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Instala-se dentro de mim um pânico que me era desconhecido. E agora meu Deus? Olho para trás e vejo Jhack se aproximar. Por impulso, me lanço em cima dele e começo a socar repentinamente seu peito poderoso, mas fico ligeiramente decepcionada ao ver que minha fúria não surte o efeito esperado. Ele segura meus pulsos e me faz encara-lo.
- Olha o que você fez! -  grito entre dentes - se não ficasse falando tanto não estaríamos sozinhos agora! - já sinto as lágrimas chegando.
- Mas o que? Não era eu quem estava perdido! Ou era? - desvio os olhos e nada respondo - Anda Cassandra! Responde! - agora é ele quem grita. Solta meus pulsos com força e eu oscilo. Mas brava ainda por ele ter razão. Então eu choro. Sento no chão úmido dessa horrível floresta e choro. Não sei nem por que estou chorando, só sinto a necesicidade de chorar. Eu nunca reajo bem quando sinto medo, o medo cega as pessoas, a deixa fraca e vulnerável. Na minha opinião a pior falha humana depois da limitação de não poder ler para sempre. As coisas ao meu redor começam a girar, e eu sinto que vou... Mas braços me envolvem, me alinhando, acalentando, acalmando-me. Soluço em seus braços, manchando com minhas lágrimas sua engomada camisa.
- Por favor não chore. Eu prometo que encontraremos o caminho de volta. - ele fala me embalando, e eu aos poucos vou me alcamando. - E tenho certeza que logo sentiram nossa falta e virão nos buscar. - essa única frase me fez despertar, me pareceu sensato. Então rapidamente me afasto e me levanto.
- Você tem razão. Acho que virão nos buscar mesmo. - fungo e limpo minha calça das folhas inoportunas. - e Jhack?
- Sim? Agora ele também está de pé.
- Me desculpe por gritar com você, de novo. É que eu... Surto um pouco as vezes. - sorrio sem graça.
- Certo. - me lança um sorriso torto, e eu me acalmo de uma vez.
- E então o que vamos fazer? Abraçar um árvore e esperar? - brinco.
- Seria bastante eficaz, se não fosse pelo temporal que está vindo - ele olha para cima e eu acompanho. De fato escureceu bastante, já quase não vejo o sol.
- E está anoitecendo. Precisamos procurar um lugar para ficar enquanto esperamos.
- Tudo bem.
- Fique aqui que já volto.
- Mas...
- Não se preocupe, eu volto logo. Só pegue um pouco de lenha ali está vendo? - ele aponta para dentro da floresta.
- Eu não quero entrar lá. - minha voz sai trêmula.
- Não precisa ir muito longe, olhe ao redor! Estamos cercados de madeira!
- Ta bem.
- Então voltamos a nos ver daqui a dez minutos.
- O.k.
Ele vira-se e sai. E eu viro-me para a floresta e caminho em sua direção, mas não entro, pois encontro um punhado de gravetos antes de chegar lá. Encho os braços com a lenha e volto rapidamente. Agora já está totalmente noite, de modo que mal enchergo algo ao meu redor. Um familiar pânico começa a crescer no meu interior e...
- Nossa! Como escureceu rápido! - se aproxima Jhack. Nuca me senti tão aliviada. Quase corro para abraça-lo. Espera o que? Acho que é culpa do medo, sim deve ser.
- Pois é. Encontrou algum lugar?
- Oh, sim. Você tem uma lanterna aí? - oh! Como sou burra! Eu aqui morrendo de medo do escuro quando tenho uma lanterna na bolsa!
- Sim! Tenho. Pego a danada na minha bolsa e entrego a Jhack.
- Certo. Vamos.
Me conduz por um caminho que só ele conhece, não muito longe da cachoeira. Chegamos em alguns minutos, numa caverna. E não demora muito a começar chover, uma chuva pesada com poderosos raios e trovões. Rapidamente um frio doloroso se instala dentro desta asquerosa caverna. Procuro meu casaco na bolsa, mas como tudo está contra mim, não está aqui! Deixei no acampamento! Suspiro com decepção.
- O que foi? - se aproxima Jhack. - Oh Deus, você está roxa de frio! Deixa eu.... - ele retira seu casaco e coloca sobre meus ombros. Olho agradecida para ele.
- Mas e você?
- Não se preocupe comigo. Vou acender uma fogueira. - ele se afasta e começa a juntar os galhos que eu trouxe . O observo.  Por que ele está sempre oferecendo seu casaco para mim? Está de costas, e a fogueira já está começando a acender, por isso posso olha-lo mais minuciosamente, seus ombros lagos, seus músculos rígidos  aparecem através de sua camisa, vou descendo o olhos de suas costas para sua cintura e... Concentre-se Cassandra! Você não se envergonha? Me repreendo. Mas é difícil manter o controle quando se estar envolta em seu casaco, que por azar estar entranhado de seu magnífico cheiro. Embriago-me nesse excêntrico cheiro. Fecho os olhos e inspiro.
- Cassandra?
Sou despertada do meu transe.
- Sim?
- Quer comer?
- O que?
- Barras de serial! - ele abre um largo sorriso cheios de dentes perfeitos.
- Por favor! Estou morta de fome! Tenho uma maçã na bolsa, quer?
- Sim, por favor.
Comemos em silêncio, uma maçã, e três barras de serial. Percebo que ele começa a tremer, e me sinto culpada por estar usando seu casaco. Já estou com frio com esse casaco imagine ele que apenas está usando uma fina camisa? Eu também começo a tremer. Meus dentes se chocam fazendo um ruído estranho que ecoa na sinistra caverna. As chamas da fogueira estão lentamente desaparecendo, e eu começo a ficar preocupada. Sem ela nós temos grandes chances de morrer de frio. Lá fora a chuva segue voraz, lavando e encharcando tudo. Olho desesperada para Jhack, ele é minha única esperança. Ele me olha de volta e percebo o mesmo desespero em seus olhos, e sem mais palavras ele se aproxima se deita ao meu lado, me abraçando forte e esfregando meus braços numa frenética tentativa de me aquecer. Abraço sua cintura e meu queixo treme em seu peito, agora dividimos um único casaco. A fogueira apaga-se por completo, deixando a caverna terrivelmente escura. Nada vejo em minha frente, ou ao meu redor.
- Eu devia ter trazido mais lenha - lamento.
- Shiii... Não se culpe! - me consola Jhack abraçando-me mais forte. E eu me agarro ainda mais nele, enroscando minhas pernas de modo que eu começo a duvidar que dois corpos podem sim ocupar um mesmo espaço. Ele me aninha em seu corpo, e meu nariz risca seu pescoço, forçando-me a inalar seu cheiro. Se me dissessem que eu acabaria assim, agarrada com um cara que mal conheço, eu não acreditaria, mas o momento é tão único, e estou me sentindo tão, sei lá. Não sei como me sinto. Minhas mãos geladas sobem por seus braços pousando em seu quentinho pescoço, ele se asusta com meu toque, e começo a tira-la de lá, mas Jhack impede que eu o faça.
- Você está muito fria. Precisa se esquentar, ou não sei se....
Suspendo meus olhos pousando em seus lábios. Próximo demais, suplicantes demais, oh Deus. Não posso sucumbir... Ele também baixa o olhar e olha para minha boca. Eu ia dizer que não posso, que não há como, quando ele inclina a cabeça e encosta seus lábios nos meus. A princípio, estão gelados e incertos, mais depois adiquirem uma poderosa determinação. Seu beijo é suave e delicado, como se eu fosse algo precioso que a qualquer instante fosse quebrar, ele parece ter medo que eu me afaste, por isso segura firme em minha cintura e braço, mas depois, ao perceber que não irei a lugar nenhum, agarra meus cabelos atrás da nuca e aprofunda o beijo. Um turbilhão de sensações passam dentro de mim. Como se a tempestade lá fora não existisse mais, e o tempo estivesse parado. Agora o único som que ouço é o nosso próprio. Afundo minhas unhas em seu macio cabelo, ele tira meu óculos, possibilitando mais acesso ao meu rosto. Já sem ar, separo nossos lábios. Estou ofegante e ele também, não sinto mais frio. Pelo contrário, um estranho calor nasceu dentro de mim aquecendo até a alma. Sorrio.
- Frio? - pergunta ele.
- Não mais - sorrio. E encosto novamente a cabeça no seu musculoso peito que sobe e desce devido ao esforço. Fico feliz por estar escuro, não quero que me veja tão vulnerável assim. Meu sorriso desaparece quando me vem o choque de realidade. Eu não deveria ter feito isso. Lágrimas mornas escorrem dos meus olhos.
- O que houve? - Jhack me afasta delicadamente para me olhar nos olhos. Limpo minhas lágrimas idiotas, e sorrio.
- Nada não, é só o medo mesmo. - menti.
- Mas não tenha, eu estou aqui, tudo ficará bem. - ajustou-se em mim novamente, abraçando-me. Mas eu sabia que não ficaria bem. Mesmo se viem-se nos buscar, eu jamais conseguira esquecer dessa noite. Por mais que eu queira, eu não conseguiria. Eu sei. Não posso permitir que isso vá em frente. Sou egoísta demais para deixar que algo me magoe novamente.

Como Não se ApaixonarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora