| Take me Home |

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Enquanto esperávamos, cada um de nós encarava o telemóvel. Estava a falar com Anabelle e Harry estava a falar com um idiota qualquer de certeza. Deve ser assim que ele mantém a postura e o vocabulário.

Falava com Anabela sobre o Edward, eu tenho saudades e neste momento acabei por desabafar com ela. Os meus olhos encheram-se de lágrimas, mas eu estava feliz por tê-lo ouvido, por ter falado com ele antes de ele desaparecer para sempre da minha vida.

- O que se passa?

- Nada de especial. - limpei as lágrimas que me escorriam pela cara.

- Então choras sem motivo?

- Eu tenho motivos para chorar, mas não tens nada a haver com isso!

- Não quero discutir contigo, uma vez que estámos a evoluir para amigos.

Serviram o jantar.

- Quem te contou essa mentira?

- Ui! Pagas já o jantar. - ele brinca.

- Tudo bem, ainda bem que trago sempre a carteira!

- Estou a brincar Ellen.

- De qualquer das maneiras eu vou pagar.

- Porquê?

- Para não evoluímos para mais nada.

- Se assim fosse não tinhas vindo.

- Eu não era para vir mesmo. - começo por ficar nervosa - Só vim para me distrair um pouco de certas coisas e também porque Anabelle insistiu para eu vir.

Harry revirou os olhos.

- Mas se quiseres eu vou-me embora... – insisto.

- Não, tu não vais embora! – resmunga.

Levantei-me e olhei-o uma última vez.

- Obrigada pelo jantar.

Abandono o local e começo a andar até ao pé da estrada.

Deixo algumas das minhas lágrimas escorrerem. Limpo automaticamente as bochechas incluindo os olhos que deveriam de estar uma miséria devido à maquiagem. Mas o que é que eu estou aqui a fazer?

Sento-me sobre um pequeno muro ao pé do passeio e penso em acalmar-me para de seguida chamar um táxi.

Ouço passos até mim e é pousado um pequeno saco ao lado das minhas pernas. Olho em frente e vejo Harry, com um olhar magoado, nem sei se é do seu grande sentido de humor ou se é de verdade o que ele está a sentir mas ignoro, pois eu estou bem pior que ele.

Ele pousa uma mão sobre uma das minhas pernas e encara-me.

- Queres contar o que se passa?

- Eu não tenho mesmo vontade de falar sobre isso.

- Estás mal, eu consigo ver. Mas gostava de saber o motivo, pode ser que te possa ajudar.

- Com mais uma das tuas piadinhas? Não, obrigada.

Ele inspira fundo e encosta-se ao muro levando as mãos junto ao mesmo, sentando-se. Cruza as mãos uma na outra e coloca-as entre as pernas, abanado-as um pouco.

- Eu não consigo pensar no que possa fazer por ti neste momento. Mas se houver alguma coisa...

- Não Harry, não há!

- Okay, estou a sentir um constrangimento!

- Levas-me a casa?

- Não sou um taxista, mas posso fazer isso assim que me contares o que se passa.

- Para além de patético és bisbilhoteiro!

- Outra das minhas grandes qualidades. – refere.

Sem mesmo querer e no meio de lágrimas eu rio-me. Ele olha para mim e leva uma mão à minha cara limpando a maquiagem que escorrera dos meus olhos.

- Devias de saber que não precisas disto para ficares bonita.

- A Anabelle é que insistiu, ela estava mais excitada com esta noite do que eu.

Harry ri-se e percebo que o seu sorriso é lindo.

- Há quanto tempo fizes-te o mestrado?

- Como? - ele confunde-se.

- De camelo! - brinco.

- Estúpida!

- Não, realista! - levo uma mão ao peito - Pensas que lá por dizeres que não preciso de maquiagem já deixas de ser camelo? Não. Tu és e vais ser sempre um camelo para mim.

- Isso é bom?

- Pfff, claro que não!

- Okay. - os olhos deles divagam pelo chão.

- Mas pode vir a ser. És uma das poucas pessoas que realmente se importam comigo. - cerro os lábios e coro, mas finjo que não tenho as bochechas a arderem, vagueando os olhos.

- Quem disse que eu me importava? - ele ri sarcásticamente.

Eu pego no pequeno saco ao pé de mim e abro-o em frente a ele.

- Ao que se chama isto? Ias fazer alguma entrega?

- Pronto, talvez o idiota, parvalhão, estúpido e camelo que achas que eu sou se importe minimamente.

- E pagas-te-me o jantar!

- Talvez me importe, mas não fiques com muitas expectativas!

- E ainda vies-te ter comigo na esperança de perceberes que o motivo pelo qual estou a chorar é porque... - eu dou um longo suspiro.

- É serio, podes contar eu juro que guardo segredo, ajudo no que puder e podes continuar a chamar-me o que quiseres que não me zango. Afinal, somos amigos! - ele sorri fracamente.

- Tu não és um camelo. Eu só digo isso porque não quero que te aproximes tanto de mim. Uma vez que... - Mordo o meu lábio inferior e sustenho as lágrimas - o meu namorado morreu depois de se desviar e o carro pegar fogo.

Harry arregalou os olhos e ficou sem palavras em frente a mim.

- Desculpa estar a descarregar... Mas é que, é tão difícil!

Harry pegou-me ao colo e pousou-me em frente a ele, retirou as minhas mãos que me cobriam a cara e juntou o meu corpo ao seu e a minha cabeça enterrou-se no seu peito. O conforto dele naquele momento ajudou-me a acalmar e acabei por o fazer.

Ele puxou uma madeixa do meu cabelo para trás.

- Sempre que percisares chamas por mim, okay? - ele ri.

E eu ri-me com ele.

- És o gajo mais idiota e parvo que eu conheço! - eu fungo.

- Eu sei Ellen, eu sei.

Harry pegou-me na mão e fez questão de me levar a casa e permanecer comigo durante um pouco.

x x x

- Obrigada por me trazeres.

Ele olhou para o interior através da porta e depois olhou-me. Ele estava prestes a pedir-me qualquer coisa pelo tamanho dos olhos que aparentava ter no momento.

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora