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Estou em casa. Não no apartamento que divido com Gisele, mas em casa mesmo. A casa que cresci, onde agora meu pai mora sozinho. Já faz um tempo que não vinha aqui, e este lugar está imundo! Latas de cerveja no chão, roupas sujas espalhadas por toda a casa, acho até que vi baratas! Sim definitivamente são baratas! Mas o que aconteceu aqui? Onde está aquela charmosa casinha na qual cresci? Oh papai.
Ele acordou ainda no carro, mas tive que ajuda-lo a subir os degraus da escada da frente de casa. Frente que antigamente abrigava um lindo jardim...
Levei-o para o seu quarto e detei-o em sua suja cama. Só agora percebi que seu olho esquerdo está roxo e inchado, pobrizinho, levou um soco daqueles! Oh paizinho o que fazer com o senhor? Semana que vem meu velho faz cinquenta e seis anos. Estava tão empolgada para comemorar junto a ele...
Retiro seus sapatos e sua camisa, e o arrasto para o banheiro, colocando-o debaixo do chuveiro. Ele tem um estranho esparmo mais depois relaxa , e então começa a chorar. Chorar muito. E eu também, não consigo mais segurar tanta dor e decepção, eu o abraço ainda debaixo do chuveiro e levo alguns instantes para me acostumar com a água gelada. Ele me abraça como se me soltasse desabaria.
- Oh paizinho por que acabar com sua vida assim? - falo fungando em seu ombro. Mas ele não responde, apenas fica lá chorando e chorando.
Depois de quarenta minutos consigo levantar e seguir para o meu antigo quarto, deixo meu pai sozinho para que ele pense no que fez e também para se trocar. Não posso voltar agora para o apartamento, já são três e vinte cinco, não há como. Amanhã só começo na terceira aula então dá tempo de passar em casa e me trocar.
Minha cama continua macia como me lembro, os papéis de parede estão   descolando da parede e também estão desbotados. O tapete está gasto, e o espelho do antigo guarda-roupa está velho e cheio de manchas, tudo tão abandonado! Eu precisarei vir mais vezes aqui. Não demoro muito a pegar no sono, o cansaço é maior e me vence.
Acordo sobressaltada com o pesadelo que tive. Ofegante me recomponho e me levanto. Não vou conferir se meu pai ainda está vivo, vou direto para fora e entro no meu carro e disparo para casa. Ainda nem amanheceu, por isso o transito está relativamente bem, chego em casa sem percalços. Tomo um bom e demorado banho, escovo os dentes e visto uma roupa qualquer que encontrei no meu ultrapassado guarda roupa. Faço um rabo de cavalo, retiro as lentes e coloco meu óculos. Desço as escadas tranquilamente como não é de meu costume pois estou sempre atrassada. Bebo uma quantidade generosa de café, belisco umas torradas, mas ainda não sinto fome. De repente minha vontade de viver evaporou! Mas essa não sou eu! Uma mulher centrada como eu não se deixa abater! Com esse pensamento como um pouco mais e olho o relógio em meu pulso que marca sete e trinta. Mas só isso? Já fiz tanta coisa e só se passaram uma hora? Não consigo matar tempo mesmo. Então decido ir para escola mais cedo hoje, pelo menos lá me ocuparei, ainda tenho um monte de provas para corrigir.
É tão bom estar sozinha. A sala designada aos professores está vazia. Pelo visto sou a única aqui que gosta de chegar cedo. Ou não. Estava bom demais para ser verdade. Um professor sorridente com um café nas mãos entra na sala. Sério mesmo que esse homem é um professor? Dúvido que se alguém o visse na rua o reconheceria como um educador. Diriam que se trata de um  modelo, alto e bonitão como tantos outros. As alunas babam por ele, e até mesmo algumas professoras que eu já vi olhando-o de uma maneira meio que diferente. Não sei o que há de mais nele, só vejo um cara de boa aparência que se acha o gênio. Se bem que seus olhos são peculiares, não, não, só impressão minha.
- Bom dia! - falou ele, sentando-se a minha frente.
- Bom dia. - falei sem tirar os olhos da tela do meu computador. Não to afim de papo. Droga! Será que ele vai me importunar com perguntas a respeito do ocorrido de ontem?
- Como ele está? -É acho que vai.
- Perdão? - fiz-me de boba.
- Seu pai. Como ele está? -Hum, pense Cassandra, desvie-se dessa conversa.
- Bem, obrigada. - lancei um leve sorriso.
- Que bom, porque não quero ter que gastar quatro mil dólares de novo - ele rio e eu fiquei estabanada. É isso mesmo? Ele está fazendo piadas em cima do meu pai? - Calma, estou só brincando! - completou ele.
- Não se preocupe, pagarei ainda hoje, é só você me dizer o número da sua conta que eu... - falo pegando meu caderninho e uma caneta.
- Mas o que é isso? - interrompeu ele- Não precisa me pagar nada! Eu só fiz o que tinha que fazer... E se não quiser falar mais sobre isso eu entendo. Ah o que me faltava! Agora ele também é herói e compreensivo.
- Não! Eu insisto! Por favor anote aqui... - Eu me levanto e me apróximo dele o mais distante possível, estendendo o caderninho com a caneta. Ele recusa empurrando minha mão e eu insisto a empurrando de volta, até que minha mão esbarra no seu maldito café que eu não havia reparado que estava ali,  que cai em cima de sua calça jeans quase colada demais.
- Droga! - praguejou ele
- Oh Deus. Perdão! Eu não pretendia...  - peguei um lenço dentro da minha bolsa e me agachei para limpar o líquido em sua coxa direita.
- Estava quente? -perguntei preocupada.
- Ainda bem que não! Se não adeus filhos!
Esfreguei mais ainda, mas não estava adiantando muita coisa. Acho que eu ri, na verdade mais de nervosismo, seria muito constrangedor se...
- Mas o que é isso Srta. Cassandra?! - falou um irritado e vermelho diretor. Arregalei os olhos e rapidamente tentei levantar mais fui barrada pela mesa que agora estava rodando e rodando...   

Como Não se ApaixonarWhere stories live. Discover now