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Pouso a minha cabeça sobre os meus braços e sinto as lágrimas escorrem pela minha cara, eu queria pará-las mas cada vez mais teimavam em cair, escorrer e pingar sobre as minhas mãos já em ferida. Odeio tudo isto. Odeio ter de me magoar para prender o sentimento. Odeio guardar sentimentos. Odeio tudo. E odeio o Harry estar a enganar-me, odeio por ele não se ter defendido das ideias masoquistas da Kim.

Levanto a cabeça e olho em frente pousando a minha cabeça na parede atrás de mim. Não deixava de pensar em tudo o que acabou de se passar e a minha mente está tão confusa que nem sei se ele me amava realmente ou apenas me usava, para que se servisse de mim e da pessoa carinhosa que sinceramente, nunca fui assim com ninguém.

Eu amava-o, eu amo-o enquanto que ele se limita a magoar-me partindo o meu coração e depois volta, para encaixar todas as peças que, depois disso, irá voltar a quebrar. Não sei se posso mais ultrapassar isto, começo a ficar cansada, começo a ficar demasiado cansada. Ele disse que podia aguentar sem mim mas amanhã virá até aqui, a menos que Kim tenha razão, eu talvez exista para ser usada, por ele.

E isso dói-me mais que qualquer outra coisa.

Levanto-me agarrando-me à parede. Dói-me as pernas e o medo de cair apodera-se de mim, o meu peito arde juntamente com os meus olhos, as minhas mãos tremem e parece que não consigo sentir o chão debaixo de mim. Mas subo as escadas, dirijo-me ao meu quarto e acabo por me sentar sobre a cama em frente ao espelho. Ajeito a simples camisola básica de tom negro e puxo ligeiramente para cima pelos ombros.

A minha cara apresenta-se uma lástima, os meus olhos inchados e os meus lábios de tal maneira vermelhos e cheios de cieiro. Puxo o meu cabelo para trás, está macio e ao contrário da minha cara, ele brilha e cheira perfeitamente bem. Por breves momentos os meus olhos fecham-se e a imagem de Harry a massajar a minha cabeça faz um pequeno sorriso começar a aparecer, mas assim que abro os olhos e encaro o espelho que reflete a minha realidade, desisto de tentar sequer sorrir.

Saio lançada da cama, ainda abalada das pernas mas lá me esforço para me segurar, retirei as roupas colocando-as sobre uma cadeira no meu quarto, teria de devolvê-las e pedir desculpas pelo incómodo que causei naquela casa. Uma vez que a mãe de Harry se encontra muito melhor agora, enfrento isto como sendo que o Harry nunca mudará, que será como ela e que ninguém, muito menos eu o poderá mudar.

O Edward tem razão, eu não quis querer, mas ele tinha e continua a ter razão.

Ele não muda, ele não vai mudar e isso está a magoar e a machucar todos os meus sentimentos como folhas de papel e atirá-las para o lixo.

As minhas mão tremiam quando eu vestia as minhas calças logo após a camisola, com os meus olhos ainda cheios de lágrimas, e quando passo os olhos por elas eu tinha-as vestido ao contrário e o sentimento de riso e de saudade atingiu o meu coração como uma flecha e me fez lembrar de Amsterdão de quando o Harry se enganou e duas covinhas apareceram na sua cara.

Ri, eu tinha de forçar um riso, chorar não me levaria a lado nenhum. Troquei a posição das calças e calçei umas botas baixas que serviriam para o dia nublado de hoje.

O meu almoço limita-se a ser uma maçã junto de um pacote de bolachas ao mesmo tempo que preparo a mochila. O tempo passa rápido quando estou em casa e aproveito para por um pouco de maquilhagem antes de sair, sabia que seria difícil de disfarçar a minha cara de alce mal costurada que neste momentos estava molhada pelo pacífico junto do Atlântico que me banhava toda a face.

Por isso, e sem querer parecer como certas palhaças da escola, coloco um pouco de pó da cor da minha pele nas minhas olheiras e batom de cieiro sobre os lábios que estavam completamente rebentados pelo frio e pelo nervosismo.

O espelho permite-me observar o meu corpo que parece cada vez mais magro, mas com o peso sempre igual, às vezes desejava ser mais bem, mais gordinha, eu acho que as miúdas mais cheinhas têm uma cara tão linda, com umas bochechas fofas e queridas. E invejo-as, por isso.

Suspiro em frente ao espelho e momentos depois, de mochila às costas fecho a porta da frente guardando a chave no meu bolso das calças. O barulho não me fez lembrar Harry e isso desanimou-me mas felicitou-me.

Eu já nem sei o que sentir, por isso limito-me a sentir o vento na minha cara e no meu cabelo enquanto caminho pelo passeio até ao metro.

Caminho sózinha, com as mãos presas às alças da mochila, ignorando o meu telemóvel que vibra continuamente no meu bolso e é repleto de mensagens da Anabelle. Assim que a chuva ameaça cair eu entro no metro onde o comboio se prepara para partir e corro até ele entrando no mesmo.

Mantenho-me em pé até a minha estação chegar e observo a Alaska sentada ao pé do pai, para mais uma tarde na estação em Londres, sorrio-lhes e quando o metro para, saímos todos e Alaska corre até mim.

- Ellen - ela diz com os braços a prenderem-me as pernas e eu solto um riso pegando-a.

O pai de Alaska corre até nós com um sorriso estampado na cara. Espero que algo lhes tenha corrido bem, finalmente, eles precisavam.

- Menina Ellen? - ouço o pai de Alaska e este retira o chapéu da cabeça - Eu queria agradecer pelo seu apoio e do menino de cabelos encaracolados, nós conseguimos uma casa. - o homem sorri.

- A sério? - surpreendo-me.

- Elly, o papá disse que íamos para um comportamento. - Alaska diz.

- Para um apartamento? Isso é ótimo! - digo-lhes.

- Sim, situa-se em Manchester. - o homem diz.

- Alaska, eu vivo lá bonequinha, depois vens a casa da Ellen e eu faço-te bolachinhas, sim?

- SIm Ellen! - Alaska diz e agarra-se ao meu pescoço e eu beijo-lhe os cabelos.

- A menina Ellen daria uma boa mãe. - ouço-o.

- Obrigada. - acabo por agradecer e pouso Alaska.

Depois de me despedir de ambos preparo-me para enfrentar Harry na sala de aula.

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora