| Truth |

1.8K 179 11
                                    

Volto a casa e comigo eu levo Harry.

Eu sabia que ele me escondia tudo aquilo que tive de ouvir durante esta tarde.

Magoou-me de certa forma, mas deixou-me mais descansada agora que sei da verdade.

- E agora eu vou apenas dormir contigo? - Harry diz nervoso.

- Não Harry, eu é que vou dormir contigo, tu é que não sabes... - suspiro enquanto ele abre a porta.

Abro a porta e ele segue-me. Está escuro e eu ligo a luz do corredor.

- Nós hoje vamos apenas dormir, não fiques com ideias. - pronuncio, mal ele entra atrás de mim, dentro de casa.

- Eu também não tem astúcia para muito mais, não hoje. - ele diz e eu descanso.

Caminho até à cozinha e dou por mim a pôr a mesa enquanto Harry se limita a ajudar com o jantar. A casa partilhada com ele é sem dúvida muito mais barulhenta, mais cheia, mais acolhedora e faz-me sentir que não estou sozinha em nenhum momento.

- Harry, o arroz vai queimar se continuas a olhar para o meu rabo. - pronuncio depois de ajeitar a toalha sobre a mesa.

Harry de avental faz-me sorrir, faz-me parecer uma doida varrida que se limita a rir cada vez que olha as flores coloridas que se sobrepõem ás roupas escuras de Harry com as tatuagens nos braços a contrastar.

- Então como foi o teu dia? - ele começa no gozo.

- Desgastante. - digo - E o teu?

- Normal, tirando a parte de cinema entre gajas ao final da tarde, mas nada de mais. - ele pronuncia.

Os talheres nas minhas mãos fazem-me escolher uma colher e atirá-la à cabeça encaracolada e mal jeitosa de Harry.

- Ellen! - ele resmunga.

- A gravidade anda instável.... - pronuncio - Acho que deve ser do tempo, o que achas?

Harry limita-se a rir ao mesmo tempo que eu termino de pôr a mesa e ele desliga o gás do fogão. Ele vem ao pé de mim e embrulha o meu corpo nos seu braços pousando o seu queixo no cimo do meu ombro. Levo as minhas mãos aos seus braços tensos e musculados e abanámo-nos ligeiramente.

- Imagina esta mesa com mais um lugar ali. - ele diz - Alguém que se limita a resmungar comigo dizendo vezes sem contas que tem fome. - ele dá uma gargalhada.

- Harry, essa será Alaska daqui a uns dias, queria convidá-los a jantar. O que me dizes?

- A jantar?

- Sim, eles agora são nossos vizinhos.

Harry larga-me e encara-me surpreendido.

- Como assim nossos vizinhos? - ele questiona.

- Esquece Harry... Meus, MEUS vizinhos. - corrijo. - Eles conseguiram uma casa no final da rua. - acrescento.

Harry limita-se a agarrar no jantar e colocá-lo sobre a mesa.

- E achas que a Alaska iria gostar do arroz queimado à moda do Harry? - diz e solta uma gargalhada.

- Eu acho que ela iria amá-lo. - rio-me e juntámos os lábios.

Depois de um bom jantar e de um corpo coberto por uma simples camisola preta deito-me a lado de Harry.

x x x

Acordo ao som de Anaconda, o Harry de certeza que fez isto para me provocar.

- Harry! - resmungo e vejo-o ao telemóvel atendendo a chamada.

- Sim? - ele responde - Como? O que se passou? - ele faz uma cara séria e cruza as pernas sobre a cama - Já estou a ir para aí.

Ele sai apressado da cama e veste as calças em segundos, eu levanto-me e ouço a velocidade da sua respiração e o timbre baixo e rouco da sua voz. Decido apressar-me tal e qual a ele.

- A minha mãe Ellen... - ele diz.

- O que se passa com ela? - ele digo já calçando um par de sapatilhas.

- Está no hospital. - ele diz e soluça.

Saímos disparados do quarto enquanto eu o sigo e ele segura as chaves do carro na mão.

- Ela está no hospital! Ela ...

- Ela o quê? - pergunto apressando o passo ainda mais.

Entrámos no carro, Harry coloca a chave na ignição enquanto mordo o meu lábio e espero receosa do que se esta a passar. Sabia que não era nada de bom e sabia também que uma noticía aterradora esperava ansiosamente entrar-me pelos ouvidos.

- A minha mãe voltou a tentar suicidar-se. - ele diz com cara de poucos amigos.

- O que se passou Harry? Como é que ela conseguiu? O teu pai não estava com ela? Ela já não estava bem? Eles não disseram que ela estava bem? - deixo a minha cabeça cair para trás e coço os olhos dormentes.

- Disseram... Eles dizem muita merda, mas não sabem dizer nada de jeito! - ele descarrega a fúria no volante do seu carro e liga o carro a uma velocidade moderada que tem tendência a aumentar conforme o caminho.

- Pensa que ela está bem, só isso... - eu digo.

- Ela está em perigo de vida, se for a isso, ela deve ter dias, horas ou até mesmo minutos, Ellen. Eu não posso pensar que ela está bem quando ela não está. - ele diz - Ela precisa de mim, eu preciso dela, ela pode deixar-nos, não assim...

- Depressa, nós temos de falar com ela. - dito.

- A menos que seja tarde demais. - Harry diz e consigo observar lágrimas escorrerem-lhe pelos olhos.

O meu coração dói, a minha respiração acelera, o tempo parece muito mais doloroso e frio, para variar.

O meu corpo treme, o medo apodera-se de mim e Harry está uma lástima. Eu não quero que isto acabe mal, eu não quero ver o Harry sofrer. Quero apenas que tudo fique bem.

E calmamente, no silêncio que inunda o carro eu começo a rezar baixinho, para que tudo fique bem. Para que seja apenas mais um susto e para que Anne volte a casa e desta vez alguém realmente competente, fique a seu lado. Alguém que não seja Robin que apenas se resume ao trabalho e esquece-se inteiramente de tudo. Alguém que quer dar o melhor conforto a quem percisa apenas de atenção e carinho.

E nesse momento eu percebi que não era Anne quem se apresentava como sendo uma pessoa doente, na verdade ela queria a paz que nunca teve e Robin limitava-se a procurar o que não lhe faltava.

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora