| Jack Daniel's |

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- Não me convidas para entrar?

- Não vou deixar desconhecidos entrarem na minha casa, ui!

- Não sou um desconhecido! - ele resmunga.

- Faz de conta. - rio-me.

- Esta noite foi uma merda. O meu pior encontro de sempre. – ele diz com as mãos nos bolsos.

- O meu também. – concordo.

Nem sequer fiquei magoada com o que ele disse ou até mesmo com o que eu disse. Estávamos na altura de um pouco de sinceridade sobre a noite.

- Estás completamente borrada. - ele ri-se da minha cara.

- Porque é que eu acho que aquele curto espaço de tempo em que estavas a ser simpático foi um erro?

- Eu sou sempre simpático, naquele momento estava mais simpático, exagerei... - ele faz uma cara estranha - Agora que te vejo assim apetece-me deitar-me no chão e rir toda a noite.

- Aproveitas e rebolas como os cãezinhos.

- Voltas a dizer isso e lambo-te a cara! - ele prende os olhos nos meus.

- Que infantilidade de cão!

Harry puxa-me pela cintura e olho para o lado já sentindo o hálito a mentol na minha cara.

- Não...

Sinto a minha cara humedecer e tentei afastar-me.

- Eu avisei!

- Parolo! - rio e ele faz-me cócegas.

Eu acabo por me contorcer ao ponto de o empurrar e cair em cima dele sobre a relva. As minhas bochechas aqueceram ao ponto de ficarem totalmente vermelhas.

- Era escusado! Ainda por cima és pesada. - ele envergonha-me ainda mais.

- Não te mexas, vou levantar-me. Nem te atrevas a tentar nada.

Firmo um pé no chão para me levantar mas ele faz-me cócegas atrás dos meus joelhos e caio de rabo as suas pernas.

- Então? Eu não mereço levar contigo em cima duas vezes num dia? Despacha-te logo.

Dou-lhe um safanão na coxa e levanto-me virando-lhe costas em direção à porta e sem me voltar para ele.

- Até amanhã linda. - ele diz e ri-se com o próprio comentário e torce o nariz.

- Até amanhã esfregona com pernas! - digo ao fechar a porta e vê-lo entrar no carro habitual.

Ao entrar em casa acendo a luz do corredor e vejo que a Anabelle já se tinha ido embora. Precisava dela aqui, tenho medo de voltar a ter pesadelos com o Edward. Vou precisar de algo para me distrair pelo menos até adormecer. Olhei em volta, dentro de uma das prateleiras da sala, vi uma bebida que me chamou à atenção e li "Jack Daniel's", simplesmente peguei nela e abri.

Dei uns passos até ao sofá sentando-me, liguei a TV e fiquei ali sentada virada à televisão.

Bebi um trago e senti o sabor invadir a minha boca, deitei a língua de fora assim que senti aquele sabor estranho mas viciante a passar pela minha língua.

Olhei o que estava a dar na televisão, um filme, vai ser uma boa distração! Ao mesmo tempo que ia vendo o filme ia bebendo pelo gargalo da garrafa. Sentia a dor desaparecer, aliás eu não sentia nada. Deixo a minha cabeça cair sobre o sofá e rio-me como uma maluca.

Sentia uma felicidade repentina e dizia coisas que não faziam nem sentido. Olhava a televisão e dizia que a miúda que lá aparecia, era uma idiota e o rapaz, um parvalhão como o Harry. O Harry! Deixa-me ligar-lhe e dizer-lhe o quão parvalhão ele é, vai ser engraçado.

Levanto-me e vou aos encontrões pela sala em direção à minha mala de onde tiro o telemóvel da carteira.

Ando de um lado para o outro da sala com o telemóvel no ouvido e com a garrafa de wiskey na outra e ria-me a cada toque de chamada. Quando ele me atende, ouço a sua voz sonolenta do outro lado.

- Ellen? Ainda estás acordada? São 3h da manhã.

- Talvez sim, talvez não... - rio-me - Quem sabe? - rio-me novamente.

- Tu estás bem?

- Sim, mas tu tens sido um palhaço autêntico! Com esses caracóis caxemira e com esse teu hálito a pastilhas elásticas verdes pensas o quê? Que deixas-te de ser um idiota?

Tropeço nos meus próprios pés e caio sobre o sofá, volto a beber mais um trago e olho o telemóvel no chão, faço cara feia e continuo a falar.

- Tu estás em casa?

- Talvez sim, talvez não... Uhuuuu! - digo brincando com a garrafa pelo ar e volto a levantar-me, apanhando o telemóvel e pondo em alta voz em cima da mesa. Depois dirijo-me a um espelho da minha altura que se encontra na sala. - E o carro pufff, eheheheh, e lá foi o meu Ed! - faço beicinho para o espelho - O Harry é tão chato, aborrecido e demasiado preocupado. - caío em frente ao espelho e aceno um "sim" vendo o meu reflexo - Tens razão, és uma rapariga fantástica, alguém que me compreende no mundo.

Caí para trás, deitada com a garrafa na boca e bebo mais um bocado de wiskey. Aquilo era tão bom e a luz no teto era muito bonita. O Ed é que havia de gostar de ver o mundo assim, tão lindo!

Ouço o telemóvel em alta voz.

- Estou a chegar!

- Vens engatar-me? Ás 3h da manhã? Achas que acredito? Hummm, nope!

Ouço a porta da frente abrir-se à força e vejo a sobra do Harry, ele veio juntar-se a mim. Que fofo!

- Harry - estendo os braços no ar e ele olha-me divertido.

Ajuda-me a levantar e fica a olhar para mim de cima, prende-me o cabelo num rabo de cavalo e acena negativamente com a cabeça.

- Harry?

- Diz! - agarra a garrafa do chão e tapa-a.

- Dá-me um beijinho. - digo e atiro as minhas mãos para os seus colarinhos puxando-os até mim. Harry nem se mexe e ponho-me de pontas dos pés tentando chegar à sua cara.

- Já chega Ellen. - ele afasta-me e caio no chão.

Ele dirige-se à televisão e apaga-a.

- Hora de dormir!

Eu faço uma cara estúpida e ele ri.

- O que foi?

- Dói-me a barriga.

Harry pegou em mim e correu para a casa de banho. Colocou-me em frente à sanita e vomitei enquanto que ele segurava no meu cabelo preso.

- Eca - digo por fim.

- Já acabas-te?

Assinto com a cabeça e ele puxa uma toalha para mim, ao mesmo tempo que me ajuda a limpar a cara e despeja o autoclismo.

Ele pega em mim e leva-me para o quarto deitando-me e cobrindo apenas com o lençol. Depois despede-se de mim e sem me aperceber peço que ele fique. Não quero estar sozinha quando tiver pesadelos.

- Fica aqui.

- Mas Ellen, eu não...

- Por favor.

- Dane-se... - ele olha para mim e deita-se do meu lado tirando a camisola e encostando o meu corpo ao seu. - Boa noite.

Apenas lhe dei um beijo na cara e fechei os meus olhos rezando para que os pesadelos sobre o Ed não voltassem a interferir com as noites que tenho passado.

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora