digas nada Ellen. - ele suspira e olha as mãos.

- O que se passou Niall?

- O Mc Donald's expulsou-me porque eu estava a pedir demasiada comida e a impedir um monte de gente de pedir o que queria. - diz triste.

Naquele momento só me apetecia desmanchar a rir. Mas controlei-me. É o Niall.

- E a Nasha?

- Zangou-se comigo. Está no outro vagão do comboio. Ela disse que não sabia se me perdoava. Nós passamos uma vergonha bonita! - ele diz e passa a mão pelo cabelo.

- Vai tudo ficar melhor. Vais ver! - eu acalmo Niall.

- No dia em que eu estiver a comer batatas fritas à beira mar, sim, vai tudo ficar bem! - ele diz.

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora