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Arranco- me de sua pegada, recomponho-me e fico ereta demostrando a confiança que não sinto.
- O que você acha que está fazendo aqui?
Ele pensa um pouco, olha para os próprios pés e diz:
- Eu precisava falar com você.
- Nós não temos nada para conversar  Jhack.
- Ah sim! Nós temos sim. Não vai me convidar para entrar?
Olho para ele, olho para dentro, olho para além dele, com uma imensa vontade de joga-lo na rua. Mas um outro lado meu implora para que eu o agarre e o traga para dentro, e jogue na minha cama. Uma voz irritante arranca-me dos meus maldosos pensamentos.
- E então? - Insiste ele.
Suspiro.
- Entre. - Algo dentro de mim diz que isso foi a maior besteira que já fiz. E olha que já fiz muitas, a lista só cresce...
Dou passagem e ele entra. Olha para a minha pequena sala e arqueia uma sombrancelha ao ouvir minha música e ver meu vinho. Passo na sua frente e me sento no sofá, não o convidando, mas como se trata de Jhack ele não precisa de convite. Tenho certeza de que se eu o impedisse de entrar ele entraria de qualquer jeito. Ele senta na outra extremidade do sofá e eu solto o ar aliviada. Quanto mais longe melhor.
Espero ele falar, mas ele parece perdido em pensamentos.
- E então? - Falo impaciente.
Ele me olha. E rapidamente seus olhos encontram os meus. Coro e me levanto para pensar com mais coerência. Ficando de costas para ele.
- Esse vinho, essa música... - Gesticula em direção ao meu vinho na mesinha de centro. - estava esperando por alguém?
Reviro os olhos, mas a onde é que ele está querendo chegar?
- Mas é claro que não! Escuta, acho melhor você dizer logo o que veio fazer aqui por que eu... - Nessa hora ele levanta-se e aproxima-se, agigantando-se sobre mim. Em questão de segundos o espaço entre nós não passa de alguns centímetros. Imediatamente sou envolvida por seu calor aconchegante, seu cheiro selvagem e másculo. Minha boca fica seca e em busca de algo mais, de algo mais dele. É incrível os efeitos que esse homem causa em mim, com uma simples aproximação sua eu já perco o ar, imagine...
- Eu... - Agora sinto sua respiração misturando-se na minha.
E então não há mais nada. Sou possuída por um ser celestial, que me toma facilmente em seus braços, apertando-me contra seu forte peito. Eu busco incansavelmente por seus macios cabelos, mas sou incapaz de saciar-me, quero mais, quero ele só para mim. Nada nunca será o suficiente, eu toco em seus musculosos braços, em seu rosto que está por barbear, suas costas graciosamente perfeitas, sua boca quando momentâneamente se afasta da minha em busca de ar. Ele segura meu pescoço mantendo-me perto, puxa meus cabelos para baixo para ter mais acesso a minha boca, sinto que nada nem ninguém pode nos separar. Agora, aqui, sinto que não há mais diferenças, que agora somos iguais, somos perfeitos, encaixamos um no outro, me sinto...amada.
E então eu choro. Desabo em seus braços e choro, choro quase estericamente,  e sou surpreendida quando Jhack me abraça, enterro meu rosto na sua camisa, encharcando-a com minhas lágrimas. Aperto forte com as unhas sua camisa querendo a todo custo me libertar desse aperto em meu peito. Dessa dor colossal, que queima e dilacera, que faz do meu mundo uma vida limitada e sem graça. Que me obriga a afastar as pessoas que me querem bem. Por muito tempo eu neguei, ou tentei negar sentir qualquer coisa que se assemelhe ao amor, mas agora, agora eu não sei o que se passa comigo. Eu normalmente não beijo apaixonadamente um cara e depois choro em seu ombro.
Ele afaga meus cabelos, assim como fez na caverna, e me embala. Me guia em direção ao sofá e faz eu sentar depois senta-se também, ao meu lado. Fico imensamente envergonhada, olho para o chão querendo sumir, sei que terei que me explicar. Mas ele continua calado. Depois de alguns segundos constrangedores olho para ele. Me observa atentamente com seus magnéticos olhos. Ao invés de um olhar questionador, Jhack parece solidário, com um ar de que não entendeu meu ataque, mas solidário.
Ele espera que eu fale. Mas acontece que eu não sei o que dizer. O que eu poderia dizer? Limpo as últimas lágrimas do rosto.
- Jhack... Bem...me desculpa.
- Você não precisa pedir desculpas.
- Mas olha só sua camisa, parece que você estava tomando banho na chuva. - Ele sorri, isso me alivia um pouco.
- Não me importo com isso.
Ao pronunciar essas palavras, olha diretamente em meus olhos, e volto a sentir a intensidade desse sentimento que teima em aparecer e estabelece-se entre nós. Eu sei o que ele quis dizer, é claro que eu sei. Ele se importa comigo. Mas preciso ouvir isso da sua boca.
- Mas ela é tão branquinha...
- Cassandra eu já disse que não me importo! Pare de falar da minha camisa, posso até tira-la se você preferir. - Coro e olho espantada, e ele rir - É sério. Mas a questão não é essa. - Enruberço. E engulo em seco. Espero ele prosseguir. - Você não precisa mais se esconder Cassandra.
Fico boquiaberta, pasma e sem ação. Acho que notou minha reação e por isso toma a minha mão na sua. Eu nada digo.
- Você acha que sou burro Cassandra? - Eu nunca ouvi alguém falar tanto meu nome, eu gosto disso. - Acha que não percebi o que você tentando fazer? - Eu não respondo, por isso ele me encoraja - Em?
- Eu não sei do que você está falando.
- Claro que sabe. Olhe só para você!
E eu olho obediente, incapaz de falar qualquer coisa.
- Você se esconde atrás desses óculos, dessas roupas, não que eu não a ache linda de qualquer jeito, mas você as usa de propósito, para se esconder.
Espera um pouco, Jhack me acha linda? Essa coisa horrível que sou? E como se estivesse lendo meus pensamentos ele diz:
- Você é linda Cassandra. Mesmo tentando não ser. Você é linda. Tem os olhos mais lindos que já vi, quando olho diretamente neles é como se só existisse a imensidão onde ao longe você é luz, eu busco por essa luz. Não importa o quanto você negue, será que não percebe? O quanto é linda?
Perdi a capacidade de falar. Busco qualquer sinal de mentira, mas nunca vi Jhack falar com tanta sinceridade. Nunca alguem falou assim de mim, eu nunca me senti tão especial. Olho emocionada para ele ainda incapaz de dizer alguma coisa. Já sinto as lágrimas chegando...
- Por favor não chore.
Ele se aproxima mais e toca meu rosto, me deleito com seu toque. Algo dentro de mim desperta, algo a muito adormecido, que hibernou durante três anos. Será meu coração? Como resistir a esse homem? Sorrio para ele.
- Jhack eu nem sei o que dizer...
- Então não diga nada.
Enclina-se e me beija. Desta vez, seu beijo é mais carinhoso, carregado de ternura e compreensão.

Como Não se ApaixonarDonde viven las historias. Descúbrelo ahora