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Contei tudo à Gisele. Tudo que sei sobre o desaparecimento de Jhack, quero dizer, ele não desapareceu, afinal ele apenas viajou, simples assim! E ela me disse algo que está me perturbando muito.
- Você precisa ir até lá.
- Até onde?
- Hora onde! Nova York. Não é essa a cidade escrita nas cópias das passagens ?
- Sim. É o que parece.
- Então?
- Eu não vou. - Falei revirando os olhos.
- Mas você precisa, só assim descobrirá a verdade.
- Mas eu já sei a verdade. - Argumentei.
- Não! Você acha que sabe.
- Mesmo que eu quisesse, não poderia ir. Não posso deixar a escola, e nem meu pai.
- Ah, aquele velho viciado. - Ela xingou. Mas logo se desculpou. - Desculpe. Mas mesmo assim, essas são desculpas esfarrapadas para justificar sua covardia!
- Você está me chamando de covarde? - Felei ofendida.
- Sim estou! Quanto à escola, você vai no final de semana. Ninguém perceberá sua ausência.
- Esqueça isso! - Disse elevando a voz - Eu não vou porque não posso, porque não quero e porque eu tenho medo.
Senti os olhos úmidos. Senti minhas forças sendo sugadas, e minhas pernas estremecerem. Subi para o meu quarto e esperei minhas emoções se acalmarem.
Já são meia noite e meia. E ainda estou acordada. Amanhã tenho aula. Não corrigi os trabalhos que deveria. Sou uma péssima educadora. Meus alunos merecem alguém melhor. Não tenho sono. E minha mente rodeia e temia em Nova York, Nova York, Nova York... Maldita Gisele.
Eu me conheço muito bem e sei que isso não sairá da minha mente até eu ir lá e faze-lo. Que Deus me ajude.

- Professora?
- Sim?
- Já escolheu os alunos para a competição de matemática deste ano?
Já estou na terceira aula do dia. Sr. Augustus perguntou se eu melhorara da virose e eu falsamente disse que sim e estava pronta para outra. Não que isso seja totalmente verdade. Ainda tem uma coisinha irritante martelando na minha cabeça....
- Oh! Ainda não. Mas lhes direi em breve Gregore. - Falei, eu havia esquecido disso. Sr. Augustus me dissera a alguns dias que eu deveria escolher quatro alunos para a competição de matemática entre as escolas.
- Ta bem srta.
Sentei-me em minha mesa. E observei os jovens conversando animadamente, como se a vida fosse fácil demais de se viver. As vezes, quando observo as pessoas, eu costumo fazer isso, fico imaginando que história cada uma carrega, quais sonhos, quais frustrações, desejos e devaneios. Se sua felicidade é verdadeira ou é apenas mais uma de suas muitas máscaras. As pessoas tem a incrível capacidade de usar máscaras. E isso é triste, por isso acabamos sempre esperando o pior das pessoas. Mas sou diferente. Eu simplesmente não espero nada.
O sinal toca. Dirijo-me para a próxima aula para sala seguinte. Esqueci de mencionar, recebi uma proposta para lecionar na Universidade do Alasca, ironicamente na mesma universidade onde me formei. Mas o problema é que teria que me mudar, para Anchorage. Não sei se posso fazer isso. Ou se quero fazer isso. Não importa, não por hora. Há coisas mais imediatas a serem resolvidas, é inevitável pensar na sugestão de Gisele quanto a ir à Nova York, por mais que eu tente, não consigo parar de pensar...
- Srta?
- Oh, olá Josh.
- Preciso de sua ajuda...
- O.k. prossiga.

Hoje o dia foi cheio. Chego cansada em casa, e resolvo tomar um banho quente. Quando meu corpo é rodeado pela quentinha água sinto que vou flutuar. Quase suspiro de prazer. O frio é tanto que sentir algum calor é raridade. Por isso aproveito o máximo que consigo.
A tarde meu pai me ligou. Disse que estava bem, e agradeceu por eu te-lo deixado só por alguns dias e perguntou quando eu o visitaria novamente, eu respondi que em breve. Mas esta noite eu não poderia, tenho que adiantar meu trabalho e planejar as próximas aulas. No entanto, o verei quando for conveniente.
- Cassandra!? - Gritou Gisele, e percebi que estava perto.
- Oi.
- Cadê você?
- Aqui no banheiro.
Passos. A porta se abre.
- Ah aí está você!
Esperei que ela falasse alguma coisa, mas nada.
- Caso você não tenha percebido... - Apontei para mim e para a banheira - eu...bem
- Não se preocupe com isso, nada do que eu já não vi em mim!
Revirei os olhos. Ela senta-se na beira da banheira.
- O que foi afinal? - Perguntei.
- Vim saber que horas seu vôo partirá na sexta-feira. Ou será cedo no sábado?
- Mas o que?
- Ah não se faça de boba.
Suspirei.
- E quanto a você? - Tento desviar o foco da conversa.
- Eu o que?
- Seu filho.
Ela estremece um pouco e seus ombros de repente parecem um pouco mais caídos.
- Já falei com o meu médico. Começarei o pré-natal em breve.
- Que boa noticia! E seus pais?
- Eles me apoiaram. E era sobre isso que eu queria conversar com você.
- Então fale. - Incentivo.
- Vou morar com eles.
Meu queixo caiu.
- O que? Mas por quê? - Indago ainda absorvendo a notícia.
- Minha mãe disse que preciso dela, e será bom te-la por perto.
- Mas eu posso....
- Não Cas. Não quero ser um fardo para você.
Eu sorrio com desdém. - Mas quem disse isso? Eu sou sua melhor amiga Gisele! E eu quero acompanhar sua gestação!
- Mas você ainda me acompanhará. Eu só não morarei mais aqui.
- Nossa, como se isso resolvesse alguma coisa.
- Por favor Cassandra.
Suspirei pela centésima vez.
- E não fique suspirando assim! - Ela fala sorrindo. - Ei! Ainda moramos na mesma cidade, não seja dramática. Eu sei que sou insubstituível e tudo mais...mas eu estou há apenas uma hora daqui.
- Isso não está ajudando. - pigarreio.
Continuei:
- Mas tudo bem. Sobreviverei sem você. - Dramatizo.
- E eu sem você!
Olhamos uma para outra. Eu cedo:
- Ah por favor Gi não me abandone também. - Pego a toalha e a enrolo no corpo saindo da banheira e logo em seguida a abraço.
- Oh amiga.
- Por favor! - Eu estou chorando. Ela me abraça forte em resposta. Me afasta e limpa minhas lágrimas.
- Ei, um dia isso aconteceria, certo? Eu continuarei sempre ao seu dispor, com um barrigão mas ainda serei eu.
Sorrio imaginando a cena, Gisele grávida. Ficará linda com uma melânica na barriga.
Ela vai até o balcão da pia e apanha o telefone.
- Tome. - Elo o oferece para mim. - Pegue e ligue logo para marcar seu vôo para Nova York.
- Você não desiste, não é mesmo?
- Não.
Eu sabia que não tinha como ganhar dela, por isso peguei o telefone e liguei para o agente de viagens.
Agora era oficial, eu irei para Nova York.

Como Não se ApaixonarWhere stories live. Discover now