| Mom |

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Assim que recebemos alta não tardou muito a chegar a casa do Harry onde fomos recebidos por um sorriso caloroso de Anne que nos veio abrir a porta.

- Mãe? Não devias de estar deitada? - Harry questiona surpreso e admito que também me surpreendi com ele e as ações de Anne.

- Sim, eu deveria, mas apeteceu-me andar, sabes? Como uma boa mãe. - ela diz e vejo o desânimo nos seus olhos misturado com, medo? Estaria Anne Styles com medo?

- Fiz o jantar! - ouvi Robin chamar da cozinha.

Acompanhados de Anne, movemo-nos até à cozinha.

- Obrigada Robin, com certeza que amanhã eu o farei na tua vez! - ela di-lo sem retirar um sorriso da sua cara.

Admito que tenho um mau pressentimento quanto ás ações de Anne pois ela tem andado muito estranha e algumas das suas palavras e frases não fazem qualquer sentido a meu ver.

O Harry limita-se a puxar uma cadeira onde pede que a mãe se sente e eu apenas sorrio com a sua ação sentando-me em frente a Anne, Harry rápidamente se apresenta ao pé de mim sentando-se a meu lado e em frente a Robin.

- O que é que os médicos disseram sobre a minha mãe? - ele questiona a Robin, em parte, afugentando-o da família.

Eu bato-lhe ligeiramente na penba o que o faz engolir algumas palavras e esboçar um sorriso seguido de umas novas - Ela está bem?

Robin pousa a travessa a meio de mesa e senta-se logo após em frente a Harry.

- Disseram que ela iria melhorar em breve. - ele acaba por começar a retirar comida para o seu prato - Mas eu não sei, eles tem dito isso por tanto tempo...

- Eu acho que deveria de pedir explicações mais especificadas sobre o assunto, que medicamentos, que tratamentos podemos fazer em casa o que aconselham a fazer? Não sei, qualquer coisa nós havemos de poder fazer! - Harry pronuncia-se levando uma garfada de comida á boca.

Observo Robin mexer-se nervoso na cadeira e Anne com as duas mãos sobre a testa. Finalmente Robin decide servir a mulher ao mesmo tempo que fala calmamente.

- Disseram que a Anne, se continuasse calma, firme, segura e todos nós continuássemos com a esperança que ela melhorasse, alguma coisa ela haveria de melhorar é claro. - ele beija os cabelos de Anne e pede para que coma.

Anne é uma mulher bonita, sem dúvida, mas sei que as dores de cabeça que se apoderam dela fácilmente e a toda a hora a rebaixam e assim reparo nos seus braços ainda mais magros que os meus, Anne estava doente e isto não se tratava só de um caso de psicólogo, eu acho que a Anne tem qualquer doença que a esteja a deixar fraca.

Os distúrbios mentais não param e ela está constantemente a forçar-se a sorrir quando o que mais quer é chorar. E isso eu sei o que é mas infelizmente o que se há de fazer nesses casos é muito pouco. Se o tempo não tem forma de curar seja como for, não há mesmo nada a fazer.

Anne não tem esperança, os seus olhos não brilham, o seu sorriso é falso embora nos tente persuadir que é verdadeiro. Não dá para acreditar. Não dá pelos traços, atos, astúcia, maneiras e a pouca felicidade que existe em si. A Anne já não estava doente, a Anne era doente e isso magoa-me, e não consigo imaginar o sofrimento do Harry quanto há mãe.

Noto sorrisos de mãe e filho, noto olhares que emanam felicidade de Harry e tentam alegrar Anne, noto atos de carinho mas Anne, Anne limita-se a fazer o que sabe de melhor neste momento. Fingir a sua felicidade. Nada mais.

Levanto-me e digo que aprontarei uma sobremesa para os quatro, pensei que pudesse trazer um bom ambiente sendo que eu já não estaria ali e talvez pudessem estar mais á vontade para os assuntos de família. Ouço a voz de Robin sussurrar algumas coisas a Harry e embora o pobre homem tente esconder os problemas de mim. É dificíl que Ellen Carter não descubra fácilmente o que se passa no momento e no local.

Ouço algo como "Vou ter de estar aqui" e "Não posso deixá-la" e depois de preparar quatro taças com fruta entrego-as a cada um de nós há mesa passado um pouco. Sorriem todos quando pouso a taça em frente a cada um e consigo pressentir a felicidade de Harry quando este olha para mim com as suas duas esmeraldas verdes que reluziam o seu brilho para mim.

Limitei-me a corar e a sentar-me ao pé dele que se apoderou rápidamente da minha perna com a sua mão.

- Harry. - sussurro e lanço-lhe um olhar.

- Há algum problema? - Robin ri.

- Absolutamente nenhum. - digo de seguida.

Então um jantar em família não é mau. Até já sentia algumas saudades de jantar com a minha própria família e sabia que amanhã, logo pela manhã, me estariam a ligar para começo das aulas de novo.

- Dia Seguinte -

Levanto-me e observo Harry, desta vez ele mastigava uma sediela do seu cabelo e apenas me limitei a chegar-me junto da janela molhada pelo lado de fora devido à chuva.

Abro, não muito devido ao frio que se fazia sentir naquela manhã de Inverno e passo as mãos pelo vidro molhado fechando a janela logo de seguida e calmamente.

Chego-me junto de Harry e pouso as gotas de água que rolam velozmente pela sua cara.

- Vai lá Robin, já sei que não sou tua preocupação! - ele diz de olhos fechados.

Passo a mão pelo cabelo suado de Harry e noto que transpirou bastante esta noite.

O corpo colava e o cabelo molhado fazia-se perceber que algo de errado tinha acontecido. Puxo o cobertor lentamente para baixo e observo um arranhão que lhe percorre o ombro e atravessa parte das costas, sangrava ligeiramente e percebi que ele tinha tido um pesadelo.

Pouso a minha mão desta vez sobre o braço que estava nu e que se fazia arrepiar pelo meu toque molhado e o faz abrir os olhos virando-se lentamente para mim.

- Ellen? - ele diz e passa as mão na cara - Mas eu não pedi água. - resmunga.

- Eu sei que não, eu tomei a iniciativa de a ir buscar para ti.

- Ellen... - ele suspira - Eu tenho um pressentimento.

- Que pressentimento para além de que vamos chegar atrasados e de que tenho de ir a casa pois não quero ir com as tuas roupas de bicha? - digo soltando uma gargalhada.

Ele coça os olhos espreguiçando-se por momentos e eu faço-lhe cócegas até ele parar para me dar um beijo.

Depois dele parar, olha-me nos olhos e o seu sorriso é logo substítuido pela sua testa enrugada e o seu ar sério.

- Eu acho que a minha mãe não tem cura. - ele diz desanimado e abana o cabelo, atirando a cabeça até ás almofadas.

Ele pega na minha almofada e puxa-a até à sua cara dando um suspiro profundo e e mordiscando a fronha da travesseira.

- Ela está farta disto não percebes? Está farta de viver, está farta de não ter sido útil e de continuar a não ser, é o que ela acha e o meu maior medo sabes qual é?

- Qual? - a minha voz treme.

- Que isso seja verdade...

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora